quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Editoriais Folha de São Paulo

FOLHA DE SÃO PAULO

Pax paulista
Medidas anunciadas em conjunto por Alckmin (PSDB) e Haddad (PT) beneficiam população de São Paulo, mas miram as eleições de 2014
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), anunciaram uma série de parcerias entre as duas administrações, no que parece ser um passo rumo a uma coexistência pragmática.
O pacote envolve a construção de moradias sociais, creches, corredor de ônibus e piscinão, além de outras ações conjuntas nas áreas de segurança pública, iluminação e combate a enchentes.
Circunscrita ao plano das políticas públicas, a aproximação é decerto elogiável, especialmente por São Paulo ser palco de uma disputa histórica e acirrada entre as legendas do governador e do prefeito.
Mas o encontro também ajuda a compor o figurino eleitoral de ambos para 2014.
Ninguém desconhece o significado que uma inédita conquista do Bandeirantes teria para o ex-presidente Lula e seu partido -e o êxito de Haddad na prefeitura é estratégico tendo em vista esse objetivo.
Garimpar recursos estaduais, assim, é um movimento crucial para o sucesso de uma cidade endividada e com restrições orçamentárias para fazer novos investimentos.
Alckmin, por sua vez, reedita a bem-vista parceria com a presidente Dilma Rousseff e cria uma agenda positiva para seu governo. Obviamente não interessa ao tucano ser visto como um político que, em nome de interesses partidários ou ambições pessoais, boicota a prefeitura da capital.
Não é demais lembrar que, na campanha eleitoral do ano passado, petistas e tucanos se viram ameaçados por um discurso que apregoava o fim da hostilidade entre os partidos -Celso Russomanno (PRB) e Gabriel Chalita (PMDB) apostaram nessa via e alcançaram considerável sucesso nas urnas.
Se Alckmin e Haddad colaboram um com o outro, a tendência é que também evitem desgastes desnecessários em contendas vindouras -pelo menos no horizonte próximo. Já no encontro de anteontem, ambos tomaram o cuidado de silenciar sobre assuntos que opõem as duas administrações.
Silenciaram, por exemplo, quanto à revisão da inspeção veicular -bandeira de Haddad- e à internação compulsória de dependentes químicos -implantada por Alckmin na cracolândia, na região central da cidade.
Não que esses temas sejam de menor importância. Ao contrário, sensibilizam boa parte da população. Para Alckmin e Haddad, porém, não são convenientes.
Nenhum acordo, por certo, eliminará a rivalidade e evitará o confronto acerbo entre petistas e tucanos nas próximas eleições. Mas, ainda que impelida pelo calendário político, a parceria resulta proveitosa para a cidade.



EDITORIAIS
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Os malabaristas
Enquanto a presidente Dilma Rousseff organiza encontros com empresários nacionais, a fim de reconquistar a confiança na política econômica, assessores do Planalto atuam no sentido contrário.
As manobras e os malabarismos oficiais, que têm disseminado descrédito entre os agentes econômicos, ameaçam mais uma vez o chamado superavit primário.
Em 2012, essa conta da poupança pública -que computa tudo o que é arrecadado e gasto, exceto as despesas com juros- só foi fechada à base de maquiagem. Decretaram-se receitas fictícias, frustrando, assim, o objetivo original do mecanismo, que é inibir a escalada da dívida do governo.
Cogita-se agora livrar Estados e municípios da obrigação, até hoje partilhada com a União, de gastarem menos do que arrecadam.
Em caso de descumprimento da meta estadual e municipal de economia, as regras atuais mandam o governo federal completar a poupança, a fim de que se atinja o resultado global -no ano passado, fixado em 3,1% do PIB.
A ideia em gestação em Brasília é acabar com a obrigação de ressarcimento. Na falta da compensação, a medida vai reduzir, na prática, o superavit do país como um todo -a Estados e municípios tem cabido 30% da meta de poupança.
Deplora-se, mais uma vez, a escolha de um método tortuoso para escamotear fracassos. Se o governo Dilma julga excessiva a meta de superavit primário, deveria expressá-lo de forma transparente.
A melhor atitude, porém, seria deixar os subterfúgios de lado e pôr-se a cumprir à risca a poupança de 3,1% do PIB, no mínimo. O perigo de um galope da dívida pública, que compeliu à adoção do superavit primário a partir do final dos anos 1990, já está afastado.
Mas o que hoje justifica a necessidade de manter -e até de incrementar- os freios nos gastos e na arrecadação dos governos é algo ainda mais importante. Pode-se dizer, sem risco de exagerar, que a continuidade do desenvolvimento econômico brasileiro depende de que as despesas dos governos subam mais devagar que o PIB.
Esse é o único meio de desafogar o setor privado de um volume de tributos oceânico, que inibe o investimento e o crescimento mais acelerado da economia -e ajuda a tornar o Brasil caro e pouco competitivo no cenário global.
O surto de inventividade contábil na administração Rousseff não fará o capital brotar de cartolas. Mas está fazendo desaparecer a confiança na política econômica, combustível imaterial, mas poderoso, do crescimento.

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