terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Pesquisa aborda a origem do conforto

FOLHA DE SÃO PAULO

CRÍTICA COSTUMES
Joan DeJean conta como a criação de novos móveis e utensílios moldaram os hábitos sociais
VIVIAN WHITEMANCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAO sofá é uma invenção burguesa. Assim como o são os banheiros privativos com descarga e os quartos de dormir.
No livro "O Século do Conforto - Quando os Parisienses Descobriram o Casual e Criaram o Lar Moderno", a escritora Joan DeJean conta como essas criações entraram para o cotidiano das pessoas e de que forma ajudaram a modificar as relações sociais e o conceito de privacidade.
Entre 1670 e 1765, Paris liderou a escalada do conforto, segundo a pesquisa feita por de DeJean.
E a ideia de uma casa que oferecesse ambientes menos duros, mais adequados à conversa e a momentos de descanso, diversão e sedução se desenvolveu sobretudo graças à influência de duas amantes do luxo.
E essas senhoras que amavam o luxo eram também amantes de reis.
A marquesa de Maintenon, que tinha um caso com Luís 14, e a marquesa de Pompadour, a "outra" de Luís 15, botaram os arquitetos e designers para trabalhar e deram um novo significado à ideia de decoração.
Lançaram moda, por assim dizer, já que a tendência foi logo abraçada e amplamente difundida pelas mulheres de nobres e negociantes endinheirados da época.
Um dos mais célebres ancestrais do sofá como o conhecemos hoje, por exemplo, foi criado em 1671 para o palacete da marquesa de Montespan. Ela, que um dia fora governanta da malvada e pérfida Maintenon, se tornou a amante predileta do reconhecidamente infiel Luís 14.
SEDUÇÃO
A ilustração mais antiga de um sofá próximo dos moldes atuais, porém, só apareceu em um anúncio de mobiliário datado de 1686.
Interessante notar como na costura de DeJean a privacidade aparece ao mesmo tempo como necessidade e luxo.
Os reis, sobretudo Luís 15, responsável por uma das mais significativas reformas empreendidas no palácio de Versalhes (criando cômodos "secretos" e instalando encanamentos, por exemplo), queriam um espaço para realizar atividades não públicas.
Ou seja, que dispensassem os protocolos reais que pautavam o comportamento da classe alta da época.
Os interesses das amantes, por sua vez, eram outros.
Elas desejavam embelezar e tornar mais confortáveis os seus espaços de sedução.
O sofá, por exemplo, era o lugar perfeito para que duas criaturas sentassem lado a lado, numa proximidade que estava entre a abordagem pública e as intimidades típicas da alcova.
Centenas de quadros do período retratam senhoras e senhores languidamente esparramados nos seus elegantes "móveis de sentar".
DUCHAS E DESCARGAS
Noutra ponta dessa evolução, a chegada da água corrente permitiu o surgimento de objetos e engrenagens como duchas e descargas.
Foi o que transformou o banho de simples procedimento higiênico periódico em experiência prazerosa.
Além de "enfeitar" a tarefa de despachar dejetos com o mínimo de contato.
Entre curiosidades e conexões históricas bem sacadas, Dejean destaca ainda a gênese do que se conhece hoje como moda parisiense, a mais influente do mundo.
Para aproveitar esses espaços de conforto, as burguesas afrouxaram os vestidos, abandonaram os corpetes e criaram modelos informais.
As peças eram considerados ousadas porque, apesar das matérias-primas luxuosos, tinham a aparência de roupas de dormir ou trajes das classes inferiores.
Nascia ali, entre sofás e flertes, a moda casual.
O SÉCULO DO CONFORTO
AUTOR Joan DeJean
TRADUÇÃO Catharina Epprecht
EDITORA Civilização Brasileira
QUANTO R$ 62,90 (413 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

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