sábado, 17 de novembro de 2012

Filho mais velho (Marcelo Rubens Paiva) - Carlos Herculano Lopes‏

Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva, completa três décadas. Escritor lança coletânea de histórias e fala de sua relação com o cinema e o teatro 

Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 17/11/2012 
Um dos ícones da sua geração, pelo lançamento, há 30 anos, do autobiográfico Feliz ano velho, no qual conta de uma maneira crua e emocionante a história do acidente que o deixou tetraplégico, o jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva, obviamente bem mais maduro e experiente, acaba de publicar o livro As verdades que ela não diz, que reúne contos e crônicas dos últimos 10 anos.

Profissional organizado, que não costuma jogar fora nenhum escrito, Marcelo conta que, da última década para cá, foi colocando num arquivo, chamado Separações, um monte de escritos: trechos de filmes que não foram aproveitados, de peças que não foram encenadas, esboços de contos e crônicas, textos aleatórios e vai por aí, sem pensar muito se, no futuro, poderiam ou não ser aproveitados. 

Isa Pessoa, da Editora Foz, ficou sabendo do processo e pediu para ler os originais. Não deu outra: gostou muito e propôs a Marcelo publicar um livro a partir daqueles guardados. “O que fiz, então, foi selecionar o que julgava melhor. Deu bastante trabalho para separar tudo aquilo. Algumas poucas histórias, é verdade, tinham sido publicadas na minha coluna no Estado de S. Paulo, no meu blog e algumas revistas. Mas a grande maioria era inédita e algumas coisas me surpreenderam”, conta Paiva.

Bom para os leitores, que com o lançamento de As verdades que ela não diz poderão desfrutar de ótimas histórias que falam de traição e fidelidade, encontro e desencontro entre as pessoas, separação de casais, buscas e sonhos que podem ou não se realizar. Tudo escrito com bastante humor, numa linguagem moderna e com um diálogo impecável, que é uma das marcas registradas do escritor. 

Nascido em São Paulo, em 1959, Marcelo Rubens Paiva, antes de sofrer o acidente que o deixou numa cadeira de rodas, com 20 anos, já havia passado por outro trauma terrível, quando tinha apenas 11: o desaparecimento e morte do seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva, que depois de ter sido sequestrado por agentes da ditadura civil-militar, no Rio, em janeiro de 1971, nunca mais foi encontrado. 

Com 52 anos, autor de vários livros, roteirista de cinema e dramaturgo premiado, Marcelo Rubens Paiva vive em São Paulo.

Há 30 anos, causando grande furor, você lançou Feliz ano velho, que virou peça de teatro, filme e foi traduzido para diversas línguas. O que o livro continua significando para você?

Feliz ano velho é um filho que deu mais certo que o pai, ele fez tanto sucesso que o pai tem até um pouco de orgulho dele. Não prevemos nada, mas não é preciso dizer que ele foi muito importante para a minha vida pessoal, já que me introduziu numa carreira deslumbrante, como para uma geração que se viu representada.

Foi muito doloroso se expor daquela maneira. Depois de Feliz ano velho, como você costuma falar de si próprio?


Falo de mim através da ficção. Como na peça No retrovisor, em que abordo um deficiente físico que, no fundo, sou eu.

E sua relação com o teatro e com o cinema, como tem andado? Costuma palpitar muito quando adaptam alguma coisa sua?
Atualmente, me meto a dirigir minhas peças, uma nova doença que nasce. Não só palpito como sou eu quem escreve os roteiros. Nuns palpito mais, noutros nem acompanho a montagem, depende do coração aberto a palpites do diretor e produtor.

E da adaptação para o cinema de E aí, comeu? Por que você acha que fez tanto sucesso?

A peça já tinha sido um grande sucesso, de público e crítica, sabíamos que o filme também seria, porque retrata um ambiente de bar, em que a filosofia de vida é escrita com muito humor. 

Seus textos são bem elaborados, os diálogos impecáveis. Costuma trabalhá-los muito, reescreve?

Sim, reescrever é um vício, ainda mais com a facilidade de escrever e deixar textos nas nuvens, posso reescrevê-los até no metrô. Trabalho muito os diálogos, mas também é uma técnica construída na dramaturgia. Venho da escola teatral, onde se conta a trama, a psique dos personagens e os conflitos dramáticos através das falas. O narrador teatral não existe, é o diálogo.

Como está vendo a sociedade, a relação entre as pessoas, das quais você fala em As verdades que ela não diz? Acha que a moçada anda mesmo perdida?
Também diziam quando eu era jovem que a moçada era perdida. A tal geração AI-5, ou Coca-Cola, está no poder e provou que fez muita coisa de qualidade no teatro, cinema, literatura e música. Acho melhor não julgarmos a que vem surgindo agora.

Quais são seus novos projetos?


Estou fazendo com o diretor Afonso Poyard, de 2 coelhos, o roteiro do lutador de MMA José Aldo, garoto pobre que nasceu em Manaus, morou em favelas cariocas e hoje é um dos ídolos do UFC. O filme se chamará Luta livre. 

As verdades que ela não diz
. De Marcelo Rubens Paiva
. Editora Foz, 190 páginas

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