sábado, 13 de julho de 2013

Hoje é, mas não deveria ser o 'Dia Mundial do Rock'

folha de são paulo
THALES DE MENEZES
EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

"Hoje É Dia de Rock" era um programa da extinta TV Rio, exibido aos sábados entre 1961 e 1965, que reunia artistas cantando para o público jovem. "Hoje É Dia de Rock" também foi título de peça de José Vicente, montada em 1971, no Rio, inserida na chamada contracultura.
Hoje, a expressão Dia do Rock deve aparecer em TV, rádio, jornais, internet e anúncios de operadora de celular. Na verdade, a expressão exata será Dia Mundial do Rock.
Divulgação
Bono, do U2, canta 'Sunday Bloody Sunday' no estádio de Webley, durante o Live Aid
Bono, do U2, canta 'Sunday Bloody Sunday' no estádio de Webley, durante o Live Aid
Assim como o Dia da Secretária, criado para engordar o faturamento das floriculturas na data, o Dia Mundial do Rock só serve para incrementar promoções de gravadoras, shows e rádios especializadas.
Data com vocação estritamente comercial, sem vínculo com o cada vez menos enaltecido espírito do rock.
E quem teve a ideia genial?
Pode ser classificada como criação coletiva e despretensiosa de locutores da BBC. Completa agora 28 anos.
Em 1985, o irlandês Bob Geldof, então vocalista da banda fraquinha Boomtown Rats, resolveu organizar um concerto para arrecadar ajuda aos refugiados na Etiópia.
Com apoio de Bono, Sting, Phil Collins e outros roqueiros engajados, a coisa deu no megaconcerto de rock Live Aid, no dia 13 de julho.
Reuniu shows em estádios de Londres e da Filadélfia, com astros como U2, Queen, David Bowie, Mick Jagger, The Who e até um Led Zeppelin ressuscitado para a festa.
Na transmissão do evento, que durou 20 horas, os locutores da rádio britânica começaram a chamar aquele de "o dia mundial do rock".
Passado o impacto da mobilização, o termo sumiu do radar. Nos anos seguintes, aos poucos, promotores aqui e ali passaram a usá-lo como "gancho", agendando empreendimentos nessa data.
Amy Sancetta/Associated Press
Robert Plant e Jimmy Page do Led Zeppelin no Live Aid, em 1985
Robert Plant e Jimmy Page do Led Zeppelin no Live Aid, em 1985
OUTRAS SUGESTÕES
Será que o Live Aid, com participantes nada roqueiros como Madonna, Sade e Kool & The Gang, tem tanta representatividade assim para justificar esse galardão?
Outras datas na história poderiam ser lançadas como candidatas ao Dia Mundial do Rock. Três exemplos:
1) Um dia incerto em abril de 1951, quando o DJ Alan Freed disse pela primeira vez, numa rádio de Ohio (EUA), a expressão "rock and roll" --que significava "ir dançar e depois transar", comum em canções de artistas negros.
2) 5 de julho de 1954, quando Elvis Presley criou sua versão acelerada do blues "That's All Right, Mama".
3) 9 de fevereiro de 1964, quando os Beatles se apresentaram pela primeira vez em rede na TV americana.
Talvez não compense pensar em mais opções. O rock não se presta a tentativas de transformá-lo em instituição. Papo de velho, provavelmente, mas rock é coisa de velho.
Em 1993, Eric Clapton agradeceu a inclusão de sua ex-banda Cream no hall da fama da academia americana de rock com esse discurso: "Eu não gostava dessa instituição, o Hall of Fame. Eu não gosto de instituições em geral. Sempre achei que o rock and roll não pode ser respeitável." Falou e disse.
MPB4 recupera bolero com letras novas
Grupo faz show do álbum 'Contigo Aprendi', o último gravado antes da morte de Magro, um de seus fundadores
CD traz regravações do ritmo latino com versos em português de nomes como Caetano, Carlos Rennó e Fernando Brant
DO EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"
A um ano de comemorar seu cinquentenário de carreira, o MPB4 traz a São Paulo o show que mostra o repertório do álbum mais recente do grupo, "Contigo Aprendi".
Gravar um álbum de boleros era um plano antigo do quarteto, conta Aquiles Reis. "A ideia final foi esse projeto de registrar novas versões em português de boleros que sempre ouvimos cantados por gente como Trio Iraquitan e Trio Los Panchos."
O trabalho ainda contou com voz e direção de Magro, integrante do MPB4 morto no ano passado, de câncer. Aos 68 anos, ele participou do disco até a mixagem. "Ele acompanhava do hospital, por Skype", recorda Aquiles.
O repertório, como "Solamente una Vez", do mexicano Agustín Lara, e "Quizás, Quizás, Quizás", do cubano Osvaldo Farrés, já tinha versões em português. Mas o MPB4 queria letras inéditas e pediu ajuda de amigos.
No caso do quarteto, esses amigos são feras como Caetano Veloso, Fernando Brant, Celso Viáfora, Carlos Rennó e Vitor Ramil, entre outros.
Outra sacada: só cordas no instrumental. "Começamos com o Duofel, e depois veio Trio Madeira Brasil. Quarteto Maogani e Toninho Horta."
O show terá boleros e hits do grupo, que vai cantar e tocar. Miltinho e Dalmo Moreira são violonistas, e Paulo Malagutti, que entrou no lugar do Magro, é tecladista.
Já que o MPB4 foi formado em 1964 no Centro Popular de Cultura, da União Nacional dos Estudantes, Aquiles não nega esse DNA combativo ao comentar as recentes manifestações no país.
"Fico feliz de ver a juventude de volta às ruas. E é bonita a liderança horizontal, ver um movimento surgindo da insatisfação das pessoas, sem orquestração de partidos. O movimento estudantil há tempos foi cooptado por dinheiro."

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