quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Kenneth Maxwell

folha de são paulo

Ricardo 3º
Cientistas da Universidade de Leicester confirmaram que um esqueleto encontrado sob um estacionamento naquela cidade era o de Ricardo 3º. Morto aos 32 anos na batalha de Bosworth, em 22 de agosto de 1485, 527 anos atrás, Ricardo 3º foi o último monarca da dinastia Plantageneta e o último rei inglês morto em campo de batalha. Ele foi derrotado por Henry Tudor, que se tornou o rei Henrique 7º.
Com base em uma comparação de DNA mitocondrial com Michael Ibsen, um marceneiro canadense que é descendente em 17ª geração da irmã mais velha de Ricardo 3º, os cientistas declararam que o esqueleto, "para além de qualquer dúvida razoável", é o do rei. A constatação é reforçada pelo uso de datação por carbono, por análises de patologistas forenses e por uma tomografia computadorizada dos restos.
A morte de Ricardo 3º pôs fim à Guerra das Rosas, entre os dois ramos rivais da casa de Plantageneta -a casa de York, representada pela rosa branca heráldica, e a casa de Lancaster, representada pela rosa vermelha. Henrique 7º uniu os dois ramos ao se casar com Elizabeth de York, filha de Eduardo 4º, o irmão mais velho de Ricardo 3º. A dinastia Tudor reinou na Inglaterra e no País de Gales por 117 anos. Seu símbolo heráldico combinava as rosas vermelha e branca.
O esqueleto tem a espinha encurvada, resultado de escoliose, e foi encontrado em um terreno que abrigava um mosteiro franciscano, em uma cova rasa na qual Ricardo foi sepultado nu e sem identificação. A fratura craniana por trás da orelha esquerda e outros ferimentos de batalha confirmam sua morte brutal. O mosteiro foi desapropriado por Henrique 8º depois que esse rompeu com Roma quanto à anulação de seu casamento com Catarina de Aragão e seu desejo de desposar Ana Bolena.
Ricardo 3º é notório na história inglesa. Shakespeare o retrata como um corcunda maquiavélico e o culpa pela morte de dois jovens sobrinhos. Mas o retrato shakespeariano de Ricardo é mais propaganda Tudor que fato histórico -ao menos é o que alegam as pessoas que inspiraram e arrecadaram fundos para a busca arqueológica por seu corpo.
O direito ao trono alegado pela casa de Lancaster derivava de John de Gaunt, irmão mais novo do "Príncipe Negro", Eduardo de Gales. John de Gaunt foi o patrono de Geoffrey Chaucer, o autor dos "Contos de Canterbury".
A filha de Gaunt com sua primeira mulher, Blanche, se tornou a rainha Filipa de Portugal ao se casar com o rei João 1º, em 1387. O casamento foi o passo final para a aliança anglo-portuguesa assinada em 1386. Filipa de Lancaster nasceu no castelo de Leicester, em 1360. Entre seus filhos estava o infante dom Henrique, que se tornou conhecido historicamente como "o navegador".
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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