sábado, 17 de novembro de 2012

Reintegração de nove ensaios devolve peso à obra "Evolução Política do Brasil"


CRÍTICA / HISTÓRIA
Reintegração de nove ensaios devolve peso à obra "Evolução Política do Brasil"
OSCAR PILAGALLOESPECIAL PARA A FOLHAPublicado originalmente em 1933, "Evolução Política do Brasil", de Caio Prado Jr., representou uma ruptura na historiografia do país.
Pela primeira vez, um autor usava conceitos marxistas para explicar a trajetória política dos períodos colonial e imperial.
Quase oito décadas mais tarde, o livro, radical e pouco ortodoxo, leva o leitor de hoje a imaginar o forte impacto daquela análise na intelectualidade de esquerda dos anos subsequentes.
A "Evolução Política" paga o preço do pioneirismo. Algumas chaves de leitura, de qualquer maneira, seriam para sempre incorporadas ao repertório das esquerdas.
Uma delas é a de que o período conturbado entre os dois reinados teve mais a ver com luta de classe do que com simples desordens.
Caio Prado foca sobretudo a sublevação dos cabanos, no Pará, entre 1833 e 1836, o único movimento "em que as camadas inferiores da população conseguem ocupar o poder de toda uma província com certa estabilidade".
Essa e outras insurreições, como a Revolta dos Balaios, acabaram sendo sufocadas. "O Império afinal se estabiliza no seu natural equilíbrio: a monarquia burguesa", escreve o autor.
O escritor pinta o painel histórico com grandes pinceladas. Assim, nos primórdios, a colonização decorre da ação de uma "burguesia comercial sedenta de lucros".
Na sequência, vem a menção ao mercado interno, "limitadíssimo" pelas condições da população colonial e pelas dificuldades de comunicação.
É a gênese da polêmica da ideia de que o Brasil estava destinado a atender o mercado externo, e que esse seria o "sentido da colonização".
A tese, desenvolvida em "Formação do Brasil Contemporâneo", tornou-se polêmica porque estudos posteriores demonstraram que havia um mercado interno, informação subestimada pelo autor.
A presente edição de "Evolução Política" reúne outros nove ensaios que integravam a edição de 1953, desmembrada desde 1983. A decisão devolve peso à obra.
É o caso da abordagem do jornal "Tamoio", que circulou no Rio em 1823 como porta-voz do pensamento de José Bonifácio, que, ex-ministro de dom Pedro 1º, combatia os portugueses.
Hostil aos colonizadores enquanto indivíduos nascidos no reino, o jornal, segundo Prado, se perdia em ataques estéreis.
O jornal e o político não têm culpa, mas, diz o autor, carregam "pequena parcela de responsabilidade" por uma evolução política marcada pelo reacionarismo.

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