sábado, 9 de agosto de 2014

Mosquito encurralado

Detergente biológico produzido por bactérias encontradas em solo contaminado por petróleo, e patenteado por pesquisadores da Unesp, funciona como três em um contra o Aedes aegypti


Flávia Ayer
Estado de Minas: 09/08/2014


Matar as larvas, exterminar o inseto adulto e ainda funcionar como repelente para o Aedes aegypti. Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, no interior de São Paulo, descobriram substância “três em um” no combate ao mosquito transmissor da dengue, que já contaminou 638,4 mil brasileiros este ano. Trata-se de um detergente biológico, produzido por bactérias encontradas em solo contaminado por petróleo. Além de todas essas atribuições, o biossurfactante é atóxico e biodegradável. O produto está sendo patenteado pelos biólogos, mas, por enquanto, sua chegada ao mercado esbarra no alto custo de produção.

Desde 1997, os cientistas estudam o biossurfactante produzido pela bactéria Pseudomonas aeruginosa LBI. O micro-organismo foi encontrado no terreno onde funcionava um posto de gasolina e levado para o laboratório. A bactéria consome material oleoso e açúcar e sintetiza o detergente biológico. A substância já tem aplicação na indústria petrolífera para a limpeza de tanques e na remediação de contaminações. O emprego no combate à dengue, entretanto, é inédito.

“Constatamos que pode ser usado como inseticida, larvicida e repelente. A dengue não conta ainda com vacina e, por isso, é importante atuar nas três frentes”, afirma o mestre em microbiologia Vinícius Luiz Silva, que desenvolveu o estudo junto dos pesquisadores Jonas Contiero, Cláudio José Von Zuben e Roberta Barros Lovaglio. O desafio agora é tornar o custo de produção da substância mais baixo. “Nossas pesquisas agora estão voltadas para que a matéria-prima fique mais barata”, reforça. Apesar do preço, um produto nunca havia se mostrado tão eficaz e versátil contra o mosquito da dengue, cada vez mais resistente a inseticidas.

No primeiro teste, uma solução com a substância foi aplicada em recipiente com água cheio de larvas do inseto. Para respirar e garantir sobrevivência, as larvas precisam se manter na superfície. “O produto, no entanto, reduz a interação entre as moléculas da água e quebra a tensão superficial do líquido, impedindo que as larvas fiquem na superfície”, explica Vinícius. A ação do produto começa a ser percebida 18 horas depois da sua aplicação.

O segundo teste consistiu no combate aos mosquitos adultos e o biossurfactante se mostrou mais uma vez eficiente. O produto foi borrifado nos insetos, que morreram imediatamente. Uma terceira frente de trabalho comprovou a eficácia da substância como repelente. Os pesquisadores passaram o produto em ratos previamente anestesiados e, por 40 minutos, nenhum inseto se aproximou dos mamíferos. Segundo o biológo, não há problema em relação ao uso do biossurfactante na pele.

INTERNACIONAL Parceria entre os laboratórios de Microbiologia Industrial e de Entomologia do Instituto de Biociências da Unesp Rio Claro e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o estudo foi apresentado no mês passado em congresso nos Estados Unidos. E o coordenador do Laboratório de Entomologia I do Departamento de Zoologia do Instituto de Biocências, Cláudio José Von Zuben, destaca ainda mais uma faceta do biossurfactante. “Ele tem a vantagem de não afetar outros grupos de insetos”, aponta.

Segundo Von Zuben, a importância do novo método do combate ao mosquito da dengue cresce diante do aumento da resistência do Aedes aegypti. “A maior parte dos produtos acaba induzindo resistência ao inseto com o passar do tempo. Estamos percebendo a existência de gerações cada vez mais resistentes”, afirma. As larvas do inseto já conseguem se reproduzir em água não muito limpa e os adultos vêm se adaptando a temperaturas mais baixas.

“Toda estratégia que visa controlar a densidade populacional do vetor causa interferência direta na epidemiologia de uma doença transmitida por ele”, reforça o biólogo. De acordo com o Ministério da Saúde, este ano, a dengue matou 213 pessoas no Brasil. No total, 638.404 pessoas foram infectadas pelo vírus. Enquanto o biossurfactante não começa a ser usado, Von Zuben alerta para os cuidados para o combate à doença. “A maior parte dos criadouros está dentro de casa”, ressalta. A principal orientação é não deixar acumular água em nenhum tipo de recipiente.

Ação eficaz

O biossurfactante, produzido pelas bactérias Pseudomonas aeruginosa LBI, atua em três frentes no combate ao mosquito da dengue:


» A substância diminui a tensão do líquido presente nos criadouros do Aedes aegypti, fazendo com que as larvas afundem. Sem conseguir se manter na superfície para respirar, elas morrem

» O biossurfactante é usado em borrifadores no combate aos mosquitos adultos. Ao entrar em contato com a substância, há a quebra da cutícula dos insetos, que morrem imediatamente

» Usado como repelente, o biossurfactante afasta os mosquitos por 40 minutos


COMO COMBATER A DENGUE

» Pneus velhos: entregue-os ao serviço de limpeza urbana. Caso você precise realmente mantê-los, guarde-os em local coberto.

» Piscinas: trate a água com cloro e limpe-a uma vez por semana. Se não for usá-la, cubra-a bem. Se estiver vazia, coloque um quilo de sal no ponto mais raso.

» Lixeiras dentro e fora de casa: feche bem o saco plástico e mantenha a lixeira tampada.

» Caixas-d’água, cisternas e poços: mantenha-os bem fechados e tampe aqueles que não tiverem tampa própria

» Garrafas PET e de vidro: embale para recolhimento todas as que não for usar. Se for guardá-las, ponha sempre a boca para baixo.

» Pratinhos de vasos de plantas e xaxins dentro e fora de casa: elimine-os.

FONTE: SES 

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