sábado, 13 de julho de 2013

Dilma tenta vacina contra males da saúde, mas efeito pode ser contrário

folha de são paulo
ANÁLISE
SAMY CHARANEKEDITOR-ADJUNTO DE "COTIDIANO"O inferno astral da presidente Dilma Rousseff com a classe médica acaba de ganhar mais um ingrediente.
A decisão do governo de pôr alunos de medicina brasileiros para fazer o Revalida será um tira-teima sobre a eficácia do teste, que garante aos médicos com diploma obtido no exterior o direito de trabalhar no país.
Por um lado, a ideia abre uma brecha para o que a categoria médica mais quer: comprovar que profissionais diplomados em outros países nem sempre têm preparo suficiente para atender pacientes no Brasil.
Mas, por outro, pode ter o efeito de um jogo de truco: e se os alunos testados tiverem desempenho igual ou pior ao dos colegas que estudaram no estrangeiro?
Seja qual for o resultado, a série de quedas de braço entre o governo Dilma e a classe médica já deixa marcas suficientes para cobranças futuras. De ambos os lados.
À polêmica aberta com a decisão de "importar" médicos para atuar nos confins do país se somam os vetos de Dilma ao Ato Médico, abrindo brecha para que outros profissionais (enfermeiros, por exemplo) façam diagnósticos e prescrevam tratamentos.
VACINA
O conjunto de propostas para o setor tem o objetivo de ser uma vacina contra males vindouros, principalmente em ano de reeleição --a saúde, como se sabe, está sempre entre as áreas mais mal avaliadas dos governos.
Mas pode ser também a panaceia que faltava no calendário das urnas. As cartas estão sobre a mesa.
    Formandos no Brasil farão prova de médico estrangeiro
    Governo vai testar alunos para 'calibrar' exame que valida diploma do exterior
    Medida que permite comparar desempenho de estudantes provoca novo desgaste com a comunidade médica
    FLÁVIA FOREQUEJOHANNA NUBLATDE BRASÍLIA
    Diante de altas taxas de reprovação do exame federal para revalidar os diplomas de medicina obtidos no exterior, o governo decidiu aplicar a prova para alunos de medicina de faculdades brasileiras.
    A intenção é constatar se são verdadeiras as críticas de que a prova tem um nível de exigência muito alto e, eventualmente, "calibrar" o exame do próximo ano.
    Oficializada em 2011, a prova, chamada de Revalida, nunca teve suas questões pré-testadas, ao contrário de outros exames aplicados pelo Inep (órgão do Ministério da Educação), como o Enem.
    No mês passado, integrantes do MEC fizeram reunião com coordenadores de cursos de medicina para apresentar a iniciativa e receberam resposta positiva de algumas instituições.
    O objetivo é dispor de uma amostra representativa, de cerca de 4.000 alunos do 6º ano de medicina de todo o país, de instituições públicas e privadas. Isso equivale a quase 26% dos concluintes da graduação, pelo último Censo da Educação Superior.
    A prova será aplicada aos formandos no mesmo dia e local em que os candidatos "verdadeiros" farão o Revalida, em 25 de agosto. O edital de inscrição na prova será publicado na próxima semana.
    O desempenho dos alunos nacionais na prova não terá qualquer repercussão sobre a conclusão do curso nem será divulgado para as escolas de medicina, mas poderá ser solicitado pelo candidato.
    Em 2012, dos 884 candidatos que fizeram o exame, só 8,7% foram aprovados. Grande parte dos diplomas tem como origem a Bolívia (411) e mais da metade dos inscritos (560) são brasileiros.
    O exame é dividido em duas fases: uma prova teórica, com questões objetivas e discursivas, e outra de avaliação de habilidades clínicas.
    O pré-teste que será aplicado neste ano só se refere à primeira fase, que concentra as grandes taxas de reprovação.
    A eventual "calibragem" do exame vem sendo aventada pelo governo nos últimos meses e provoca uma nova faísca no relacionamento com a comunidade médica, que argumenta não haver carência de profissionais no Brasil, e sim má distribuição no território nacional.
    Entidades médicas protestaram recentemente, por exemplo, devido ao programa do governo federal para atrair médicos estrangeiros ao interior e periferias e ao plano de obrigar estudantes de medicina a atuar no SUS.
    Para o vice-presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), Carlos Vital, o exame "não é complexo".
    "O conteúdo que hoje é aplicado é absolutamente coerente com a avaliação de capacidade. Está se fazendo isso sem motivação", disse.
    "Infelizmente, temos sido surpreendidos com medidas casuísticas e fisiológicas por parte do governo brasileiro."
    Hoje não existe um exame nacional para os estudantes de medicina do Brasil. Em São Paulo, há uma prova do Cremesp (conselho regional) --que teve 45,5% de aprovados no ano passado.

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