domingo, 30 de dezembro de 2012

Perspectivas 2013

FOLHA DE SÃO PAULO

Confira as previsões de jornalistas da Folha para o ano que começa depois de amanhã
MELCHIADES FILHODIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
POLÍTICA
Dilma fica acuada e PMDB, revigorado
Dilma Rousseff chega à metade do mandato com popularidade recorde, base partidária intacta, a vitória eleitoral mais crucial de 2012 e um cardápio de medidas para aquecer a economia.
Nada, porém, permite antever um 2013 tranquilo para o governo e para o PT.
O desfecho do mensalão ainda está distante. Haverá o impacto midiático da prisão dos condenados. E, ainda que o STF dê início à apreciação do braço tucano do escândalo, a maior expectativa é se será ou não instalado um outro inquérito-mãe, amparado em novas revelações de Marcos Valério.
Nesse segundo "round", procuradores e policiais investigariam a suposta participação de Lula no esquema de desvio de dinheiro público para a compra de apoio parlamentar. Assessores do ex-presidente, como o faz-tudo Freud Godoy e o tesoureiro Paulo Okamotto, teriam as vidas devassadas.
Existem ainda as pendências da Porto Seguro, operação da PF que causará constrangimentos à medida que vazarem e-mails apreendidos no escritório e na casa da ex-assessora íntima de Lula.
No limite, os dois casos poderão manchar o governo Dilma e resultar na interdição eleitoral de Lula, trauma que o Planalto e o PT parecem não descartar. Gilberto Carvalho, ministro e porta-voz lulista, convocou a militância às ruas porque o "ano será brabo". Lula avisou que sairá em caravana pelo país para defender o "legado".
Outro fator de instabilidade é a economia. Até aqui, o hiperativismo da equipe dilmista não engajou o empresariado. Talvez seja impossível tutelá-lo e ao mesmo tempo convencê-lo a investir.
Esse capitalismo de "lucro tabelado" e os resultados anêmicos do PIB levam a iniciativa privada a buscar alternativa na política. O assediado da vez é o governador Eduardo Campos (PSB-PE).
É prematuro apostar em ruptura, mas não em corrosão. O provável é que um núcleo de siglas médias (PSB, PDT, o PSD kassabista) flutue dentro da coalizão, enquanto avalia a conjuntura e recruta apoio e financiamento para voo próprio.
Dilma, assim, aos poucos se vê empurrada para outro aliado, este sem projeto solo.
No governo, o PMDB já faz o papel de ouvidor dos setores insatisfeitos da economia. Tem no vice-presidente Michel Temer o melhor nome para aproximar os três Poderes, atritados em razão da hipertrofia do Executivo e agora também do Judiciário. E deverá tomar o comando do Congresso, com Renan Calheiros (Senado) e Henrique Alves (Câmara). É nessa legenda versada em driblar e fabricar crises que a presidente terá de confiar.
Resumo: o PT estará forte mas na linha de tiro, a oposição ganhará contorno dentro da base, e o PMDB poderá virar o fio-terra da República.

    ECONOMIA
    Brasil e mundo despioram devagar no ano que vem
    VINICIUS TORRES FREIRECOLUNISTA DA FOLHANos próximos dias, o Congresso dos Estados Unidos pode condenar o país à recessão em 2013. Se mal sabemos o que vai ser da maior economia do mundo na semana que vem, que dirá do ano que vem inteiro.
    A irresponsabilidade politiqueira nos EUA não deve chegar tão longe, mas no curto prazo, para o ano que vem, cortes de gastos públicos e aumentos de impostos, agendados por lei para vigorar em 2013, vão limitar o crescimento. A dúvida é a respeito do tamanho do tombo nesse "abismo fiscal".
    Como o desemprego está alto, como as famílias ainda se desfazem de dívidas e o ânimo dos empresários não está lá essas coisas, dada a perspectiva de lucros decepcionantes, dos EUA não deve vir impulso para a retomada mundial.
    Na melhor das hipóteses, a Europa do euro não cresce nada em 2013. A Europa tem algum impacto no crescimento daqui. Derruba ânimos, dado o seu crescimento baixo e risco de catástrofe, e porque importa menos dos nossos produtos.
    A China deve crescer um bocadinho mais, mas de modo diferente, "em transição" de um modelo de exportação e superinvestimento para um padrão mais baseado em consumo doméstico, entre outras transições e problemas.
    Isso importa para o Brasil porque exportamos muito para a China, que vai continuar a consumir muita comida brasileira, mas provavelmente menos do resto, em especial minérios e metais. A vizinhança chinesa revê sua expectativa de crescimento para baixo.
    Ou seja, visto pelo binóculo míope e embaçado dos economistas, e ainda antes mesmo de começar, 2013 não parece muito animador, se considerado o ambiente externo.
    Talvez o risco de catástrofes, como uma explosão europeia, seja agora menor, dados os remendos de 2012. O problema das catástrofes econômicas é que elas surgem de onde se menos espera.
    O ambiente doméstico em tese pode melhorar. A taxa de juros básica está baixa, menos de 2% em termos reais. Mas pouco se sabe sobre o comportamento da economia brasileira sob juros em baixa recorde.
    O câmbio está mais favorável para as empresas, muitas ainda beneficiadas por impostos menores, proteção comercial (barreira contra importados) e, talvez, por custos menores com energia elétrica.
    Há capacidade ociosa razoável nas fábricas, e o nível de estoques (produtos encalhados) diminuiu. A renda dos brasileiros terá crescido uns 5% em 2012, e o desemprego é baixíssimo. Em tese, tudo isso favorece um crescimento maiorzinho em 2013.
    Para ajudar, pode ser que o governo consiga investir um pouco mais, apesar da receita de impostos estar crescendo pouco. Além do mais, depois de dois anos de "estágio no emprego", o governo talvez tenha aprendido a investir. Algumas privatizações de obras de serviços públicos podem começar a andar (aeroportos, portos), dando mais um piparote no crescimento.
    Porém, o crescimento depende também dos humores de quem investe e consome. Há empresário de orelha em pé por causa das intervenções do governo no mercado; ainda há medo de rolos nos EUA ("abismo fiscal"), Europa e China.
    De resto, o desempenho brasileiro foi muito frustrante no biênio 2011-2012. Muita gente está esperando para ver, numa atitude do tipo "vai indo que por enquanto eu não vou", o que pode outra vez retardar a retomada.
    Há incertezas "macro". Por exemplo, o que acontece quando uma economia com desemprego baixo, salários relativamente altos e no entanto quase estagnada volta a crescer? Custos de mão-de-obra ainda maiores? Isto é, mais inflação?
    Ou a economia tem máquinas e trabalhadores de sobra, que podem ser utilizados de modo mais intenso?
    Enfim, parece que 2013 será melhor. Por ora, parece um melhor medíocre. Que sempre é melhor que um medíocre piorado, como 2012.

      CIÊNCIA
      Passeio de 'fusca' em Marte é a atração
      REINALDO JOSÉ LOPESEDITOR DE “CIÊNCIA+SAÚDE”No ano que está chegando, os olhos do mundo todo vão estar voltados, mais uma vez, para o planeta vermelho, e para a máquina do tamanho de um Fusca que a Nasa colocou lá em 2012.
      O jipe-robô Curiosity já tirou belas fotos em HD, já calibrou seus instrumentos e fez suas primeiras análises químicas do solo de Marte. A ordem agora é intensificar as investigações para saber se algum tipo de molécula orgânica -os "tijolos" químicos com os quais os seres vivos são construídos- está presente no chão marciano. É um passo crucial para saber se o vizinho da Terra abriga ou abrigou vida microbiana.
      Outro astro do noticiário científico do ano que passou, o bóson de Higgs (ou a "partícula de Deus", como ficou mais conhecido), ainda deve dar o que falar em 2013. O acelerador de partículas LHC, onde pistas fortes do bóson foram achadas, aumentará seu nível de energia, o que deve confirmar de vez a existência do bóson e, com alguma sorte, detalhar mais suas características -dados importantes para saber como encaixá-lo no quadro mais amplo da física contemporânea.
      Ainda na seara espacial -ou melhor, cosmológica-, há muita expectativa em relação aos resultados do satélite europeu Planck, que devem sair no ano que vem.
      O Planck deve produzir o mapa mais detalhado já feito da chamada radiação cósmica de fundo. Esse brilho difuso na faixa das micro-ondas é um retrato da estrutura do Universo em sua infância, e mapeá-lo com a máxima precisão possível ajudará os cientistas a entender tanto essa época remota quanto o futuro do Cosmos.
      Numa escala bem mais próxima da do cotidiano, mas num nível comparável de complexidade, está o Projeto Conectoma Humano, no qual os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA estão investindo quase US$ 80 milhões. O plano: mapear as conexões cerebrais de 1.200 adultos saudáveis, incluindo 300 gêmeos idênticos. Resultados mais detalhados desse esforço, o qual, em tese, poderia ajudar a entender como diferenças no cérebro levam a diferenças de comportamento, devem sair no ano que vem.

        MUNDO
        Agenda lotada aguarda EUA e China
        FÁBIO ZANINIEDITOR DE “MUNDO”A dupla que hoje domina o mundo -EUA e China- estará bastante ocupada em 2013. Os americanos têm em Barack Obama um presidente revigorado em busca de um legado. Uma reforma imigratória, em que mais descendentes de latinos passem a ter direitos de cidadãos americanos, é uma boa aposta de agenda positiva para o ano que vem. Após o massacre de crianças em Connecticut, algum tipo de controle de armas entrou na agenda. Mas vencer o lobby dos atiradores é mais difícil do que o presidente tenta fazer crer.
        A outra metade do G2 empossa como presidente Xi Jinping em março (desde novembro ele já chefia o Partido Comunista). Pode-se esperar da nova liderança chinesa tudo, até uma chacoalhada política no país. Democracia ao estilo ocidental está fora de questão, mas eleições controladas para postos locais podem ocorrer. O maior risco é o de que a nova musculatura militar chinesa acabe em crise séria com os japoneses, por causa de ilhotas no Pacífico.
        O Oriente Médio continuará a encher páginas de jornal. Israel vai atacar o Irã? Difícil, mas quem se arrisca a descartar a possibilidade? Menos provável é um reinício sério das negociações com palestinos, mas, de novo, nada é impossível. Um governo de direita reeleito em Israel e o Hamas fortalecido em Gaza podem ter um momento Nixon vai à China: apenas os radicais têm um colchão político para fazer concessões.
        Ainda na região, o Egito deve se consolidar como um Estado islâmico light (mais islâmico do que light, é verdade). Bashar Assad dificilmente chegará ao próximo Natal no poder, mas muita gente também previa que ele não comeria castanhas no 25 de dezembro passado.
        Grandes personalidades continuarão ditando muito da política internacional em 2013. O quase certo afastamento de Hugo Chávez afetará intensamente o país que ele moldou ao redor de si nos últimos 14 anos, a Venezuela. O fim do mandato de Mahmoud Ahmadinejad, em agosto, poderá tirar o Irã um pouco da condição de pária. Da reeleição de Angela Merkel, em setembro, depende o futuro do euro. E um espectro assombra os mercados: a volta de Berlusconi, em fevereiro. Improvável, mas nunca subestime a capacidade italiana de transformar o mundo em uma ópera-bufa.

          ESPORTE
          Extracampo conta mais em Evento-Teste
          ALEXANDRE NOBESCHIEDITOR DE “ESPORTE”Não queria ser pessimista, mas o Brasil tem tudo para passar um "carão" no ano esportivo que se avizinha.
          E não será pelos resultados das competições, mas, sim, pelo que não conseguirá fazer fora delas, sobretudo na Copa das Confederações.
          A esta altura o leitor-torcedor já está -como diz o ditado popular- careca de saber que o torneio é o desafio-mor do esporte no Brasil em 2013.
          A competição é curta. Terá apenas 15 dias de duração (entre 15 e 30 de junho) e reunirá Brasil, Espanha, Itália, Uruguai, Japão, México, Taiti e uma seleção africana a definir. Só que o evento é essencial para a realização da Copa do Mundo em 2014.
          O evento-teste importa mais para avaliar a estrutura (aeroportos, transporte público, segurança, hotéis e estádios) e menos por seu apelo futebolístico -embora ainda se busque a seleção ideal.
          A projeção não é das mais animadoras. Obras que seriam um legado por recebermos o evento não ficarão prontas até junho e muitas outras já se sabe que serão entregues só após a Copa.
          As seis cidades que receberão as seleções -estão nesta lista Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Salvador- deveriam ter até o início da disputa 31 obras de melhorias em transporte e aeroportos.
          Até agora, a única que saiu foi o "puxadinho" no aeroporto internacional de Brasília, que custou R$ 4 milhões. A Copa das Confederações vai durar pouco na memória do torcedor, mas os prováveis transtornos vividos ficarão na cabeça de quem tenciona voltar para o Mundial de 2014.
          Competição que deve mesmo mexer com o fã de futebol é a Taça Libertadores.
          O torneio contará com os três grandes clubes da capital paulista, além de Fluminense, campeão Brasileiro, Grêmio e Atlético-MG.
          O time do Parque São Jorge, atual campeão, jogará como favorito e sem a pressão de nunca ter conquistado a América. A equipe do Morumbi, tricampeã, terá sua tradição posta à prova em jogo preliminar no próximo dia 23.
          O Palmeiras pode até surpreender os rivais, mas deve mesmo ser coadjuvante.
          Irritado, o leitor menos afeito ao futebol deve estar se perguntando sobre as outras modalidades. Haverá os mundiais de atletismo e de natação. Levando em consideração o que fizemos na Olimpíada, não espere muito. E Felipe Massa na Ferrari? Fernando Alonso contará com ele para ser tricampeão.


          CULTURA
          Mais livros, menos shows
          FERNANDA MENAEDITORA DA “ILUSTRADA”Um ano antes de o Brasil ganhar os holofotes do mundo na Copa de 2014, a bola vai rolar no campo do mercado editorial brasileiro.
          Em 2013, os principais times de editores do planeta voltarão seus olhos para a produção nacional durante a Feira Internacional do Livro de Frankfurt, a maior vitrine global do setor, que homenageará o país no ano que vem.
          Trata-se de uma ótima oportunidade para um mercado que ainda é tímido internacionalmente, apesar de crescer dentro das fronteiras.
          Por aqui, editores e livreiros vivem seu momento best-seller: criam selos populares para acolher uma nova classe média que começa a descobrir os livros e a se acotovelar nas grandes redes de livrarias aos finais de semana.
          O ano de aquecimento para a Copa é também o momento equilibrar a balança cultural em outros setores.
          Se, nos últimos dois anos, os brasileiros viveram sua era de ouro dos festivais e megashows internacionais, em 2013 o cenário deve mudar.
          O encalhe de ingressos para apresentações da diva Madonna e da neodiva Lady Gaga apontam que a "bolha dos shows" pode ter estourado em 2012. O suspense em relação a grandes festivais como Summer Soul, SWU e Planeta Terra confirma que, em 2013, o horizonte da música pop por aqui será diferente.
          A nova lei da TV paga, que determina cotas de conteúdo nacional nos canais a cabo, vai turbinar a produção audiovisual no país e misturar temas e cores brasileiros aos enlatados de sucesso.
          O Brasil que é destino de musicais, concertos e exposições internacionais terá, além da visibilidade proporcionada pelos megaeventos esportivos de 2014 e 2016, o empurrãozinho de uma ministra que, em três meses à frente da pasta, demonstrou ter força política para movimentar a agenda da cultura.
          Desde que assumiu o MinC, Marta Suplicy conseguiu aprovar o projeto do Vale-Cultura, que tramitava no Congresso desde 2009.
          O benefício de R$ 50 a trabalhadores que ganham até cinco salários mínimos (R$ 3.390) para o consumo de produtos culturais deve ser implementado em julho e injetar R$ 7 bilhões ao ano no setor cultural.
          A primeira grita é de que essa grana será majoritariamente gasta em produtos e atrações já consagrados. A segunda é que muitos desses produtos e eventos já foram bancados com dinheiro incentivado, ou seja, o contribuinte pagaria a conta duas vezes: na produção e na bilheteria ou no balcão.
          O debate é bom e promete esquentar em 2013.

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