quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Tereza Cruvinel - Poeira alta‏

Auxiliares de Dilma negam a troca do vice em sua chapa, invocando uma tradição: FHC manteve Marco Maciel e Lula não trocou José Alencar 

Estado de Minas: 07/02/2013 
As eleições para as Mesas Diretoras do Congresso levantaram na base governista uma poeira que exigirá dos atores centrais muito uso do espanador. A disputa pelo cargo de líder na Câmara rachou a bancada do PMDB, e, na cúpula, há suspeitas de que defecções no PT ajudaram a reduzir a votação de Henrique Eduardo Alves para presidente da Casa (271), que lhe deu a vitória, embora menor que a esperada. Já os surpreendentes 165 votos recebidos pelo candidato do PSB, Júlio Delgado, são creditados ao empenho de uma dobradinha entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB-PE), e o senador e presidenciável tucano Aécio Neves (MG), o que aumentou a desconfiança petista. Por outro lado, as notícias de que o ex-presidente Lula teria sugerido a troca de Michel Temer por Campos, na chapa de Dilma à reeleição, deixaram a cúpula peemedebista em estado de alerta. 

Começando pela bancada do PMDB, o racha opõe o grupo do líder eleito, o deputado Eduardo Cunha, ao do candidato derrotado e segundo mais votado, Sandro Mabel. Cunha garante que o terceiro candidato, Osmar Terra, seus 16 eleitores e metade dos 32 deputados que votaram em Mabel já estão devidamente alinhados com sua liderança. Haveria agora só um choro de derrotado precisando de acalanto. “Pacificar a bancada é minha prioridade, mas isso está em curso e acontecerá naturalmente. A bancada sabe que agora será atuante e relevante”, diz ele, referindo-se à autonomia em relação ao Planalto. “Apoiamos o governo, mas prevalecerá sempre o pensamento da bancada”, diz ele. 

 Nos dois grupos existe também algum ressentimento com o novo presidente da Câmara, que sendo historicamente ligado a Cunha preferiu corretamente a equidistância, não votando em nenhum dos três candidatos. Essa sequela no próprio partido aumenta a importância do apoio do PT à sua governança na Casa. Alves está propondo uma agenda ousada para a Câmara (objeto da próxima nota desta coluna), para a qual precisará da coalizão unida. 

No PT, o líder José Nobre Guimarães assegura que a sua bancada votou maciçamente nele, sem uma só defecção, honrando o acordo entre os partidos . “Primeiro unificamos nossa bancada, distribuindo harmonicamente os postos que nos cabiam na Mesa e nas comissões. Se não tivéssemos dado 100% dos votos ao Henrique, poderia ter havido um incerto segundo turno. E lhe daremos todo o apoio no esforço para restaurar o respeito e a relevância do Legislativo.” O PMDB quer mais um pouco: o prometido ministério para o candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo Gabriel Chalita e a certeza de que Temer não será rifado como companheiro de chapa de Dilma. Se Lula sugeriu mesmo a troca por Campos, auxiliares de Dilma dizem o oposto: se Fernando Henrique Cardoso manteve o vice na reeleição, e Lula também, por que ela iria quebrar essa tradição, colocando em risco o apoio do aliado mais certo?

Já o governador de Pernambuco confirmou ontem sua ação a favor de Delgado, mesmo não mencionando a tal dobradinha com Aécio, que teria levado para o candidato socialista dois terços dos votos tucanos. Embora o PSDB tenha declarado apoio a Henrique Alves, garantindo seu lugar na Mesa segundo a regra da proporcionalidade. Fez jogo semelhante, mas inverso no Senado: declarou apoio ao dissidente Taques, mas votou majoritariamente em Renan, garantindo o lugar na Mesa. Ontem, em Brasília, Eduardo Campos afirmou que Delgado não venceu, mas que foram lançadas “boas sementes para o futuro”. Sementes que podem ser da concorrência com o bloco PT-PMDB como da aliança PSB-PSDB. Ou as duas coisas. 

Como no ditado que os políticos apreciam tanto, tem vaca estranhando bezerro. No plural.


Henrique chama governadores 

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, telefonou ontem para cada um dos 27 governadores, convidando-os para uma reunião “muito rápida, objetiva e prática”, em 13 de março, em Brasília. A cada um dizia: “Queremos enfrentar as pendências federativas que angustiam os estados e não encontram solução na área econômica do governo. Mas vamos ser práticos, enfrentando dois, três ou quatro problemas urgentes, no máximo, para votarmos o que for preciso até junho”. Ou seja, ele está puxando para a Câmara a solução das tensões federativas. Ele admite que o Congresso errou não aprovando em tempo a regra de partilha do Fundo de Participação dos Estados (FPE) cobrada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas acha que isso só não basta. Quer começar ouvindo os governadores. 


Líder do PT quer diálogo

O novo líder do PT, José Nobre Guimarães, quer a bancada brilhando no debate dos grandes temas nacionais. “Nós somos os principais intérpretes do projeto de mudança que o Brasil vive. Vamos praticar isso, contribuindo para a maior eficácia e produção do Legislativo”, diz o líder, que dividirá os deputados em grupos de estudos sobre os grandes temas da agenda atual: economia, políticas sociais, energia, infraestrutura, reforma política etc.

Outra prioridade dele é estabelecer um diálogo mais permanente e efetivo com a oposição. “Na democracia, a minoria deve ser ouvida, não suprimida. Temos diferenças, mas devemos buscar um ponto mínimo de convergência no interesse nacional. E há, na oposição, pessoas com abertura para isso”, diz ele, citando conversas preliminares que já teve com o líder tucano, Carlos Sampaio, e seu antecessor Bruno Araújo, e com os demistas Ronaldo Caiado e Mendonça Filho. Se isso prosperar, será uma brisa, neste tempo de radicalização e intolerância.

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