quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Imigrante ajudará economia, diz Obama

folha de são paulo

Presidente dos EUA pede urgência na reforma imigratória para tirar "11 milhões de homens e mulheres" das sombras
Democrata desvincula regularização de ilegais do reforço da segurança nas fronteiras, durante discurso em Las Vegas
LUCIANA COELHODE WASHINGTONCom um discurso de apelo emocional no qual evocou a origem da maioria dos americanos, o presidente Barack Obama pediu ontem urgência na reforma do sistema imigratório dos EUA e enfatizou que as mudanças são necessárias à economia do país.
O democrata também elogiou a proposta feita na véspera por senadores dos dois partidos, a qual deixou o presidente na insólita situação de ver um tema prioritário de sua agenda absorvido pela oposição republicana, que tenta recuperar terreno entre o cobiçado eleitorado latino.
Mas cobrou rapidez do Congresso, prometendo pressionar por seu projeto caso o Legislativo apresente um.
"A hora é agora", declarou Obama, cinco vezes seguidas, à plateia em uma escola de Las Vegas, no Estado fronteiriço de Nevada (27% de população de origem latina).
"Temos 11 milhões de homens e mulheres vivendo nas sombras. Eles quebraram as regras (...). Mas muitos estão aqui há anos, contribuem para para a sociedade, cuidam de suas famílias e tentam ganhar a vida honestamente", disse o presidente.
"Quando trabalham horas extras, muitas vezes o fazem à sombra. Isso é ruim não só para eles, mas para a nossa economia [...]. Os salários e as condições de trabalho dos americanos estão em risco também", prosseguiu Obama, afirmando que a reforma "ajudaria a classe média".
O longo discurso, porém, evitou detalhes e mal se diferenciou da proposta feita por oito senadores republicanos e democratas ou de um plano de Obama de 2011.
Ele organizou seu projeto em três pontos, unindo em um item a vigilância e a segurança enfatizadas pelos senadores: patrulhamento inteligente; caminho para a cidadania e modernização do sistema, visando atrair para o país "as pessoas mais brilhantes do mundo".
Diferentemente dos senadores, porém, o presidente não atendeu à reivindicação republicana de condicionar a possibilidade de legalização dos imigrantes ao reforço da segurança na fronteira.
Os dois lados concordam sobre a criação de um banco de dados e o estabelecimento de penas que inibam a contratação de ilegais, mas as medidas de segurança ainda precisam ser detalhadas, e esperá-las atrasaria o início da solicitação de cidadania.
Obama disse que será um caminho "duro, mas justo", exigindo do imigrante impostos em dia, ausência de antecedentes criminais, pagamento de multa e domínio da língua inglesa.
Estrangeiros que tenham pós-graduação em ciências ou tecnologia nos EUA, empreendedores que encontrem patrocínio de empresas locais e imigrantes trazidos na infância teriam, porém, um processo acelerado -nos dois primeiros casos, para dar impulso à inovação no país.

    ANÁLISE
    Competitividade está no cerne das novas propostas
    PATRÍCIA CAMPOS MELLODE SÃO PAULOA reforma do sistema de imigração dos Estados Unidos, se sair do papel, porá um ponto final no Estado de segurança nacional que vigora no país desde os atentados de 11 de Setembro. Os americanos finalmente se renderam à realidade econômica: eles não podem mais se dar ao luxo de espantar imigrantes qualificados e turistas.
    Desde os ataques terroristas às Torres Gêmeas, o país se fechou por completo a estrangeiros, fossem eles turistas, trabalhadores qualificados ou filhos de imigrantes ilegais que se formaram em universidades americanas.
    Muitos portadores do visto H1B, de trabalho altamente qualificado, tinham de esperar meses e meses para conseguir seu "green card", a autorização de residência, por causa das novas medidas de segurança.
    Muitos não conseguiam renovar seu visto, por causa das cotas limitadas. Nos aeroportos, o pessoal da imigração, que nunca foi muito amigável, tornou-se abertamente hostil a turistas.
    As propostas de reforma da imigração, tanto a apresentada pelo presidente Barack Obama ontem como o texto do grupo de senadores divulgado anteontem, contemplam não apenas um caminho para a legalização dos cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais nos EUA.
    Abordam também a necessidade de atrair imigrantes qualificados e turistas.
    Diante da crise econômica que atingiu o país, a imigração ilegal caiu para o menor nível dos últimos anos. Muitos "indocumentados" estavam voltando para seus países de origem em busca de oportunidades de emprego, entre eles muitos "brazucas".
    Agora, a enorme preocupação com segurança e terrorismo começa a dar lugar ao medo de perder competitividade na economia global.
    No plano dos senadores, todos os estrangeiros que obtiverem um PhD em ciências, tecnologia, engenharia ou matemática em uma universidade americana receberão um "green card".
    O plano também aumentaria o número de vistos H1B disponíveis todos os anos. E no resumo da proposta da Casa Branca voltou-se ao tema da facilitação de vistos para turistas: "[A proposta] permite maior flexibilidade para determinar países participantes do programa de dispensa de visto". O Brasil pode ser um dos maiores beneficiados.

      Cargo de encarregado de fechar a prisão de Guantánamo é extinto
      DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
      O governo americano realocou o responsável por coordenar o fechamento da prisão de Guantánamo (Cuba), Daniel Fried, sem designar um novo nome para a função.
      Representantes do governo negaram que o comprometimento com o fim da prisão esteja se erodindo e disseram que as tarefas de Fried serão assumidas por advogados do Departamento de Estado. Na semana passada, Jay Carney, porta-voz da Presidência, reafirmou o compromisso do governo com o fechamento de Guantánamo, onde atualmente 166 pessoas estão detidas.
      HILLARY
      A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que escreverá suas memórias e irá dedicar-se a incentivar a participação de mulheres na política após deixar o cargo.
      Questionada se concorrerá à Presidência em 2016, ela disse que, no momento, não pensa no assunto.

      Nenhum comentário:

      Postar um comentário