sábado, 12 de julho de 2014

Momento marcante

Passagem do diretor Paul Mazursky por Ouro Preto, em 1987, para filmar Luar sobre Parador, mudou a rotina da cidade e até hoje é lembrada por pessoas que conviveram com ele


Ailton Magioli
Estado de Minas: 12/07/2014



Já famosa fora do Brasil, a atriz Sonia Braga causou burburinho em Ouro Preto, que recebeu a equipe de Paul Mazursky (Evandro Santiago/EM/D.A Press)
Já famosa fora do Brasil, a atriz Sonia Braga causou burburinho em Ouro Preto, que recebeu a equipe de Paul Mazursky

A morte recente, em 30 de junho, do cineasta norte-americano Paul Mazursky (1930-2014), aos 84 anos, traz recordações de setembro de 1987, em Ouro Preto, onde ele rodou Luar sobre Parador (Moon over Parador). Durante as filmagens, que modificaram a rotina da cidade histórica mineira, “invadida” pela equipe de produção do longa, a população conviveu de perto com grandes estrelas do cinema, além do diretor famoso. No seleto time, a já “internacional” Sonia Braga, Richard Dreyfuss, Milton Gonçalves, Regina Casé e Raul Julia, entre outros.

“Ele esteve em minha casa algumas vezes. Em uma delas, ofereceu a Larissa (Larissa Bracher, filha do artista plástico, hoje atriz) um gravador de presente”, recorda Carlos Bracher, para quem Mazursky pareceu muito bacana.

“Lembro-me de que pedi a Mazursky para ensaiarmos e ele concordou”, recorda o ator Nelson Xavier, que interpretou o general Kurt Sinaldo no longa. “Ele queria algo muito caricato. Tratava-se da visão da republiqueta de bandas ou algo parecido, que era muito grosseira”, critica Nelson Xavier, que recentemente fez o ainda inédito Trash, do inglês Stephen Daldry, ambientado no Brasil e praticamente falado em português, ao contrário de Luar sobre Parador, rodado em inglês.

“Mazursky pedia para eu fazer o general sem caretas. Recusei-me!”, acrescenta Nelson Xavier, cujas maiores lembranças do set envolvem Sonia Braga, então estrela internacional. Apesar de não guardar boas lembranças do diretor, o ator brasileiro fala com carinho da convivência com ele em Ouro Preto. Mas não esconde a preferência pelo inglês Stephen Daldry (O leitor, O pequeno Elliot e As horas, entre outros), “um p... diretor, que adorei”.

Outros brasileiros, como Ana Muylaert (assistência de direção), Marcos Flaksman (direção de arte) e Rui Resende (elenco), juntaram-se a Nelson Xavier no set. Na trama do longa, a morte de um presidente-ditador de um país latino-americano faz com que seu chefe de gabinete convença um ator, sósia do morto, a assumir o posto dele. Dessa forma, o chefe de gabinete pode governar usando um fantoche. A namorada do falecido, porém, não se deixa iludir pela farsa, ao contrário da população do país.

O artista plástico Carlos Bracher recusou o convite para participar do longa, mas sua mulher Fani Bracher aceitou. No livro sobre vida e obra dela (detentora de um Prêmio Jabuti), o leitor encontrará registro fotográfico feito durante o encontro do marido com o ator Richard Dreyfuss e o diretor Paul Mazursky. “Fani fez apenas uma pontinha no filme”, desconversa Bracher, que teve, inclusive, a oportunidade fazer um retrato do cineasta. “Mazursky era uma pessoa sensacional”, elogia ele – foi Adolpho Bloch (1908-1995), amigo de Bracher, quem recomendou ao diretor que procurasse o artista em Ouro Preto.

GUERRILHEIRO Daí veio o convite para que Carlos Bracher interpretasse um guerrilheiro. “Era algo meio simbólico, com o personagem tipo Che Guevara só aparecendo no fim da história. Recusei o convite, mas alguém da cidade acabou fazendo”, acrescenta Bracher.

“Na época, toda a equipe do filme teve grande interação com a cidade, promovendo inclusive doações para instituições de caridade”, elogia Bracher, que, apesar do ti-ti-ti provocado pela estrela Sonia Braga na cidade, só a encontrou apenas no set de filmagens.

SAIBA MAIS

CARREIRA


Paul Mazursky é diretor e roteirista de filmes como Harry, o amigo do tonto (1974) e Uma mulher descasada (1978). A estreia na carreira cinematográfica foi como ator no primeiro longa dirigido por Stanley Kubrick, Medo e desejo (1953). O primeiro trabalho como roteirista de cinema foi na comédia O abilolado endoidou (1968), estrelado por Peter Sellers. 

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