quinta-feira, 18 de julho de 2013

Protestar não é pecado - Bandido ao quadrado - Editoriais FolhaSP

folha de são paulo
Protestar não é pecado
Desde que sem violência, manifestações durante a visita do papa precisam ser tratadas como um fenômeno que faz parte da democracia
Menos mal que seja assim. Entre as possíveis fontes de ameaça à visita do papa Francisco ao Brasil na próxima semana, somente a ação de "grupos de pressão" mereceu alerta vermelho da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Questões por certo mais graves, como o crime organizado ou a hipotética atuação de grupos terroristas, não chegam a preocupar tanto a Abin quanto o risco de confrontos durante a passagem do pontífice pelo Rio, onde participará da Jornada Mundial da Juventude.
O que deveria provocar certo alívio, porém, converteu-se em motivo de preocupação para as autoridades nacionais, ainda desconcertadas diante da recente predisposição dos brasileiros para o protesto.
Responsáveis pela segurança do papa no Brasil, a Abin, o Exército e a Polícia Federal conversam com a equipe do Vaticano acerca de alterações que poderiam ser feitas na agenda oficial a fim de aumentar a proteção oferecida ao pontífice e a sua comitiva.
Estão em estudo a suspensão de compromissos e até mudanças, feitas de última hora, nos locais de alguns encontros.
A principal modificação diria respeito à recepção do papa Francisco, no dia 22. A solenidade, com a presença do governador e do prefeito do Rio, está marcada para o Palácio Guanabara, sede do governo fluminense. Para policiais, o local --que tem sido alvo de agressivos protestos-- não é seguro.
Até aqui, entretanto, o chefe da Igreja Católica não deu sinais de ter se sensibilizado com os temores brasileiros. Dois dias atrás, o Vaticano pediu para a Polícia Federal dispensar o uso de fuzis pelos agentes que acompanharão Francisco em Copacabana --haverá apenas policiais com pistolas.
Ontem, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirmou que o pontífice manterá a programação original e acrescentou que as manifestações nada têm de específico contra o papa ou a igreja.
O argumento não é preciso. Pelo menos um ato contra os gastos públicos no megaevento católico já foi convocado pela internet, e há muito tempo militantes da causa gay ou feminista, por exemplo, têm seus motivos para protestar.
Parece prevalecer na declaração e nas atitudes do Vaticano, ainda assim, a percepção de que manifestantes, no exercício pacífico de seu direito, não representam ameaça nem podem ser confundidos com criminosos.
Essa é uma lição que as autoridades brasileiras, perdidas entre o abuso da força contra protestos não violentos e a omissão diante de atos de vandalismo, ainda precisam assimilar.
    EDITORIAIS
    editoriais@uol.com.br
    Bandido ao quadrado
    Depois de uma operação para prender delegados e investigadores da Polícia Civil, acusados de envolvimento com o tráfico de drogas, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, anunciou que o Denarc (Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico) passará por uma reestruturação. Já não era sem tempo.
    É conhecida a capacidade do narcotráfico de corromper agentes da lei. Policiais que trabalham no combate direto a esse tipo de crime são alvos permanentes de tentativas de suborno --muitas vezes bem-sucedidas.
    Não são raros, também, os casos em que a ocasião --confirmando o dito popular-- faz o ladrão. O desvio de drogas apreendidas é uma prática ilícita verificada em polícias de várias partes do mundo.
    No caso do Denarc, vêm de longe os sinais de que parte da corporação deixou-se capturar pelo crime organizado. Apenas neste ano, nos meses de fevereiro e março, a Polícia Federal prendeu sete policiais ligados ao departamento, sob acusação de desviar entorpecentes.
    Os problemas, na realidade, se estendem de maneira preocupante a outras áreas da Polícia Civil. Não é demais lembrar que desde 2009 pelo menos 800 dos cerca de 3.300 delegados paulistas passaram ou ainda passam por investigações da corregedoria.
    O governador Geraldo Alckmin apoiou com vigor a investigação de corrupção no Denarc. Prometeu "tolerância zero" com desvios, lançou a fórmula "polícia aliado de bandido é bandido ao quadrado" e anunciou o tratamento aos infratores: "Xadrez neles".
    Ainda que se possa ver um aspecto propagandístico no pronunciamento, constitui sinalização inequívoca de apoio a um processo de "limpeza" da polícia. Identificar corruptos e puni-los é, sem dúvida, o caminho a seguir --embora a experiência sugira que se trata de um típico caso em que falar é muito mais fácil do que fazer.
    Além de combater maus policiais, o governo precisa impor novas rotinas. No que tange à investigação, é sobretudo a logística do tráfico que precisa ser visada e golpeada, com a identificação das rotas, dos locais de entrega, dos esquemas de distribuição e dos caminhos da lavagem do dinheiro.
    É necessário também, como ocorre em outros países, que policiais destacados para enfrentar o narcotráfico sejam objeto de permanente supervisão e periódica checagem de sinais de riqueza incompatível com os rendimentos.
    A prometida reforma do Denarc é uma chance para o governador mostrar que a disposição de melhorar a segurança pública vai além da retórica e de ações pontuais.

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