domingo, 16 de junho de 2013

O Rei da Voz - Artur Xexéo


O Globo - 16/06/2013

É costume se dizer que a música no Brasil não é uma área
de vozes masculinas. Somos um país de cantoras. Eu mesmo
repito isso aqui de vez em quando. O Brasil é um país
de cantoras. Tenho uma teoria para explicar por que desvalorizamos
nossas grandes vozes masculinas, que não
são poucas. Vivemosmuito tempo sob asombra do talento de
Francisco Alves.

Embora esteja meioesquecido, Francisco
Alves é considerado atéhoje o maior cantor
brasileiro. Como morreurelativamente moço
(tinha 52 anos), deforma inesperada (um
acidente de automóvel)e no auge da carreira, o
país não acompanhousua decadência, como
aconteceu com OrlandoSilva e Nelson Gonçalves,
só para citar duasgrandes vozes do século
passado. Haviatambém João Dias, cujo
timbre e potência vocaleram tão parecidos
com o de Francisco Alvesque não teve chances
de se destacar.

O Brasil teve e tem
grandes cantores. Sílvio
Caldas, Ney Matogrosso, Agnaldo Timóteo, Roberto Carlos,
Vicente Celestino... Mas a grande voz masculina brasileira, a
única que teve chance de rivalizar com o mito Francisco Alves,
é a de Agnaldo Rayol. O Brasil sempre soube disso, tanto
que, na década de 60, ele foi homenageado pela TV Record,
que lhe deu o título de Rei da Voz, até então o título com que
era conhecido Francisco Alves.

Aqui, vale uma interrupção. Francisco Alves e mesmo Agnaldo
Rayol são de um tempo em que os artistas eram conhecidos
pelos títulos que recebiam nas estações de rádio,
principalmente de Cesar Ladeira, na Rádio Mayrink Veiga.
Todo mundo sabe que Carmen Miranda sempre foi a Pequena
Notável. Mas a gente anda se esquecendo de que Carlos
Galhardo (outra grande voz) era O Cantor Que Dispensa Adjetivos,
e Sílvio Caldas, O Caboclinho Querido.

Agnaldo Rayol viveu o auge da carreira num tempo em a
que a televisão valorizava as atrações musicais. Antes de a
TV Record lançar o “Jovem guarda”, o programa que fez Roberto
Carlos estourarem todo o país, ele era o
cantor mais popular doBrasil, posto garantido
por comandar o programa“Corte Rayol show”,
que dividia com o comedianteRenato Corte
Real. Dono de um repertórioromântico que
valorizava sua potênciavocal, ele sempre fez
por merecer o título deRei da Voz.

A esta altura, o leitortem todo o direito de
perguntar por que cargasd’água o colunista
escolheu Agnaldo comoo tema da semana.
É que o cantor vai lançaramanhã um novo
disco: “Agnaldo Rayol eamigos, ao vivo em alto-
mar”. A divulgaçãodestaca que este é o primeiro
disco brasileiro“gravado totalmente a
bordo de um navio”.

Não sei que vantagens isso poderá trazer para a obra. Para
mim, basta saber que Agnaldo está cantando alguns de seus
clássicos, como “Como é grande o meu amor por você”, “My
way” e “Somewhere” (descobri as canções de “West Side
story” num show da Record em que Agnaldo as cantava ao
lado de Elis Regina). Basta saber também que algumas das
faixas são duetos com gente da estirpe de Angela Maria e
Jerry Adriani. Basta saber, enfim, que, novamente, a gente
pode ter a grande voz masculina brasileira cantando dentro
da nossa casa. Quer saber? Eu vou comprar

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