sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Haddad e EUA nos Editoriais da FolhaSP


Fôlego novo
Após o pessimismo de 2012, o ano começa num cenário econômico menos caótico, com sinais positivos na China, na Europa e nos EUA
O fim do mundo supostamente previsto no calendário maia não amedrontou muita gente, mas o cataclismo na economia foi o grande tema dos mercados em 2012. Catástrofes de toda sorte estiveram na pauta, do colapso da China à derrocada do euro, de um novo choque do petróleo à crise alimentar.
O ano de 2013 começa, no entanto, com certa confiança de que o pior não se avizinha. Ao contrário, houve progressos marcantes, especialmente na Europa, que sugerem uma recuperação incipiente da economia mundial e um risco menor de cenários extremos.
Na China, consumada a transição de poder, já aparecem sinais de retomada, com aceleração do investimento público e novas altas nos preços de commodities. O crescimento chinês volta ao ritmo de 8% ao ano -que, se espera, será mantido até meados de 2013.
A Bolsa chinesa, que acumulava queda significativa, subiu 13% em dezembro, indício de que a confiança melhorou. Persistem as dificuldades de ajustar a economia para ancorá-la no consumo privado, mais que no investimento estatal, mas a perspectiva de desaceleração ainda maior foi afastada.
Na Europa, as autoridades chegaram, aos trancos e barrancos, a uma fórmula para conter o risco de curto-circuito financeiro na periferia do euro. A disposição do Banco Central Europeu de intervir em mercados de títulos públicos de países comprometidos com programas de ajuste indica que não haverá grandes quebras.
Mesmo assim, a recessão continua. O PIB europeu completou o terceiro trimestre consecutivo de queda e se espera estagnação em 2013. Permanece o risco político de agremiações extremistas em países fragilizados pelo desemprego, como a Grécia. É um cenário ruim, mas ao menos se ganha tempo para ajustes enquanto a união monetária se recupera e se aprofunda.
Do lado dos Estados Unidos, as dificuldades foram, ao menos por ora, debeladas pelo acordo que evitou o chamado abismo fiscal. A questão de fundo sobre os limites para o endividamento público, porém, ainda não foi resolvida -a votação ficou para março.
Em que pesem algumas incertezas, os Estados Unidos têm mostrado desempenho razoável, com crescimento próximo a 2%. É um ritmo insuficiente para grandes ganhos de renda, mas fica longe de ser uma catástrofe.
No geral, o cenário para o primeiro semestre parece animador, a despeito dos efeitos ainda doídos da crise. Há razão para discreto otimismo, temperado na consciência dos percalços que subsistem pelo caminho.

    Enxurrada de medidas
    Embora nada original, é ainda assim louvável a iniciativa do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), de inaugurar sua gestão com um pacote de 16 medidas para enfrentar as enchentes. Segundo a pesquisa DNA Paulistano, feita pelo Datafolha em 2012, as cheias são o problema cuja percepção mais piorou na cidade nos últimos quatro anos.
    As chuvas de verão são, há décadas, causa de transtornos para a população. É compreensível que o desempenho diante desse desafio venha sendo o fiel da balança para a popularidade do prefeito nos primeiros cem dias de governo. Não surpreende que os ocupantes do cargo costumem priorizar esse tema no início dos mandatos.
    Essa vontade de poder, contudo, frequentemente se dilui à medida que a burocracia converte tal combate em mera rotina realizada com indiferença pela sorte dos moradores afetados pelas chuvas.
    Convém recordar que as antecessoras petistas de Haddad no Executivo municipal começaram suas gestões com a mesma prioridade.
    Em 1988, uma semana antes de assumir, Luiza Erundina visitou as áreas mais atingidas e criou um grupo de trabalho para prevenir as inundações. Em 2000, duas semanas antes da posse, Marta Suplicy exigiu atenção às bocas de lobo. Tanto Erundina como Marta, porém, concluíram seus mandatos mal avaliadas nesse quesito -fator que pesou nas derrotas do PT em 1992 e em 2004.
    As propostas de Haddad não diferem muito do padrão habitual de procedimentos, mas há inovações que parecem promissoras. A Secretaria das Subprefeituras, responsável pela limpeza das bocas de lobo, não só vai intensificar seu trabalho nos locais críticos como também atuará em conjunto com a Secretaria de Serviços, que coordena a varrição da cidade. Essa parceria não vinha ocorrendo.
    A prefeitura também vai pedir às empresas de limpeza que instalem contêineres nas áreas de comércio popular (Bom Retiro, Brás, Pari, Santa Ifigênia e 25 de Março) para facilitar o recolhimento do lixo que tem entupido os bueiros.
    Haddad disse ainda que firmará contrato com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas para monitorar diariamente as 93 áreas de alto risco da cidade no período chuvoso.
    Todas as iniciativas objetivam melhorar a gestão do problema, mas nenhuma delas constitui medida estrutural para resolvê-lo. Como plano emergencial, o anúncio de Haddad é bem-vindo -desde que efetivamente implantado e fiscalizado. Mas os paulistanos esperam que, ao longo de seu mandato, o novo prefeito substitua os paliativos por soluções definitivas.

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