domingo, 16 de junho de 2013

Questão de polícia ou questão urbana? - LÚCIO FLÁVIO DE ALMEIDA


O Globo - 16/05/2013

Nas últimas décadas,
a sociedade
brasileira urbanizou-
se aceleradamente.
Porém, diante de manifestações
coletivas embasadas
em candentes questões
urbanas, muitos preferem enviar
tropas de choque. A política
de transportes implementada
pelo Estado desde a
segunda metade dos anos 50,
com prioridade quase absoluta
ao setor rodoviário, especialmente
o automóvel particular,
chegou ao colapso. Os
carros não andam, o ar fica irrespirável,
o gasto de combustíveis
é desmesurado. E o
transporte coletivo é escasso
e caro para os milhões que o
utilizam.

É mais cômodo queixar-se
do congestionamento ou prometer
resolvê-los com medidas
de curto prazo do que encarar
o problema. Que tal, por
exemplo, começar por uma
rede de trens (sem bala) e
metrô que possibilite melhor
acesso aos aeroportos de
Congonhas, Cumbica e Viracopos?
Por que isto é bom para
Paris ou Nova York e não
serve para o Rio ou Salvador?

A inexistência de recursos
não é tão óbvia assim. Estes
não faltaram para a construção
em tempo recorde de infraestrutura
(estádios inclusos)
para as copas das Confederações
e do Mundo.
Adoro futebol, mas trocaria
este espetáculo circense em
dose dupla por um bom sistema
de transporte coletivo.
As manifestações que ocorrem
nas grandes cidades
brasileiras prestam uma
imensa contribuição ao desnudarem
esta complexa teia
de problemas a colocarem
na agenda política brasileira.
Por falar em recursos, cerca
de 45% do que Estado brasileiro
arrecadou em 2011 destinou-
se à rolagem da dívida
pública, o que faz a delícia
dos rentistas. E esta dívida
nunca foi auditada. Quem
são os vândalos?

Se nada se faz para resolver
graves aspectos da questão
urbana no Brasil e criminalizamos
os que, coletivamente,
se envolvem com
isto, o problema é sério: ou
os que ocupam a rua são
vândalos ou o sistema político
tornou-se incapaz de
canalizar demandas que,
em sã consciência, ninguém
pode desqualificar.

A primeira hipótese é inverossímil.
A segunda preocupa.


Cientista político (PUC-SP) e
editor da revista Lutas Sociais

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