quarta-feira, 27 de março de 2013

Editoriais FolhaSP

folha de são paulo

Aécio sob pressão
Apoio do PSDB paulista, enfim, exige que senador defina plataforma para 2014, sob pena de abrir espaço para Eduardo Campos, do PSB
O evento desta segunda-feira do PSDB paulista, para demonstrar apoio ao senador Aécio Neves, atenua a imagem de uma divisão grave no maior partido da oposição. Os tucanos seguem tão unidos -ou desunidos- como têm estado desde que deixaram o governo federal, no início da década passada.
Desde então, um punhado de caciques disputa e controla as indicações nas eleições majoritárias. A soma de suas personalidades e veleidades entra em atrito constante, e às vezes em franca contradição, com as diretrizes de estabelecer um programa partidário coerente e de privilegiar condutas que se sobreponham ao personalismo.
O que acontece há dois anos nesse minúsculo grupo de comando é o enfraquecimento de um de seus próceres, José Serra. Duas derrotas sucessivas -para a Presidência, em 2010, e para a prefeitura paulistana, em 2012- anularam sua capacidade de colocar-se no caminho de Aécio Neves.
O ex-governador paulista tornou-se um incômodo menor no processo de unção do senador mineiro à condição de candidato tucano ao Planalto em 2014. Com a bênção do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador Geraldo Alckmin, Aécio deverá assumir o comando da legenda em maio e, a partir daí, desenvolver sua estratégia até a eleição.
Aécio Neves está sozinho na disputa interna, e esse é o seu maior problema. Enquanto se debatia com lideranças mais fortes, como em 2010 contra Serra, tinha ao menos um pretexto para não dizer exatamente a que veio. Agora o candidato que pretende governar o Brasil, antepondo-se a uma presidente popular que será competitiva no ano que vem, está desafiado a revelar, sem subterfúgios, sua plataforma e sua personalidade.
Os primeiros ensaios e discursos de Aécio Neves têm sido desapontadores. Não se depreende muito bem o que deseja fazer de diferente em relação à administração Dilma Rousseff. Melhorar a operação da Petrobras, emancipar os mais pobres da dependência de bolsas e recursos públicos e aperfeiçoar a gestão federal, tópicos aos quais Aécio se aferra, seriam temas adequados a qualquer candidato, de situação ou de oposição.
Saber em que se distinguiria a candidatura de Aécio Neves é ainda mais crucial para o PSDB diante da desenvoltura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), nesta aquecida pré-temporada eleitoral. Semidesgarrado do bloco governista, Campos arrebata simpatias em setores da opinião pública e do empresariado usualmente próximos dos tucanos.
Talvez esse veio não seja largo o suficiente para abrigar dois candidatos fortes de oposição em 2014.

    EDITORIAIS
    editoriais@uol.com.br
    Cem dias de Maduro
    Alçado a presidente interino em dezembro por vontade de Hugo Chávez, o ex-chanceler venezuelano Nicolás Maduro completou cem dias de governo incapaz de demonstrar que tem condições de sobreviver longe da sombra do mentor, ainda insepulto.
    Para a eleição presidencial do dia 14, o deficit de personalidade própria não chega a ser tão prejudicial. Lastreado numa retórica religiosa, Maduro faz campanha comparando Chávez a Cristo e se proclama seu apóstolo. Ao mesmo tempo, lança ataques baixos contra o adversário Henrique Capriles até com insinuações sexuais.
    Seguindo o manual chavista, o aprendiz de caudilho abusa da máquina estatal e permanece horas ao vivo nos meios de comunicação oficiais, que ignoram a campanha oposicionista sob a complacência do Conselho Nacional Eleitoral. O CNE, por outro lado, abriu investigação contra três pequenos jornais por publicarem propaganda de Capriles promovida por uma ONG, o que a lei eleitoral não permite.
    A campanha emotiva tem conseguido deixar em segundo plano a precária situação econômica do país. Maduro anunciou na semana passada, por exemplo, um novo sistema de leilão de dólares para empresas, com o objetivo de minorar a crônica falta de alimentos -quase sempre importados- nas prateleiras dos supermercados.
    Em fevereiro, o governo já se vira obrigado a desvalorizar em 32% o bolívar forte, medida insuficiente para acalmar o mercado paralelo, que opera com cotação quatro vezes maior que a oficial.
    A origem das dificuldades está na situação delicada da PDVSA, a estatal petroleira que serve de fonte de financiamento dos programas sociais de Chávez. O derrame de recursos pela empresa mascara a péssima administração do sistema educacional e o recurso a iniciativas sociais fracassadas, como as comunas de inspiração soviética.
    Apesar de certa recuperação no preço de petróleo em relação a 2011, a PDVSA, cada vez mais dependente de aportes chineses, viu seu lucro cair 6,1% em 2012, segundo os números pouco confiáveis do governo. Seus cofres não podem sustentar o regime para sempre.
    A comoção provocada pela morte de Chávez e a campanha eleitoral curta colocam Maduro como favorito, segundo as pesquisas de opinião. Mais difícil é prever como o chavismo, precariamente unido em torno de um líder sem brilho próprio, se sairá quando tiver de adotar medidas mais impopulares no campo econômico.
    Apenas adiar o enterro de Chávez não será, então, o bastante.

      Nenhum comentário:

      Postar um comentário