domingo, 30 de dezembro de 2012

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » Por falar em futuro‏


Estado de Minas: 30/12/2012 
Eis uma frase perturbadora: “O futuro já está aqui. Só que distribuído de forma desigual”. É de Willian Gibson, que criou a palavra “ciberespaço”. 

Se isto é verdade, então, o futuro está ocorrendo agora, no presente, mas muitas pessoas não sabem disto. Por exemplo: só fomos tomar conhecimento da internet em 1990. No entanto, nos anos 60 os militares americanos já a utilizavam. Eles estavam no futuro e nós no passado. Igualmente, nos laboratórios mais avançados, as pessoas vivem em 2020, 2050 e a gente aqui pregado neste 2012, aspirando ao 2013.

Isto me faz lembrar do que ouvi num sermão: o pastor contou que um missionário na África conseguiu converter o chefe de uma tribo ao cristianismo. Mas o convertido fez-lhe uma queixa grave: “Como é que esse Cristo morreu há 2 mil anos e só agora o senhor vem me contar isto?”.

Entrar numa religião, numa ideologia, numa filosofia de vida, é habitar outro tempo e espaço.

Bem dizia Santo Agostinho, na verdade o tempo é uma ilusão e só existe o presente do passado, o presente do presente e o presente do futuro.

Agora, durma com o “presente” desses!

O fato é que nesses dias pus-me a ler o livro A física do futuro (Editora Rocco). É uma ideia conveniente na passagem do ano. Não estamos indo para o amanhã? Então temos que saber o que é isto. O autor Michio Kaku é professor de física e tenta explicar aos leigos também em programas de rádio e televisão a teoria quântica e os buracos negros.

Como já lhes disse, gosto de ler coisas sobre ciência, porque ela é poesia pura. Os cientistas vivem no mundo da Lua. E tentam melhorar a vida dos que vivem na Terra.

Enquanto na passagem do ano as pessoas estão jogando na Mega-Sena e fazendo previsões assombrosas, esse Michio Kaku faz uma coisa mais rasteira e perturbadora. Nos contou as coisas que já estão ocorrendo nos laboratórios e que nós, pobres mortais, ignoramos. Coisas que só saberemos em 2030, 2050 e 2100. Mas que já existem.

Ou seja, o futuro está acontecendo aqui e ali, e nós estamos por fora. Pior, estão inventando o futuro e não estão pedindo nossa opinião, porque o nosso futuro não nos pertence. A ciência nos roubou o futuro. Ou, se quiserem: a ciência quer nos dar de presente (um futuro) sem nos perguntar se queremos.

Isto está parecendo a frase daquele filme Forest Gump: o tenente que foi salvo da morte na guerra do Vietnã reclama: “Você roubou meu destino”. É isto: andam mexendo com nossa vida e com nossa morte sem nos pedir licença.

Claro que algumas coisas serão maravilhosas: vão curar todas as doenças, melhorar as colheitas e moveremos objetos com o pensamento. 

Estou nesse clima de fim de ano, pensando no futuro, lendo esse livro e resolvo cair no real do cotidiano, ler o jornal. Claro, o jornal, como se sabe, já é coisa do passado, quando ele chega a internet já o ultrapassou. 

Mas algo me chamou a atenção, ou melhor, deixou-me boquiaberto: li a notícia de que acabam de disponibilizar uns óculos que substituem o computador. Havia acabado de ler naquele livro que isto ia ser inventado futuramente. 

E o futuro estava ali, presentificado, aos meus olhos.

“O futuro já está aqui. Só que distribuído de forma desigual.”

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