segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

HC interna superobesos por cinco meses antes de cirurgia

folha de são paulo

Objetivo é fazer paciente perder peso e evitar complicações pós-operatórias
Sem a internação, risco de problemas graves após redução de estômago chega a 7% entre os superobesos
CLÁUDIA COLLUCCIDE SÃO PAULOSuperobesos mórbidos estão sendo internados por 20 semanas, em média, para que percam peso antes da cirurgia de redução do estômago.
É uma nova estratégia adotada pelo Hospital das Clínicas de São Paulo para evitar complicações pós-operatórias graves em pacientes que chegam a pesar quase 400 kg.
São consideradas superobesas pessoas com IMC (Índice de Massa Corporal) acima de 50 (veja quadro acima). Elas têm problemas cardiorrespiratórios, vasculares e de coagulação que elevam o risco de morte.
"É uma catástrofe. Muitos não andam, não saem da cama, têm artrose grave e dependem de oxigênio", diz o médico Daniel Riccioppo, da Unidade de Cirurgia Bariátrica e Metabólica do HC.
Não há estimativas do número de superobesos mórbidos no país, mas, no HC, eles são 30% dos 1.800 pacientes que aguardam para serem operados. O tempo médio de espera é de três anos.
Se não emagrecem, o risco de complicações graves (sangramento, infecções, tromboembolismo pulmonar e trombose) chega a 7%, e o de morte, 0,6%, segundo estudo com 156 superobesos do HC.
Estudos apontam que, se o obeso perde de 5% a 20% do peso antes da cirurgia, há uma redução do fígado e da gordura acumulada no órgão.
"Um fígado menor tem menos sangramento, dá mais espaço para a gente operar e isso facilita a cirurgia no estômago", afirma Riccioppo.
INTERNAÇÃO
A regra número um do serviço é: todo obeso mórbido precisa perder peso antes da cirurgia. Os que não emagrecem em casa podem ficar por duas semanas na enfermaria do HC, onde ingerem até 800 calorias por dia.
Já os superobesos vão para o Hospital de Retaguarda de Suzano, ligado ao HC, que tem hoje seis leitos para esse fim -a fila de espera é de 60 pessoas, em média. "Com 20 semanas de internação, eles perdem 20% do peso. Isso é suficiente para reduzir os riscos", diz o médico.
Após quatro meses internada, Marli Matos dos Santos, 53, já perdeu 23 kg dos seus 153 kg. Faltam pelo menos sete para a cirurgia.
"Minha netinha me liga todas as semanas e pergunta: 'E aí vó, quantos quilos você conseguiu emagrecer?"
O sucesso da estratégia pode ser constatado em um estudo que o HC está prestes a publicar: em 20 casos de superobesos operados após internação, não houve complicações graves nem morte.
Quem pode pagar diárias de R$ 600, em média, recorre a spas para emagrecer antes da cirurgia.
"Não é só perder peso. É tomar consciência de que, no primeiro mês do pós-cirúrgico, a dieta será líquida e que, depois, vai ter de comer feito passarinho", diz Lucas Tadeu Moura, endocrinologista do Spa Med, em Sorocaba (SP).
Lá, os pacientes são avaliados por endocrinologista, nutricionista, psicólogo e fisioterapeuta para tentar mudar hábitos de vida.
Moura afirma, no entanto, que muitos "querem operar para continuar comendo".
"Eles não encarnam o pensamento magro. Por isso, muitos voltam a engordar."

    "Precisei ficar 'presa' no hospital para parar de comer"
    DE SÃO PAULO
    Em 15 anos, Tânia Brito Caetano, 1,55 m, ganhou 120 kg. Ela pesava 63 kg aos 14 anos, quando engravidou da primeira filha. Ao final da gestação, atingiu os 100 kg e não parou mais.
    Em novembro, aos 29 anos e 183 kg, foi internada em Suzano para se preparar para a cirurgia bariátrica. Ela já perdeu 20 kg. A seguir, trechos do seu depoimento.
    (CC)


    FRASE
    "Lavava as roupas e as louças sentada, tomava banho sentada, tinha uma cadeira que me acompanhava pelos cômodos da casa"

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