quinta-feira, 23 de maio de 2013

No Brasil para lançar 'Diário de um Banana 7', autor Jeff Kinney comenta a série infantil

folha de são paulo

RAQUEL COZER
COLUNISTA DA FOLHA

Jeff Kinney viu com desconfiança, em 2009, sua seleção pela revista "Time" como uma das cem pessoas mais influentes do mundo. Não era nem a pessoa mais influente de sua própria casa, argumentou o americano, casado e pai de dois meninos.
A reação irônica é algo reveladora sobre o autor e sobre a série que o fez merecer tal reconhecimento, "Diário de um Banana", um dos maiores best-sellers do mundo hoje.

Aos 42 anos, com 75 milhões de livros vendidos desde 2007 --sendo 2,1 milhões no Brasil, onde estreou em 2008 pela Vergara & Riba--, Kinney conhece um sucesso que de fato não esperava.

Jeff Kinney

 Ver em tamanho maior »
Rodrigo Capote/Folhapress
AnteriorPróxima
O escritor Jeff Kinney, autor do fenômeno infantojuvenil "Diário de um Banana", no hotel da zona sul de São Paulo
Passou oito anos criando o "Diário" como uma obra em quadrinhos para adultos. Quando enfim conseguiu uma editora, descobriu que tinha produzido um livro infantil.
Sua criação é um híbrido de HQ com o diário de um garoto, Greg Heffley, em busca de aceitação social --uma espécie de Kevin Arnolds, protagonista da série de TV "Anos Incríveis (1988-1993), mais tímido e atrapalhado.
"Tinha 'Anos Incríveis' em mente quando criei o 'Diário', porque era sobre a realidade das crianças, mas sob o ponto de vista de um adulto", disse o autor em entrevista à Folha, na terça-feira (21), em São Paulo.
Em sua primeira visita ao Brasil, confortável na condição de autor de infantis, Kinney visitará escolas e fará tardes de autógrafos no Rio e em São Paulo --a edição paulistana será nesta quinta (23), às 17h, na Livraria Saraiva do Morumbi.
Veio lançar "Segurando Vela", o sétimo livro da série, que saiu no país com 200 mil cópias há menos de um mês e já vendeu 42 mil delas. Isso lhe deu o terceiro lugar entre os best-sellers do site sobre mercado editorial Publishnews, cuja lista reúne todos os gêneros, incluindo adultos.
O sétimo "Diário de um Banana" fica atrás apenas de "Kairós" (Principium), do padre Marcelo Rossi, e do também infantojuvenil "A Marca de Atena" (Intrínseca), de Rick Riordan.
Pode ser um sinal de que crianças e adolescentes leem mais do que adultos --as listas infantojuvenis tendem a ter os melhores números de vendas--, mas também de que Kinney acabou abraçando parte do público adulto que imaginava inicialmente.

'Não gosto de moralizar', diz Jeff Kinney
Para autor, 'Diário de um Banana' faz sucesso porque respeita a capacidade de compreensão das crianças
Americano afirma que treinou a pensar como um garoto 'em idade narcisística' para criar protagonista da série
DA COLUNISTA DA FOLHANuma história de "Diário de um Banana", o garoto Greg Heffley se compadece de um colega que maltrata os mais fracos na escola. Em tempos de discurso antibullying, o valentão se sente acuado.
Essa é só uma das abordagens irônicas do americano Jeff Kinney, que credita o sucesso da série à ausência de um tom moralizante. "As crianças sabem ser sofisticadas se dermos crédito a elas." Leia trechos da entrevista do autor.
(RAQUEL COZER)
-
Folha - Você criou "Diário de um Banana" pensando em leitores adultos. O que mudou ao descobrir que o público era prioritariamente infantil?
Jeff Kinney - Eu me sinto mais responsável. Mudei um pouco o tom, sabendo que posso influenciar crianças.
Por exemplo, quando tinha 12 ou 13 anos, eu assistia a filmes adultos sem meus pais saberem. Queria reproduzir isso com o Greg, mas achei melhor não arriscar.
Mas a série continua fora do padrão de livros infantis, não?
Meus livros são meio niilistas. Não gosto de moralizar. Quero que os leitores tirem suas próprias conclusões. Crianças sabem ser sofisticadas se dermos crédito a elas.
Elas percebem quando tentam forçar a moral. Por isso dão um salto grande quando param de ver programas como "Barney e Seus Amigos". O "Diário" funciona porque as crianças não notam o adulto por trás do personagem.
Personagens perdedores têm estado em alta nos últimos anos, com filmes como "Superbad" e séries como "The Big Bang Theory". O "Diário" se encaixa nesse cenário?
Acho que sim. Não que eu tenha sentado para escrever sobre bullying, mas escrevo sobre um perdedor. As crianças podem tirar uma mensagem de aceitação, de que não é preciso ser bravo ou forte para estrelar a história.
Mas trato o bullying com um toque delicado. Na verdade, até tiro sarro dessa forte mensagem antibullying.
Se não forem supervisionadas, crianças podem ser cruéis. Muita gente criticou Charlie Schulz [criador do Snoopy] porque as crianças das tiras dele eram más. Ele dizia: Mas crianças são más'. Vejo isso o tempo todo. Elas magoam umas às outras de um modo como adultos em geral não fazem.
Como se lembra com tanta riqueza de detalhes as impressões de um pré-adolescente?
Sempre me surpreendo com gente que não consegue se lembrar de sua infância, e descobri que muita gente de fato não guarda detalhes desse tempo. Foi divertido mergulhar em lembranças. Passei quatro anos só escrevendo tudo o que podia recordar da minha infância.
Não foi meio deprimente?
Sim [risos]. Greg vive uma fase estranha. Treinei a pensar como criança de novo, aquela idade narcisística em que elas não pensam nas consequências de suas atitudes e nas pessoas ao redor. Uma coisa boa de crescer é não precisa mais lidar com isso.

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário