quinta-feira, 23 de maio de 2013

Eduardo Almeida Reis - Motel‏

Tivesse a Esplanada dos Ministérios meia dúzia de arrumadeiras de motéis, este país grande e bobo já seria a primeira economia do mundo


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 23/05/2013 

Pensado pelos norte-americanos como hotel para simplificar a vida dos que viajam de automóvel, o estabelecimento evoluiu, no Brasil, como local que aluga quartos para encontros amorosos. Bill Gates, marido de Melissa, cavalheiro puro de sentimentos, diz em seu dicionário: Motorists’ hotel, a hotel intended to provide short-term lodging for traveling motorists, usually situated close to a highway and having rooms accessible from the parking area. Diz ainda que a palavra foi criada no princípio do século 20: blend of motor + hotel. Todo brasileiro sério conhece blend dos rótulos dos uísques: é mistura ou misturar. E aqui temos a primeira contradição moteleira em nosso lindo país: senhora da minha afeição tinha consultório em Belo Horizonte com vista para a entrada de movimentado motel. Durante o dia, segundo me contou, era bem maior a entrada de automóveis sem blend, do que veículos conduzindo homem e mulher.

De seu posto de observação involuntária, a doutora notou que entravam mais carros com dois homens, ou com duas mulheres, do que veículos conduzindo um casal daqueles que existiam no tempo de antigamente. Algo me diz que esta crônica vai longe, mas não tem nada: a gente divide em duas ou três, porque é assunto de interesse geral, sobretudo para um amigo nosso que morou, literalmente residiu cinco anos num motel, chegando cedo e saindo ao cair da noite, bandalho que era.

Primeiro problema: nas regiões de clima frio, cobertor de motel é um problema. Banheiros, lençóis, toalhas e pisos as arrumadeiras limpam e trocam num átimo, mas cobertor é de uma imundície que vou te contar. Arrumadeira de motel desmente a crença de que o brasileiro não é eficiente, produtivo, trabalhador, rápido, dinâmico. Tivesse a Esplanada dos Ministérios meia dúzia de arrumadeiras de motéis, este país grande e bobo já seria a primeira economia do mundo.

Nasci no Rio, onde só havia um motel, o Trampolim do Diabo, na pista que subia o morro em que hoje existe a Favela da Rocinha. Pista que servia para as corridas de Fórmula 1, com Fangio, González, Carlo Pintacuda e muitos outros. Motel singular, porque você estacionava no pátio e procurava o apartamento que estivesse de porta aberta e luz acesa, sinal de que estava “limpo” e disponível para o casal recém-chegado. Bebidas e comidas eram pedidas tocando uma campainha, sem telefones ou interfones. O garçom batia na porta para anotar a encomenda. E a gente vivia.

Muitos hotéis normais exigiam – pasme o leitor – certidão de casamento. Parece mentira, mas é a mais pura verdade e não foi há mil anos. Maridos sérios, sozinhos ou em sociedade com amigos, mantinham graçonnières, pequenos apartamentos destinados a encontros amorosos, com todos os percalços imagináveis: limpeza, troca de lençóis e toalhas, chaves em duplicata e aviso aos sócios sobre os horários que seriam ocupados num determinado dia. Amanhã conto o resto, ok?


Porecamecra
Procurando nos dicionários porco monteiro, isso é, porco doméstico que se asselvajou, encontrei porecamecra e berrei: “Isto dá samba!”. Não havia definição para porecamecra, mas explicação: o mesmo que purecamecra. Melhorou: talvez fosse purê de camecra. Fui ao Google, porque é inadmissível que um cavalheiro de certa idade não saiba o que é porecamecra, sobretudo depois de aprender que os substantivos e os adjetivos de dois gêneros são relacionados com o Maranhão, glorioso estado brasileiro pertencente ao acadêmico José Sarney. Eis a explicação do abençoado buscador: Macro-Gé (Macro-Jê), velika jezicna porodica amerièkih Indijanaca raspršena po velikim predjelima tropske Ju%u017Ene Amerike. Velika porodica dobiva ime po porodici Gé, kojoj su još pridodane druge porodice, to su , prema Masonu (1950):1. Ge, 2. Caingang, 3. Camacán, 4. Mashacalí, 5. Purí (Coroado), 6. Patashó, 7. Malalí 8. Coropó. Davis (1968): 1. Jê 2. Maxakalí 3. Karajá 4. Jeikó 5. Ofayé 6. Kamakan 7. Purí (Coroado) 8. Botocudo 9. Borôro (?) 10. Fulniô Greenberg 1987 u nju klasificira porodice: 1. Bororo, 2. Botocudo, 3. Caraja, 4. Chiquito, 5. Erikbatsa, 6. Fulnio, 7. Ge-Kaingang 8. Guató, 9. Kamakan, 10. Mashakali, 11. Opaie, 12. Oti, 13. Puri, 14. YabutíPrava Gé porodica bez Cainganga, grana se na. Aí é que está: informado de que YabutíPrava Gé porodica bez Cainganga, grana se na, tirei nossos times de campo, o meu e o do caro e preclaro leitor de Tiro e Queda.


O mundo é uma bola
23 de maio de 1498: por ordem do papa Alexandre VI, o dominicano Girolamo Savonalora é condenado e queimado em Florença, Itália. Bem feito, para deixar de ser talentoso, estudioso de medicina e filosofia: fogueira nele! Em 1533, anulado o casamento de Catarina de Aragão com Henrique VIII, um ingrato. Além de cortar e costurar as camisas do rei da Inglaterra, Catarina era fluente em espanhol, latim, grego e francês, antes de aprender inglês. Ninguém anula casamento com mulher que faz camisas e fala grego e latim. Em 1707, nasceu Carl von Linné ou Carolus Linnaeus, botânico, zoólogo e médico sueco, o pai da taxonomia moderna.


Ruminanças
“As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado.” (Nelson Rodrigues, 1912–1980)

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