sábado, 9 de agosto de 2014

Kikito em busca de prestígio‏

Kikito em busca de prestígio
Festival de Gramado vai até dia 16 com produções brasileiras e estrangeiras na disputa. Helvécio Ratton participa da mostra competitiva com o filme O segredo dos diamantes

Estado de Minas: 09/08/2014


O cantor e compositor Alceu Valença mostra seu lado de cineasta na direção do musical A luneta do tempo, que estreia no Festival de Gramado (Yane Montenegro/Divulgação)
O cantor e compositor Alceu Valença mostra seu lado de cineasta na direção do musical A luneta do tempo, que estreia no Festival de Gramado


Recuperar a importância entre os eventos do gênero é a principal premissa da 42ª edição do Festival de Cinema de Gramado, que começou ontem e segue até o dia 16, com a exibição de 44 filmes na mostra competitiva, entre curtas e longas, nacionais e estrangeiros. O primeiro ponto a favor é, sem dúvida, a decisão de destinar R$ 275 mil para premiar os vencedores, que levarão também os tradicionais Kikitos. A ideia é de que os recursos distribuídos sejam um incentivo à produção cinematográfica no Brasil. O festival, que tem curadoria do crítico e jornalista Rubens Ewald Filho, de Marcos Santuário e da diretora e atriz argentina Eva Piwowarski, tem orçamento de R$ 3,1 milhões.

O evento tem quatro mostras em disputa: longas brasileiros (oito), longas estrangeiros (cinco), curtas nacionais (14) e curtas gaúchos (17). Todos os filmes da mostra competitiva de longas serão exibidos no telão do Palácio dos Festivais, com capacidade para acomodar 950 pessoas. Leonardo Machado, Daniela Escobar e Renata Boldrini formam o trio que comanda a apresentação. A atriz Daniela Escobar, de 45 anos, é gaúcha e tem longa trajetória no cinema e na televisão.

Pelo tapete vermelho passarão artistas com filmes em exibição, caso de Juliana Paes e Nelson Xavier, que atuam em A despedida, de Mauro Galvão. O cineasta saiu premiado da 40ª edição, em 2012, com Colegas, estrelado por um trio de atores com síndrome de Down. Protagonista do longa gaúcho Os senhores da guerra, de Tabajara Ruas, André Arteche também marca presença. Quem também deverá passar pelo festival é Daniel de Oliveira, atualmente no ar como Bruno na novela O rebu, da Rede Globo, que faz parte do elenco de A estrada 47, ao lado do colega de folhetim Júlio Andrade. Fernanda Montenegro e Paulo Betti, que atuam em Infância, de Domingos de Oliveira, também poderão dar o ar da graça, ainda que não tenham confirmado presença. São esperados o músico Alceu Valença e o ator Caco Ciocler, que este ano estreiam atrás das câmeras.

Os longas brasileiros em competição são: A despedida, de Marcelo Galvão (SP); A estrada 47, de Vicente Ferraz (RJ); A luneta do tempo (2014), de Alceu Valença (PE), que tem assistência de direção do mineiro Luiz Felipe; Esse viver ninguém me tira, de Caco Ciocler (DF); Infância, de Domingos Oliveira (RJ); Os senhores da guerra, de Tabajara Ruas (RS); Sinfonia da necrópole, de Juliana Rojas (SP); e O segredo dos diamantes (MG), de Helvécio Ratton.

Mineiros

O cineasta Helvécio Ratton já antecipou que aproveitará a exibição de O segredo dos diamantes (que chega aos cinemas em 18 de dezembro e faz sua estreia nacional neste domingo, às 19h, em Gramado) para prestar homenagem à atriz mineira Manoelita Lustosa (que morreu recentemente), em seu último trabalho. Não é a primeira vez que Ratton compete no festival. O cineasta já esteve presente com Em nome da razão (1979), A dança dos bonecos (de 1986, “muito bem recebido”) e Uma onda no ar (2002). “O evento é muito bom, a cidade respira cinema e este ano o festival foi revitalizado. Ano passado, Rubens Ewald Filho e José Wilker (curadores) já haviam feito trabalho de renovação.

Outro representante de Minas, só que na mostra competitiva de curtas, é André Amparo, conhecido artista plástico que trabalha com instalações. E Max Uber, como explica o diretor, é um filme que aproxima o cinema das artes plásticas. “O curta fala sobre o que vemos hoje na arte contemporânea, a mercantilização. Você não sabe o que é bom ou ruim, belo ou feio. Então, é sinal de que alguma coisa está estranha”, afirma.

Confira os outros concorrentes e a programação completa em www.festivaldegramado.net.



Homenagens

 (Formiga Filmes/Divulgação)


Exibição hors-concours do longa Isolados, de Tomas Portella, último e até então inédito trabalho de José Wilker no cinema (foto), foi programada para a noite de abertura do festival. O ator morreu de enfarto do miocárdio, aos 67 anos, em 5 de abril. Isolados tem estreia prevista para 18 de setembro. O troféu Oscarito, um dos mais importantes e destinado a grandes nomes do cinema brasileiro, será entregue a Flávio Migliaccio. O cineasta Walter Carvalho receberá o troféu Eduardo Abelin e o ator franco-argentino Jean Pierre Noher será homenageado com o Kikito de Cristal. Já o troféu Cidade de Gramado será dado ao ator brasileiro Rodrigo Santoro.


Musicais em alta

Júlio Cavani
Publicação: 09/08/2014


O segredo dos diamantes, de Helvécio Ratton, foi filmado no Serro     (Estevam Avellar/Divulgação)
O segredo dos diamantes, de Helvécio Ratton, foi filmado no Serro


Apesar de ser um país sempre associado à música, o Brasil não tem uma produção cinematográfica constante no gênero musical. Filmes surgem esporadicamente com longos intervalos. Um fenômeno raro, portanto, será visto no Festival de Gramado, onde há dois longas na mostra competitiva com diálogos cantados: Sinfonia da necrópole, da paulista Juliana Rojas, e A luneta do tempo, do pernambucano Alceu Valença.

A luneta do tempo é um caso raro no cinema brasileiro. Trata-se de um longa musical com todos os diálogos cantados ou, pelo menos, rimados. O trabalho de roteirista, nesses casos, se confunde com o de compositor. Todas as palavras mencionadas pelos personagens foram escritas por Alceu, que pré-gravou as músicas com sua voz e as entregou ao elenco antes das filmagens.

Os atores não podiam errar uma sílaba e precisavam sincronizar as vozes com a melodia original. O resultado equivale a um novo disco, inédito, com 97min de duração – acompanhado de imagens e vozes dos intérpretes Irandhir Santos, Hermila Guedes, Servílio Holanda, Hélder Vasconcelos, Ary de Arimatéia, Charles Teony e Khrystal – 32 atores participaram. A musicalidade é baseada nas tradições do folclore nordestino, com a presença de instrumentos como a rabeca e a sanfona, mas com a liberdade experimental típica do cantor.

Vencedor do prêmio de melhor trilha sonora no Paulínia Film Fest, Sinfonia da necrópole promove a improvável combinação entre musical, comédia e suspense. A diretora Juliana Rojas já havia experimentado o terror em curtas e no longa Trabalhar cansa (dirigido com Marco Dutra), mas consegue desconstruir gêneros com o novo filme, que se passa em um cemitério. Com letras escritas pela diretora e roteirista, as canções foram produzidas e compostas por Marco Dutra e Ramiro Murilo.

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