domingo, 31 de março de 2013

Seriado "Girls" derrapa após primeira temporada brilhante

folha de são paulo

ANÁLISE
A autora parece ter deixado a personagem, mimada e sem noção, criar os últimos cinco episódios
TETÉ RIBEIROEDITORA DA SERAFINASe é para errar, melhor errar feio, com todo mundo olhando. E ganhando muito bem para isso.
Essa pode ser a máxima de Lena Dunham, 27, criadora do seriado-fenômeno "Girls". Se sim, palmas para ela.
"Virou 'Sex and the City'", é o comentário geral, em tom decepcionado, que se faz por aí após o final da segunda temporada de "Girls" (exibido no domingo passado no canal pago HBO).
Para quem perdeu: Hannah, a protagonista interpretada por Dunham, começa a apresentar sintomas de transtorno obsessivo-compulsivo. Faz tudo oito vezes, seja virar a cabeça para um lado, abrir a geladeira ou ajeitar a calcinha no elevador.
Em um encontro com os pais, descobre-se que ela já sofreu disso na adolescência. Hannah passa a ser medicada. Não adianta.
Em um surto aparente, ela fere o tímpano com um cotonete até que é finalmente "salva" pelo ex, Adam (Adam Driver), que sai correndo sem camisa pelas ruas do Brooklyn até a casa dela.
"Girls" sempre foi comparado a "Sex and The City", mas, no início, era uma injustiça com o primeiro. Produto da criatividade de uma garota recém-saída da faculdade, que escreve, dirige, protagoniza e produz o seriado, não é um coletivo de talentos testados e comprovados, como era o caso do segundo.
Agora, o quadro se inverteu. A comparação, que esconde um comentário machista do tipo "no fundo, tudo que ela precisa é de um homem", é uma injustiça com "Sex and the City".
Na série dos anos 1990, as quatro mulheres de Manhattan, capitaneadas por Carrie Bradshaw, queriam homens, sim. Mas não só.
Eram quatro profissionais bem sucedidíssimas, e que depois de conquistarem casa, comida e roupa lavada às próprias custas, queriam romance, sexo, aventura. Com vários homens. E uma mulher também.
A busca frenética por um pedido de casamento (essa coisa inadmissível) só aconteceu no filme, de 2008, lançado quatro anos após o fim da série. O segundo longa, de 2010, está mais para "Os Trapalhões" que para o "Sex" original, e tomo a liberdade de fingir que ele não existe.
"Girls" era para ser o contrário disso tudo. Uma versão mais crua da amizade de quatro garotas tentando se adaptar ao mundo dos adultos, que mostrava alternando drama e humor a vida sem grifes nem muito dinheiro, muito menos grandes ambições e desinibição total.
Aos 20 e poucos anos, elas tinham quase nada a perder e tudo a questionar.
E como qualquer coisa boa que passa na TV, deu certo porque era bem feito. Desde o tema, até os roteiros, os diálogos, as personagens, as atrizes, as situações e as soluções para os dilemas que apareciam.
Fez sucesso com a mesma turma de telespectadores ultra exigentes, acostumados com o que as TVs britânica e americana fizeram de melhor até agora, como "Seinfeld", "Extras", "Mad Men", "Homeland" e "Downton Abbey" (ainda inédito no Brasil, mas já com uma legião de fãs).
Mas aí, no meio do caminho, a autora, uma escritora e atriz brilhante, parece ter deixado a personagem, uma garota mimada e sem noção, criar os últimos cinco episódios. Na crise da personagem, entrou em crise também o seriado.

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário