sábado, 13 de julho de 2013

Arnaldo Viana - Flores amarelas‏


Estado de Minas: 13/07/2013 


Férias, finalmente. A viagem sonhada e planejada há anos. Táxi, aeroporto, avião. Rumo: Europa, mais precisamente, Itália. Coliseu, Torre de Pisa, Museu do Vaticano, Rio Tibre e o melhor da cozinha toscana. Ah, a Praça São Pedro. Pena, não viu Francisco! Mas ele estará aqui, na Jornada Mundial da Juventude. Na volta, bagagem cheia de histórias para contar aos parentes, amigos, colegas de trabalho, e uma certa saudade de casa, o pequeno e aconchegante apartamento no Bairro Cidade Nova. No voo sobre o Atlântico, lembrou-se, sem saber por que, do ipê-amarelo plantado ao pé de uma velha casinha em terreno ao lado da janela da sala. Lembrou-se de que daqui a pouco é agosto, mês da floração da espécie.

Agosto sempre lhe traz certa amargura. Um sentimento de perda e distanciamento que o invade e o abate. O consolo vem das flores amarelas do ipê, que admira da sala enquanto saboreia a xícara de café quente e levemente adoçado. As flores parecem trazer um calmante à alma, na imponência da sua beleza e na leveza de seu balançar aos ventos da manhã, típicos da estação. Bem que o ipê poderia estar adiantado ao tempo, um pouco só, para recebê-lo no retorno desta viagem internacional com as flores em cachos e aquele amarelo de arder os olhos. Uma casinha, um ipê, bem diferente dos monumentos que visitara na Itália, mas não sem significado estético. Há dois anos fez uma foto do ipê. As flores daquela árvore pareciam maiores que as outras. Seriam? Força da imaginação? Depois do lanche no avião, ajeitou-se na poltrona para tentar um cochilo e sonhou com o ipê sem as flores e carregado de vagens. De repente, atiçadas pelo sol quente, as vagens estouraram. As leves sementes emplumadas voaram e centenas delas entraram pela janela e pousaram sobre a falso assoalho da sala, como se houvesse ali terra úmida e nutrientes para iniciar uma nova família de ipês-amarelos. Mas, incrível, elas germinaram e, como num passe de mágica, árvores pequenas e floridas tomaram conta do apartamento. Um solavanco do avião, ao atravessar uma zona de turbulência, o acordou.

Confins, Linha Verde, obras e congestionamentos intermináveis. Enfim, casa. Anoitece. Desce do táxi, pega bolsas, malas e sobe. Pede uma comida chinesa por telefone, vasculha o computador à procura de mensagens de amigos. Descarrega os e-mails indesejáveis e dá uma olhada nos sites de notícias. Estava fora do país no ápice das manifestações. Sentiu um pouco de culpa sem ter certeza se estaria ou não nas ruas. Cansado, deitou-se. Dia seguinte, xícara de café na mão, foi à janela. O ipê não estava lá. A sanha imobiliária o cortou e derrubou a velha casinha. Espaço para mais um prédio de apartamentos.

 Pensou em como, às vezes, são desumanos os projetos arquitetônicos. Decepam a paisagem que não lhes pertence, mas que muito poderiam lhes dizer. Bastava que poupassem a árvore para que ela pudesse emprestar sua sombra ao concreto e cobri-lo de flores amarelas em agosto. Não há mais graça além daquela janela, não há mais ipê-amarelo. E só faltava um mês para a floração. Paciência…! 

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