domingo, 28 de abril de 2013

Suzana Singer - Folha Ombudsman inicia quarto mandato inédito na Folha

folha de são paulo

Ombudsman inicia quarto mandato inédito na Folha
Jornal tem função de representante dos interesses dos leitores desde 1989
Para Suzana Singer, momento mais difícil na função em 2012 foi o julgamento do caso do mensalão
DE SÃO PAULOPela primeira vez, um ombudsman cumprirá um quarto ano de mandato na função, na Folha. A jornalista Suzana Singer, 47, em comum acordo com o jornal, iniciou na última quinta-feira seu novo período como representante dos interesses dos leitores.
Singer vê a inovação com bons olhos, "porque permite consolidar o trabalho" e identificar "vários pontos que precisam ainda ser abordados".
Ela se considera privilegiada por poder acompanhar, da posição, "as mudanças na imprensa, no Brasil e no mundo", que estão acontecendo em grande velocidade. "Gosto muito deste trabalho", diz.
Por outro lado, anota que "é importante que haja renovação". Cita que, em jornais no exterior, há profissionais que ficam na função por até 15 anos, "o que impede um arejamento de ideias".
INTERAÇÃO
No último ano, relata Singer, o momento mais difícil na função foi o julgamento do mensalão, pelo acirramento nos ânimos políticos.
"É difícil manter a frieza na análise do que está sendo publicado diante de uma verdadeira guerra ideológica, de direita e de esquerda, que se trava na internet", diz.
Avalia que "o contrapeso à grande imprensa feito por blogs é salutar", porém, "muitas vezes, a última coisa que está em jogo é a verdade: aposta-se na confusão".
Singer relata que hoje, no cotidiano da função, "é importante acompanhar as discussões nas redes sociais e também ler os comentários nos textos do site", não bastando mais receber os e-mails dos leitores.
A ombudsman tem perfis no Twitter e no Facebook, com propósito principal de responder aos leitores. Também telefona semanalmente para formadores de opinião, de empresários a artistas.
Essa atividade é importante, diz, "porque o leitor que procura o jornal para comentar é uma parcela pequena, geralmente um consumidor heavy' [pesado] de mídia".
OUTRO ANDAR
Singer elogia a atuação da nova ombudsman do "New York Times", Margaret Sullivan, com presença constante nos debates de mídia social.
"Ela tem feito um ótimo trabalho, corajoso e ágil, discutindo rapidamente os principais questionamentos que surgem sobre o jornal", diz.
Por outro lado, questionada sobre o fim da função de ombudsman no "Washington Post", após 42 anos, comenta que é difícil acreditar que seja efeito da crise financeira do jornal, pelo baixo custo relativo do cargo.
"É uma pena, mas muitos veículos têm usado a desculpa da crise para acabar com as posições de ombudsman, o que significa menos transparência e menos prestação de contas", diz.
A Folha tem ombudsman desde setembro de 1989. No país, além do jornal, só tem a posição "O Povo", de Fortaleza (CE), e a Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Casada e com dois filhos, Julia, 10, e Miguel, 7, Singer lembra, por fim, que "muita gente pergunta onde fica fisicamente o ombudsman: eu fico numa sala separada da Redação, em outro andar".

    Queridos, encolhi o jornal
    Mudança no "Estadão" traz à tona discussão sobre qual o tamanho ideal do impresso na era da internet
    O principal concorrente da Folha, que se orgulhava de ser "muito mais jornal", diminuiu. Desde segunda-feira passada, o "Estado de S. Paulo" está circulando com menos cadernos.
    O "Metrópole", que trata dos assuntos de São Paulo, e o "Esporte" foram incorporados ao Primeiro Caderno durante boa parte da semana. Vários suplementos, como o literário, o infantil e o de informática, foram eliminados ou viraram seções ampliadas.
    Aos domingos, o "Estadão" promete manter um conteúdo maior e fazer jus ao seu apelido. O enxugamento foi anunciado como "a maior menor mudança" que o jornal já teve, num slogan tão constrangedor quanto a campanha na TV.
    Uma mulher fala em alta velocidade sobre tudo o que o jornal cobre durante a semana e garante que ficará agora mais fácil "entender" o que está acontecendo. Em seguida, o marido, em voz arrastada, diz que, no domingo, quando há tempo suficiente para "ler e reler", haverá notícias exclusivas e novas seções -a única citada é uma de fotos.
    Nem Don Draper, o sexy gênio criativo de "Mad Men", teria se saído bem diante da missão de convencer o leitor de que ele está recebendo menos jornal, pelo mesmo preço, mas que isso é uma vantagem.
    A diminuição do espaço editorial não é, porém, prerrogativa do "Estado". A Folha vem emagrecendo ao longo dos anos, só que de modo mais suave e preservando a divisão de cadernos. No anúncio da última grande reforma gráfica, em 2010, já se falava em "textos sintéticos e analíticos em pouco espaço".
    O argumento para enxugar é que o tempo do leitor está cada vez mais curto, o que é facilmente verificável. O dia teima em continuar com 24 horas, mas agora, além de ler jornal, é preciso checar os aplicativos no celular, dar uma espiadinha nos sites de notícia e também nas redes sociais -só para ficar em algumas das invenções disseminadas na última década.
    Como bem definiu um leitor da Folha recentemente, "há tanta informação disponível que dá até uma indigestão jornalística".
    O que não se diz ao público é que o enxugamento, "para o seu próprio bem", visa cortar custos de papel, de mão de obra (jornalistas) e de tempo de gráfica.
    As edições de sábado da Folha, nas quais se desdobram cadernos, mostram que a defesa do jornal compacto fica de lado sempre que é necessário atender as exigências do mercado publicitário. No último dia 20, havia "Poder 2", "Mundo 2", "Cotidiano 2" e "Mercado 2", num jornal com 40 anúncios de imóveis.
    O dilema para os jornais hoje, e não só no Brasil, é encontrar um novo ponto de equilíbrio. Se as pessoas têm pouco tempo para ler, vamos escrever menos, mas, se o jornal ficar fino e superficial demais, para que comprá-lo, já que há informação de graça na rede?
    Nos EUA, onde a perda de receita publicitária do impresso é dramática, a discussão sobre o futuro dos jornais se faz mais premente. Lá, as energias se concentram na tentativa de rentabilizar os sites, fazendo o possível para convencer os internautas de que vale a pena pagar por notícia de qualidade.
    É o que o "New York Times", ao anunciar mais uma queda de lucro, chamou de "reposicionamento da empresa para a era digital".
    Talvez o caminho do futuro seja mesmo no sentido de um jornal cada vez mais sintético, mas é um percurso bastante perigoso, a ser percorrido com toda a cautela.
    Oferecer menos conteúdo precisa ter necessariamente como contrapartida uma melhoria significativa na qualidade do que é publicado. Poucos assuntos, mas apurados com precisão e profundidade e editados com inteligência. Se não for assim, estaremos apenas apressando o passo rumo à irrelevância.

      Nenhum comentário:

      Postar um comentário