sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Mulheres lideram premiação do Jabuti


Escritora Stella Maris Rezende e jornalista Miriam Leitão venceram os prêmios mais importantes do evento, os livros do ano
Elas irão receber R$ 35 mil; o crítico Rodrigo Gurgel, jurado que deu zero para medalhões, não foi à cerimônia
Avener Prado/Folhapress
Stella Maris Rezende (centro) - Vencedora da categoria Juvenil e Livro do ano ficção
Stella Maris Rezende (centro) - Vencedora da categoria Juvenil e Livro do ano ficção

DE SÃO PAULOFoi das mulheres a cerimônia de entrega da 54ª edição do Prêmio Jabuti, que ocorreu anteontem na Sala São Paulo. Pela primeira vez duas escritoras venceram os prêmios mais importantes do evento no mesmo ano.
Stella Maris Rezende, 62, ganhou o livro do ano de ficção por "A Mocinha do Mercado Central" (ed. Globo).
Já a jornalista Miriam Leitão, 59, colunista de economia do jornal "O Globo", recebeu o livro do ano de não ficção por "Saga Brasileira: A Longa Luta de um Povo por sua Moeda" (ed. Record).
Ambas foram escolhidas entre os primeiros colocados das 29 categorias do Jabuti. Vão levar R$ 35 mil cada uma. Os livros do ano, última etapa do Jabuti, são eleitos por jurados das fases anteriores e representantes do mercado.
Na cerimônia os vencedores de todas as categorias do Jabuti (veja alguns no quadro abaixo) subiram ao palco para receber as condecorações. Cada um irá receber R$ 3.500.
Stella Maris Rezende foi a recordista de troféus da noite: recebeu três no total. Num fato também raro, ela conquistou os dois primeiros lugares da categoria juvenil com os livros "A Mocinha..." e "A Guardiã dos Segredos de Família" (ed. SM).
"Acho que todos esses prêmios são importantes para voltar os olhos para os livros juvenis. Quando escrevo, não penso que estou fazendo algo juvenil, e sim um romance", contou Rezende.
Miriam Leitão, cujo livro premiado retrata a história econômica recente do país, disse que pretende estrear em outro gênero agora. Ela está negociando a publicação de três livros infantis já concluídos.
A vitória feminina marcou uma edição do Jabuti que também será lembrada pelas controversas notas atribuídas na categoria romance.
Como a Folha já havia antecipado, o jurado C, que deu notas muito baixas para alguns dos favoritos, é o crítico Rodrigo Gurgel. Além dele, participaram do júri da categoria Amilton Pinheiro e Suzana Ventura.
Gurgel deu notas zero para Ana Maria Machado, por exemplo, e favoreceu estreantes como Oscar Nakasato, que venceu a categoria romance com "Nihonjin".
Gurgel não foi ao evento. "Já fui jurado outras três vezes e nunca fui à cerimônia. Não tenho o hábito de sair."
Nas redes sociais comentou-se que o fato de Nakasato não levar o livro do ano de ficção teria sido uma resposta do mercado à atuação de Gurgel.
"Não acredito que tenha havido uma ação organizada nesse sentido, mas a vitória da Stella me deixou muito feliz", diz José Luiz Goldfarb, curador do Jabuti.

Mineiridade marca obra de grande vencedora do evento
MARCIO AQUILESDE SÃO PAULOApós ser laureada com mais de 30 prêmios em três décadas de carreira literária, Stella Maris Rezende obteve a mais almejada a consagração das letras: o Livro do Ano de Ficção do Prêmio Jabuti por "A Mocinha do Mercado Central" (editora Globo).
A autora já havia levado o primeiro e segundo lugar na categoria juvenil com "A Mocinha..." e "A Guardiã dos Segredos de Família" (ed. SM).
Louros à parte, a prosa de Stella é mais inclinada a discrição, como nota-se em sua afirmação após receber o prêmio. "Para mim, a literatura é a arte que fala por silêncios e cala por palavras."
A autora, que nasceu em Dores do Indaiá e viveu parte da infância em Belo Horizonte, destaca a presença do imaginário de Minas Gerais em sua literatura.
"Meu projeto estético reverbera o linguajar mineiro, a poeticidade, o ritmo da fala, a musicalidade das palavras, uma visão de mundo carregada de mistérios, segredos, meios-tons, mineiridade pura", afirma a escritora.
Sobre suas duas obras contempladas com o Jabuti, Stella aponta características similares presentes nas duas narrativas e que também perpassam a sua bibliografia.
"São encontrados em todos os meus livros o rompimento com a expectativa do leitor, a transgressão, elipses, metáforas, ironias, a fuga ao lugar-comum e aos estereótipos, nada de concessões a modismos, nenhuma intenção didática", aponta.
CATANDO PALAVRAS
Ao ser questionada sobre seu procedimentos de criação, Stella o compara ao poema "Catar Feijão", de João Cabral de Melo Neto, que retrata a concepção da escrita.
"Eu corto cenas, retiro palavras, reorganizo, busco a concisão, a pausa, o silêncio, e os vazios que esperam pela coautoria do leitor, que é a pessoa mais importante nesse processo. É ele quem terminará a história, reinventando-a, tornando-a sempre nova a cada releitura."
Além da mineiridade e de seu cuidadoso trabalho de edição, a autora reforça o imaginário infantojuvenil em seus escritos. "Minhas histórias conversam com a memória de infância e adolescência, com os livros que leio e releio."
No final dos anos 1970 e no início dos 80, Stella interpretou a Fada Estrelazul do programa "Carrossel", da TV Manchete, e Tia Stella, no programa "Recreio", da Record.
Hoje em dia, além de escrever, ela dedica-se a ser contadora de histórias pelo YouTube. "Sou antiga e moderna, sou a fada das palavras."

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