domingo, 28 de abril de 2013

Clovis Rossi

folha de são paulo

Brasil, colônia da China
Industriais, incomodados com uma concorrência desleal, demonstram que não há uma real parceria
Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade Columbia e professor do Ibmec, fez a seguinte comparação em artigo recente: "O comércio com a China aumentou dez vezes na última década. Mas tal expansão foi impulsionada principalmente pelo crescimento dramático da China e seu resultante apetite voraz por commodities minerais e agrícolas em que o Brasil tem vantagens comparativas.
O resultado? Uma tonelada de exportações brasileiras para a China vale cerca de US$ 200. Uma tonelada de exportações chinesas para o Brasil vale mais do que US$ 2 mil. Isso dificilmente poderia ser chamado de parceria".
Tem razão. É muito mais uma relação colonial, o que causa tremendo incômodo à indústria brasileira, até porque 63% dos exportadores queixam-se à CNI (Confederação Nacional da Indústria) de prejuízos com a concorrência chinesa.
Natural, portanto, que a entidade decidisse encomendar um estudo sobre a política industrial chinesa ao escritório King & Spalding, que habitualmente presta consultoria aos governos norte-americano e mexicano quando o assunto é China.
As conclusões põem números nessa relação de tipo colonial. São dados relativamente conhecidos, mas apresentados em conjunto impressionam muito. Cito apenas dois de uma vasta coleção:
O Brasil exporta para a China apenas 7,6% de produtos considerados de alta tecnologia, mas importa 41,4% nessa rubrica.
Já em commodities primárias (produtos típicos de colônia), as exportações brasileiras saltam para 31,6%, enquanto os chineses vendem ao Brasil só 1,6% nessa área.
Conclusão inescapável do relatório: "Esse padrão levou à preocupação no Brasil e em outros países de que a predominância da China nas manufaturas pode levar à desindustrialização em seus parceiros comerciais".
É uma situação que incomoda também o governo tanto que, na agenda de sua visita à China, já faz dois anos, Dilma Rousseff reivindicou uma mudança na qualidade do comércio.
Passados dois anos, o relatório divulgado agora pela CNI demonstra que a reivindicação não produziu mudança alguma.
Nem vai haver mudança, prevê o documento: "Apesar da adoção de políticas orientadas pelo mercado, no fim dos anos 70, o governo da China continua, em todos os níveis, a exercer substancial influência sobre o setor industrial. Os subsídios para indústrias são substanciais, e essa subsidiação tem provavelmente causado danos às indústrias brasileiras concorrentes tanto no mercado doméstico como nos de exportação".
O escritório recomenda que o Brasil recorra à Organização Mundial de Comércio para propor "ações apropriadas", em vista do que leva todo o jeito de ser concorrência desleal, já que a indústria brasileira está, na verdade, competindo com o portentoso Tesouro chinês, não apenas com as suas congêneres.
Resta ver se o governo Dilma terá a coragem de peitar a China para tentar reconduzir a relação para a parceria, em vez de um neocolonialismo.

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