sábado, 12 de julho de 2014

Eduardo Almeida Reis - Nosocômico‏

Nosocômico 
 
Daí a constatação de um philosopho amigo nosso: uma pessoa só existe nos períodos em que está apaixonada.
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 12/07/2014







O substantivo masculino nosocômio significa hospital e o adjetivo nosocômico, relativo a hospital, está no Houaiss. Vosso país vem de ter notícia de dois crimes ocorridos em hospitais que seriam cômicos, se não fossem trágicos. Até então, pensávamos que a primeira providência era levar a pessoa doente para um hospital. Hoje, é preciso pensar duas vezes antes de tomar a providência.

Em Campina Grande, PB, a Rainha da Borborema, um cadeirante foi levado ao hospital com problemas na coluna. Vi na tevê: os acompanhantes do enfermo foram espancados pelos seguranças do hospital e o paciente retirado de sua cadeira de rodas pelos tais seguranças, que o arrastaram pelo chão nosocômico sem dó nem piedade. O nome da instituição é sugestivo: Hospital de Trauma. Traumatiza pacientes e telespectadores.

Da Rainha da Borborema viajamos até a Cidade Maravilhosa, que já foi cheia de encantos mil e hoje é a capital de um estado com índices anuais da ordem de 28,9 homicídios por 100 mil habitantes, contra o máximo de 10 por 100 mil considerado “normal” pela ONU. Algumas taxas para efeito de comparação: Noruega (0,6), Suécia (1,0), Reino Unido (1,2), Rússia (10,2), Índia (3,4), Cingapura (0,3), Japão (0,4), Venezuela (45,1), Brasil (21,0), Canadá (1,6), Senegal (8,7), Uganda (36,6), Terra (6,9).

Pois muito bem: o motorista de um ônibus urbano, percebendo que o fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, de 63 anos, passava mal em seu veículo, parou o coletivo diante do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), na Rua General Glicério, em Laranjeiras, para pedir socorro, e viu o fotógrafo morrer ao cabo de muitos minutos por falta de atendimento médico. Explicação: o hospital estava em greve, diz que não tem atendimento de emergência e os passageiros do ônibus, que pretendiam entrar no INC para pedir socorro, foram impedidos pelo eficiente segurança do instituto – referência no tratamento de doenças cardíacas de alta complexidade, o único hospital público do Rio de Janeiro que realiza transplantes. Sua página na internet informa em letras garrafais: Cardiologia de Primeiro Mundo.

Existir
Filho de Michael Pedersen Kierkegaard e Ane Sörensdatter Lund Kierkegaard, Sören Aabye Kierkegaard (1813-1855), filósofo e teólogo dinamarquês, filosofou: “Existir é escolher e apaixonar-se”. Resta saber se a paixão, no sentido de “sentimento, gosto ou amor intensos a ponto de ofuscar a razão”, pode ser escolhida ou nos pega de supetão, normalmente sem explicações ou justificativas.

Sendo racional não é paixão. Daí a constatação de um philosopho amigo nosso: uma pessoa só existe nos períodos em que está apaixonada. O resto é automático: nascer, viver, passar desta para a pior. Curioso da explicação psicanalítica da paixão, fui às obras completas de Freud, versão eletrônica, encontrei referência ao relacionamento sexual de Dostoiévski com uma criança e dei com este velho costado no trecho em que o pai da psicanálise fala de um cavalheiro considerado por muitos o maior gênio da história, Leonardo di Ser Piero da Vinci (1452-1519): “É duvidoso que Leonardo jamais tenha abraçado uma mulher com paixão; ou tenha tido alguma amizade intelectual íntima com uma mulher, como a de Miguel Ângelo com Vittoria Colonna. Quando ainda aprendiz e vivendo em casa de seu mestre Verrocchio, foi-lhe feita e a alguns outros jovens uma acusação de práticas homossexuais proibidas, que terminou em absolvição. Parece que a origem desta acusação foi o fato de ter usado um menino de má fama como modelo”.

O só fato de Freud falar de práticas homossexuais proibidas dá a entender que havia práticas homossexuais permitidas. Na confusão sobrou até para Fiódor Mikhailovich Dostoiévski (1821-1881), considerado um dos maiores romancistas e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos, casado com Anna Grigórievna Snítkina de 1867 a 1881, depois de um casamento com Maria Dmitriévna Issáieva de 1857 a 1864. Machado de Assis, dom Pedro I e Dostoiévski sofriam de epilepsia, hoje tratada nas crianças com remédio à base de canabidiol (CBD), um dos 80 princípios ativos da maconha. Tchau e bênção procês todos.

O mundo é uma bola

12 de julho de 1472: o futuro rei Ricardo III, da Inglaterra, se casa com Anne Neville. Ricardo morreu em 1485 na Batalha de Bosworth Field, em Leicestershire. Recentemente, encontraram seus ossos enterrados num lugar convertido em estacionamento de automóveis. A partir daí a ciência tem deitado e rolado, identificando até as lombrigas que o marido de Anne Neville teria tido quando criança. Mal ou bem, o Reino Unido sobreviveu à morte de Ricardo durante séculos sem saber das lombrigas que o parasitaram.

Em 1543, também num dia 12 de julho, Henrique VIII, rei da Inglaterra, casou-se com Catarina Parr. Foi o sexto casamento de Henrique e o terceiro de Catarina, que tinha bom relacionamento com os três filhos do rei e contribuiu para a educação de Isabel e Eduardo, mais tarde soberanos da Inglaterra.

Foi ajudada pelo fato de ainda não existir a Lei da Palmada, costurada pelo admirado Renan Calheiros com sua nova cabeleira transplantada no Recife, PE. Hoje é o Dia do Engenheiro Florestal, não sei se aqui ou em Portugal.

Ruminanças

“Fuleco rima com timeco” (R. Manso Neto).

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