terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Brasileiro segue otimista com economia

FOLHA DE SÃO PAULO

Datafolha mostra que, após um 2012 fraco, 44% acreditam em melhora neste ano, mas com inflação mais alta
Para 57%, situação econômica pessoal vai progredir; otimismo é menor entre aqueles de maior renda
PATRÍCIA CAMPOS MELLODE SÃO PAULOO "pibinho" não abalou as expectativas dos brasileiros.
Apesar do desempenho pífio da economia em 2012, com crescimento que deve ficar abaixo de 1%, quase metade dos brasileiros acredita que a economia do país vai melhorar nos próximos meses.
Esse otimismo moderado apareceu em pesquisa nacional feita pelo Datafolha em 13 de dezembro, em 160 municípios. Para 44% dos 2.588 entrevistados, a economia vai melhorar; 38% acreditam que ficará como está e 13% acham que vai piorar. Não opinaram 5%. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Em janeiro de 2012 -antes, portanto, do PIB decepcionante-, a percepção dos brasileiros sobre o futuro da economia era praticamente a mesma: 46% achavam que ia melhorar, 13% apostavam em uma piora e 37% acreditavam que ficaria igual.
Os brasileiros com renda entre cinco e dez salários mínimos são os mais otimistas: 48% apostam na melhora da economia. Os mais pessimistas são os de maior renda (mais de dez salários mínimos) -16% acreditam que a situação vai piorar. A renda dos 10% mais pobres da população foi a que mais cresceu entre 2001 e 2009.
SITUAÇÃO PESSOAL
Os entrevistados se mostram esperançosos quanto à sua situação econômica. A maioria, 57%, acha que sua situação pessoal vai melhorar, enquanto 31% acreditam que ela não vai mudar. Apenas 8% dizem que vai piorar.
O desemprego tampouco desperta preocupações. A taxa medida pelo IBGE ficou em 4,9% em novembro, a menor para o mês desde 2002.
Segundo o Datafolha, 33% dos brasileiros acham que o desemprego vai diminuir; 31%, que vai ficar como está, e 33%, que vai subir -resultado semelhante ao da pesquisa de janeiro.
Mas o brasileiro se mostra mais receoso em relação à inflação, que deve ficar acima do centro da meta de 4,5% em 2012. Segundo última pesquisa do Banco Central de 2012, a estimativa de mercado é que o IPCA feche o ano em 5,71%. Segundo o Datafolha, 44% das pessoas acham que a inflação vai subir; 13%, que vai diminuir, e 37%, que vai ficar como está.

    Empresariado mostra confiança com moderação
    DE SÃO PAULOApesar do fraco crescimento de 2012, grande parte dos empresários e investidores acredita que as medidas de incentivo ao investimento vão finalmente render frutos em 2013.
    O otimismo, no entanto, é moderado: aposta em um avanço do PIB de cerca de 3%, abaixo do "Pibão grandão" almejado pela presidente Dilma Rousseff, que seria de cerca de 4%.
    Mohamed El-Erian, presidente-executivo da Pimco, uma das maiores administradoras de recursos do mundo, com US$ 1,92 trilhão em ativos, projeta um crescimento de 3% para o PIB brasileiro.
    "O crescimento global mais lento e a desaceleração da China tiveram impacto. Esses fatores externos evidenciaram o que ainda precisa ser feito no Brasil em termos de produtividade, como as reformas de segunda geração, muito necessárias", afirmou El-Erian à Folha. "Em 2013, teremos a resposta das medidas monetárias e fiscais adotadas em 2012."
    Armínio Fraga, ex-presidente do BC e fundador da Gávea Investimentos, não arrisca números, mas espera recuperação.
    "Houve estímulo macroeconômico, com corte de juro e alta do câmbio, e o período recessivo deve estar no fim", disse. "Mas falta elevar o investimento e a produtividade, para crescer de forma sustentada."
    Para Jim O'Neill, economista que cunhou o termo Brics, o Brasil sofreu com "a sobrevalorização do real e expectativas irrealistas sobre a contínua alta das commodities".
    "Com a melhora nas condições financeiras e algumas das medidas fiscais, acho que uma expectativa de crescimento entre 3% e 4% é razoável", disse O'Neill, que preside o conselho da Goldman Sachs Administração de Ativos.
    INDÚSTRIA
    A indústria, cuja competitividade foi afetada em 2012, também está moderadamente otimista. "Vamos iniciar o ano com câmbio a R$ 2,10, ante R$ 1,60 em 2012, com Selic a 7,25%, ante 11%, e redução de tarifas de energia. Isso vai melhorar nossa competitividade", afirmou Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
    "O ano passado é para esquecer. Nossa receita vai cair de 2% a 3% e muitos dos fabricantes de máquinas se tornaram importadores", disse Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq, associação dos fabricantes de máquinas.
    Segundo ele, a prorrogação de financiamentos do BNDES pode ser um estímulo, mas limitado.
    "Ninguém compra máquina só porque os juros estão negativos. Só vão investir quando tiverem mais segurança de que haverá mercado." Mas ele se diz mais otimista.
    "Estamos trocando uma economia especulativa por uma baseada em produção; isso leva tempo."

      Mercado espera PIB abaixo de 1% em 2012
      DE SÃO PAULOA previsão de analistas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2012 recuou para menos de 1% pela primeira vez.
      A última edição do ano da pesquisa semanal Focus -feita pelo Banco Central com cerca de cem bancos e consultorias -, divulgada ontem, aponta um crescimento de 0,98% em 2012.
      Se confirmado, o resultado será menos de um terço do que esperavam os economistas na virada de 2011 para 2012, quando previam uma expansão de 3,3%.
      A taxa básica de juros também caiu mais -dos 9,5% esperados no início do ano para os atuais 7,25%.
      Em 2012, o BC colocou os juros em baixa recorde e o governo lançou mão de desonerações tributárias. Tudo para evitar o baixo crescimento, mas o resultado não saiu como o esperado.
      "Os juros não conseguiram estimular a economia, os investimentos não vieram", afirma Marcelo Kfoury, economista-chefe do Citibank.
      Na opinião dele, a transmissão desse estímulo para a atividade foi interrompida, com os bancos menos dispostos a emprestar diante da inadimplência em alta: "O juro baixo é condição necessária para estimular a economia, mas não é suficiente".
      Sem capacidade de competir com importados, a indústria registrou queda da produção -que, segundo analistas, deve recuar 2,31%.
      A crise externa também abalou as expectativas de empresários, que congelaram planos de investimento.
      Para 2013, a expectativa é que o crescimento seja maior que em 2012 (3,3%). Uma das contribuições deve ser a leve melhora da atividade esperada para o quarto trimestre. Se isso ocorrer, ao menos 1,2% de expansão está garantida em 2013.

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