quarta-feira, 27 de março de 2013

Como será o amanhã

folha de são paulo

Cancelamentos, encalhe de ingressos e inflação de preços geram incerteza sobre futuro de megashows no Brasil
LUCAS NOBILEMATHEUS MAGENTADE SÃO PAULOO cancelamento do festival espanhol Sónar no Brasil, a mudança do show do The Cure para um local menor, o encalhe de ingressos para os shows de Madonna e Lady Gaga no ano passado, o cancelamento do SWU e as incertezas sobre a edição deste ano do Planeta Terra apontam que a bolha do mercado de shows internacionais no país parece ter estourado.
Se, há pouco mais de dois anos, fãs acampavam em frente a bilheterias ou passavam horas em sites congestionados para tentar comprar entradas, hoje as empresas lançam promoções para tentar esgotar seus ingressos.
As principais empresas do setor evitam falar em bolha. Para elas, a "instabilidade" se deve ao aumento do número de atrações internacionais (triplicou entre 2010 e 2012, de 149 para 459), de fraudes com meia-entrada e da concorrência entre produtores de grandes shows, que inflacionou cachês das atrações.
Em meio a isso, artistas de peso voltaram ao país após anos de ausência -Paul McCartney, Bon Jovi, Foo Fighters, Roger Waters-, mas os ingressos ficaram cada vez mais caros. A entrada para um dia de apresentação no Rock in Rio de 2001 custou R$ 92, em valores corrigidos. Neste ano, o valor atinge R$ 260.
Para Fernando Altério, diretor-presidente da T4F (Time For Fun), maior empresa do setor na América Latina, 2012 foi um ano "atípico", em que ocorreu "tudo que poderia acontecer de errado".
A empresa viu encalhar ingressos de shows de Madonna (que custaram R$ 170, ante R$ 85 em 1993, em valores já corrigidos) e Lady Gaga (entre R$ 190 e R$ 750).
No show de Gaga, a reportagem da Folha presenciou a produção do show distribuir ingressos gratuitamente na porta do Morumbi.
No mês passado, Altério disse a investidores que a queda de 95% do lucro (antes de impostos, amortizações e juros) da T4F de 2011 para 2012 teve entre suas causas a "diluição das verbas de patrocínio e de demanda de bilheteria". A empresa é a única do setor a divulgar seus resultados -exigência para ter capital aberto na Bolsa.
No ano passado, o festival Lolla precisou entrar num leilão informal com um concorrente para ter o Foo Fighters como a sua principal atração. O lance inicial do cachê da banda era de R$ 1,5 milhão, mas o martelo só foi batido por R$ 5 milhões.

    Produtores criticam alto cachê e meia falsificada
    Empresas do setor reclamam ainda de impostos, concorrência e câmbio
    Segundo Leo Ganem, da Geo Eventos, fraudes levam ao aumento do preço de ingressos de shows e festivais no país
    DE SÃO PAULOOs principais empresários que atuam no mercado de shows internacionais no Brasil são unânimes em dois pontos: evitam falar em bolha no mercado, mas estão apreensivos com o atual momento desfavorável do setor.
    "É um ciclo normal. Há quatro, cinco anos, o dólar estava barato, com o consumidor brasileiro cheio de dinheiro, e o mundo estava relativamente quebrado", explica Leo Ganem, diretor-geral da Geo Eventos, que produz o festival Lollapalooza.
    Coy Freitas, que já trabalhou na organização de festivais como Planeta Terra e Sónar, diz que "a crise está batendo na porta de todo mundo" e que os promotores de shows vivem um "drama".
    "Existe uma retração no investimento das empresas patrocinadoras e uma bilheteria instável. Sem contar a fortuna de impostos que se paga no Brasil. O cachê ficou inviável", afirma Freitas.
    Segundo Roberto Medina, empresário que criou o Rock in Rio, o dinheiro arrecadado no festival vem 50% da bilheteria e 50% de patrocínio.
    A equação se baseia, segundo ele, num trabalho de fortalecimento da marca Rock in Rio junto a anunciantes desde 2001, quando o festival voltou a ter regularidade.
    Muitos dos empresários e produtores de festivais no Brasil, porém, veem no cancelamento da edição brasileira do Sónar e na incerteza sobre o futuro do SWU um problema para a consolidação de marcas mais recentes.
    "Todo mundo sabe que nas primeira edições de um festival perde-se dinheiro. Demora-se para conquistar o público e consolidar uma marca, ainda mais no caso de um Sónar, que tem uma programação que não é mainstream, tem um conteúdo artístico inovador", comenta Freitas.
    Ganem, que diz prezar pela qualidade das bandas do Lolla, critica o SWU, que foi suspenso após duas edições (em 2010 e 2011).
    "O SWU errou ao se prender apenas àquela bandeira ridícula de sustentabilidade, de ser um festival verde", diz. Procurado, Eduardo Fischer, do SWU, não foi localizado para comentar as críticas.
    INGRESSOS CAROS
    Para Roberto Medina, parte das dificuldades atuais do mercado pode ser explicada por ingressos "caros".
    "Os preços do Rock in Rio estão entre os mais baixos. Um dia no festival, que oferece mais de uma dezena de shows em um ambiente agradável, com boas opções de diversão e comida, custa R$ 260, com meia de R$ 130."
    Ganem critica o excesso de fraudes com meia-entrada.
    "O Lolla tem 95% de meias-entradas. Parte desse público tem carteirinha falsificada. Não são estudantes. Ou a gente é a Coreia do Sul e eu não sei. Acabo punindo [com um preço mais alto da inteira] uma parte da população que não se beneficia desses subterfúgios e ilegalidades."
    Segundo ele, o preço do ingresso cairia de R$ 330 para R$ 206 caso houvesse um limite de 30% para meias-entradas, como defendem produtores da área cultural.
    A primeira edição do Lolla no país teve prejuízo, que a produção diz não ter sido surpresa, principalmente pelo cachê pago ao Foo Fighters. Apesar das turbulências, para o Lolla deste ano foram vendidos de 150 mil das 180 mil entradas. O festival foi confirmado para 2014.

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