sábado, 12 de janeiro de 2013

Violência na América-José Maria Couto Moreira‏

Episódios recentes evocam a memória de um país marcado por guerras e atentados e destaca a necessidade de recuperação do espírito conciliatório por parte das lideranças 

José Maria Couto Moreira
Estado de Minas: 12/01/2013 
A expansão do fenômeno da violência na América do Norte tem intrigado e assustado a opinião pública mundial. Constantes fatos de violência brutal têm ocupado as manchetes do mundo civilizado. Mais recentemente, delinquentes americanos, moços, de ordinário, têm consternado a todos ao agirem como livre-atiradores, lançando projéteis assassinos a esmo contra inocentes, sempre por razões triviais ou mesmo incompreendidas, no mais das vezes suicidando-se depois dos atos tresloucados.

O registro da violência na América, democrática e rígida na apreciação judicial de condutas infracionais, preocupa os americanos e sociólogos, na medida em que a prevenção e a repressão institucionais não têm obtido resultado.

O enunciado de Stokely Carmichael, um imigrante de Trinidad residente nos EUA, ativista da paz, já antecipava a crise de violência naquele país ao dizer, nos anos 1950 (hoje um refrão): “Na América, a violência é tão americana quanto a torta de maçãs”.

Parece estar aí a razão, ela é antiga, está enraizada e introduziu-se na cultura americana como algo inadmissível, mas integrante da natureza dos homens. Seu marco histórico pode fixar-se na Guerra da Independência, um longo conflito que se arrastou de 1775 a 1783, mais tarde repetido com as mesmas partes (EUA e Inglaterra), cujo final consolidou a independência norte-americana. Sem mencionar os antecedentes de frequentes hostilidades entre colonos e colonizadores, nestes embates sanguinários (e heroicos), a alma americana abriu em si feridas incicatrizáveis.

A escalada da violência reacendeu seu furor com a Guerra da Secessão, que perdurou de 1861 a 1865, causando 1 milhão de mortes, cujo pavio, de origem étnica, era a manutenção da escravidão, que ao Sul muito interessava, em vista de sua economia, com base diversa da do Norte. Este teatro das hostilidades mostrava combatentes precários, com recursos bélicos escassos, má alimentação, vestuário pobre, equipados com armamentos impotentes, homens descalços, sujeitos a doenças, sem assistência. Presos, os nortistas afrodescendentes frequentemente eram torturados ou fuzilados. A par destes enfrentamentos, surgiram sociedades secretas de cidadãos brancos insatisfeitos com a presença do negro em postos do governo, como a dos Cavaleiros da Camélia Branca e a Ku Klux Klan, que ceifaram milhares de vidas pelo ódio à etnia e, ainda, contendem pela supremacia do branco.

A par dessas lutas, pontificava Lincoln na Presidência dos Estados Unidos visando a consistência da União e a concorrente abolição da escravatura. Apesar de uma administração resoluta dos mais altos propósitos civis, o presidente foi assassinado por um rebelde confederado, inconformado com a tendência de permitir o sufrágio ao negro.

Igual destino trágico tiveram os presidentes James Garfield, seis anos depois; William McKinley, em 1900; e John Kennedy, em 1963. A sina dos Kennedy se cumpriu ainda uma vez, quando o irmão Robert, certamente futuro presidente, cinco anos depois, em campanha, foi fatalmente alvejado por um delinquente de rua.

Em 1968, outro covarde atentado feriu de morte o ativista político de prestígio nos Estado Unidos, o pastor Martin Luther King, praticado por um opositor da luta pelos direitos dos trabalhadores.

Ronald Reagan, o quadragésimo presidente americano, sem motivo determinado, em 1981 foi também vítima de sério atentado, segundo o noticiário policial, por um desequilibrado.

Rebeldia e insurreição Pode-se dizer que em todo o planeta os focos de violência se instalam e trazem prejuízos às sociedades locais. Sim, mas estas insurreições ou rebeldias, ou mesmo a ação de núcleos terroristas, assumem suas posições ideológicas e têm bases sociais, econômicas e políticas, a propósito de reivindicações, por vezes inaceitáveis. 

As estatísticas amontoando mortes, destruição e tortura de toda ordem são frequentes por todo o país. Temos assistido a assassinatos em massa em atividades colegiais ou em corporações, sem que para eles se apresentasse uma razão próxima de algo razoável, senão a simples e caprichosa vontade inconsciente. 

Três presidentes americanos não preferiram meios conciliatórios ou persuasivos para matarem milhões de americanos e milhões de orientais: Truman despejou a terrível bomba A sobre Hiroshima, numa calma manhã de agosto, reduzindo a cidade a pó e dizimando os 140 mil habitantes, entre crianças, idosos, mulheres, todos civis (embora a rendição estivesse sendo finalizada), e numa segunda e absolutamente desnecessária e criminosa empreitada repetiu o bombardeio em Nagasaki, eliminando 80 mil pessoas, também civis; Lyndon Johnson reacendeu a participação americana na guerra do Vietnã, quando a nação perdeu milhares de seus filhos. 

Quanto a Bush, muito ironizado pelo povo, fez estrugir uma guerra despropositada no Iraque, absolutamente dispensável, paga com a morte de milhares de jovens americanos como de inocentes locais, pois, se o desejo do presidente era matar Saddam Hussein, havia outras formas menos cruentas e mais econômicas de o fazer, aliás, como o fez seu sucessor, o paciente Barack Obama, ainda carregando as dores do mundo pelo atentado brutal contra o World Trade Center.

Esses episódios repercutiram dolorosamente por todos os povos da Terra e o resgate das feridas e das dores desafia a compreensão humana. Saibam os Estados Unidos que estas tragédias nos chocaram a todos, e pelos inocentes sacrificados,juntamos nossas amarguras e nosso respeito.

O mundo faz votos de renascimento na América de um homem como Lincoln, aquele gigante na responsabilidade de dirigir a nação e seu povo.

José Maria Couto Moreira é procurador do Estado.

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