segunda-feira, 11 de março de 2013

Ruy Castro

folha de são paulo

Embuçados nas bandeiras
RIO DE JANEIRO - Ao fim de um jogo, um torcedor do Flamengo reconheceu o presidente do clube, o empresário Fadel Fadel, no estacionamento do Maracanã. Cansado dos maus resultados do time, abordou-o: "Seu Fadel, o senhor é um homem rico, tem seus negócios, seu carro, sua mulher. Eu só tenho o Flamengo. Queria lhe pedir um favor". Pressentindo a facada, Fadel já ia enfiando a mão no bolso quando o homem completou: "Por favor, seu Fadel. Cuide bem do Flamengo".
Isso foi em 1962, e o torcedor era um homem humilde, grisalho, de meia-idade. Ao falar com o presidente de seu clube, sabia que lhe devia respeito. Fosse hoje essa abordagem, o torcedor seria muito mais jovem, provavelmente tatuado e de touca, e o cartola estaria sujeito a insultos, ameaças, talvez até a alguns cachações. Nesse meio século, o país pode ter mudado para melhor, mas as torcidas pioraram muito.
Nos últimos anos, torcedores com barras de ferro invadiram os domínios dos clubes, no Rio e em SP, para agredir jogadores, treinadores e dirigentes, depredar instalações e amassar carros. Faixas assustadoras foram estendidas e os craques dos times, achacados e perseguidos na rua. É o terror. Batalhas entre torcidas rivais, perto ou longe dos estádios, ficaram comuns, com casos de morte. E a chegada ou partida de um clube -perdedor ou vitorioso- para um jogo fora de sua cidade é promessa de vandalismo no aeroporto.
Os torcedores convenceram-se de que, em massa, podem tudo, mesmo em terra estrangeira. Embuçados em suas bandeiras, acham natural apontar um sinalizador contra a torcida local e disparar, indiferentes às consequências.
A continuar assim, nenhum torcedor decente se animará a voltar a um estádio. Não admitirá ser confundido com aqueles que, embora ostentem as mesmas cores de sua paixão, são seus boçais dessemelhantes.

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