sexta-feira, 29 de março de 2013

Tendências/Debates

folha de são paulo

ALEXANDRE SCHNEIDER
Sobre parcerias e lealdades
Não há inconsistência de dados sobre vagas de creches na cidade de São Paulo. Temos hoje o cadastro mais completo do país
Ter sempre as informações corretas, confirmar suspeitas e eliminar dúvidas: todo executivo maduro e consequente sabe que tem de seguir essas regras básicas para preservar sua empresa. Na administração pública, tais cuidados são vitais. Evitam injustiças e impropriedades.
Embora entendendo que em início de gestão tal comportamento possa refletir apenas insegurança, vejo-me obrigado a esclarecer críticas equivocadas do secretário municipal de Educação, Cesar Callegari.
São incorretas suas conclusões expostas na mídia sobre vagas em creches. Não há fragilidades, ou inconsistência de dados. Temos hoje o cadastro mais completo do país. Quando chegamos, tudo era anotado em cadernos e papeizinhos. Hoje, a fila para creches está na internet, transparente.
Mesmo tendo recebido há cinco meses todas as informações sobre o plano de obras e estar no terceiro mês de gestão, Callegari culpa a administração anterior por alunos estarem em escolas que ainda não foram entregues. E chega ao paroxismo de reclamar por ter recebido contratos de obras já assinados e terrenos com desapropriação iniciada para 92 novas escolas!
Ao prometer "reformas profundas", Callegari pode acabar atingindo não os antigos ocupantes dos cargos, mas os profissionais da educação e os alunos.
A gestão Serra/Kassab criou novos programas educacionais, como é o da inclusão de alunos com deficiência (Inclui), inédito no país, e a Prova São Paulo, avaliação anual voltada ao trabalho em sala de aula. Construiu um currículo para todas as áreas de conhecimento.
Melhorou políticas de governos anteriores, ao duplicar e dinamizar as atividades dos CEUs, ao tornar obrigatórias as atividades de leitura e informática implantadas por Covas e Erundina, ao transformar o projeto de rádios escolares de Marta na criação de agências de notícias, dentre outros.
Os novos programas pedagógicos (Currículo, Ler e Escrever, Cadernos de Apoio, Inclui) foram desenvolvidos e implantados respeitando a história da rede pública. O Ler e Escrever, programa de alfabetização utilizado também na rede estadual e em centenas de redes municipais de ensino, a custo zero, que Callegari promete extinguir, foi implantado em 2006, com metodologia desenvolvida por especialistas renomados e profissionais da rede pública.
Políticas públicas são incrementais, podem e devem ser avaliadas e melhoradas, como aconteceu nas três últimas décadas na educação em São Paulo. Quando Paulo Freire implantou a primeira sala de informática no início da década de 90, talvez não imaginasse que não se restringiria apenas a uma sala, mas viesse a ser ferramenta, tecnologia de uso intensivo na aprendizagem.
É triste que, à revelia do posicionamento do prefeito Haddad, alguns auxiliares politizem o enfrentamento de problemas, buscando culpados onde encontraram muito trabalho e boa vontade na transição.
Os problemas de São Paulo eram, são e continuarão grandes. Em todas as frentes. Seu enfrentamento corajoso não comporta pequenezas. Nossa cidade tem papel fundamental a desempenhar no cenário político, econômico e social que se avizinha, para ajudar o Brasil. Para isso, parcerias e lealdades são indispensáveis. Assim como alianças maduras e responsáveis.

ROBERTO RODRIGUES
Meu porto, minha vida
A medida provisória dos portos tem boa chance de obter avanços. Espera-se que logo as filas de caminhões sejam coisa do passado
Chega a ser espantosa a reação geral quanto ao recorrente fenômeno do congestionamento de caminhões no porto de Santos. Afinal, todo ano isso acontece, e não só em Santos, mas também em Paranaguá.
Há anos, os mais diversos especialistas comentam que o principal gargalo do agronegócio brasileiro é infraestrutura e logística. E vêm pedindo rapidez na implementação das obras do PAC ligadas ao tema.
E neste ano, com uma safra recorde de grãos (especialmente da soja, uma vez que colheremos 85 milhões de toneladas, superando pela primeira vez a safra americana), era superevidente que teríamos esse triste espetáculo das filas quilométricas para descarregar nos portos.
Além disso, ao largo do porto, dezenas de navios ancorados esperam para carregar os grãos oriundos das competitivas zonas produtoras, ou para descarregar os fertilizantes que os mesmos caminhões levarão de volta àquelas regiões, para que seus agricultores já se preparem para a safra do ano que vem.
Com isso, os produtores perdem duas vezes: como os caminhões demoram para descarregar a soja -ou o milho-, acabam servindo de armazém. Mas um armazém caríssimo, evidentemente, sem falar na irritação que toma os motoristas que perdem tempo, dinheiro e ficam mais dias longe de casa.
Mas também perdem pela demora do descarregamento de fertilizantes dos navios, pois cada dia parado ao largo tem um custo, chamado "demurrage", que vai a dezenas de milhares de reais por dia. Ora, quem paga isso? O produtor, é lógico, uma vez que esse custo adicional lhe é repassado no preço do fertilizante.
É claríssima, então, a perda dos agricultores em geral, representada pelos custos inflados e em função de um problema sobre o qual eles não têm nenhuma responsabilidade. Os mais prejudicados são os produtores de regiões distantes, uma vez que as cargas vêm por caminhão, muito mais caro do que trem, que também não há suficientemente.
Pelo menos parte do custo também é repassada aos consumidores, de modo que todo mundo perde.
Mas há algo ainda mais grave. No ano passado, o agronegócio brasileiro teve um saldo de US$ 79 bilhões em sua balança comercial externa: essa é a diferença positiva entre o que o setor exportou e importou. E o saldo comercial total do Brasil foi de US$ 19 bilhões, incluído o agronegócio. Ou seja, o desempenho do agro salvou o saldo do país e, de quebra, garantiu as reservas cambiais.
Portanto, quanto mais o agronegócio exportar, melhor será para o país. Não apenas para o agricultor, mas para todos os brasileiros, que se beneficiam do fato.
Outro dado: há dez anos, em 2002, o agronegócio exportou US$ 24,8 bilhões. No ano passado, US$ 95,8 bilhões, quase quatro vezes mais. Ora, de novo todo o país e seus cidadãos ganham com esse crescimento, que cria riquezas, renda e empregos diretos e indiretos.
E, se deixarmos de exportar, sofrem todos os brasileiros.
As dificuldades de logística já fizeram a China cancelar dez navios de soja encomendadas ao Brasil, ameaçando fazer o mesmo com outros tantos ou mais. E se a moda pega?
Bem, depois de anos de incisivas reclamações de técnicos e exportadores, o governo finalmente tomou decisões importantes quanto às concessões na área de rodovias e ferrovias, abrindo ao setor privado uma oportunidade de investir com lucro. Isso vai acontecer, mas demora, não só pelo fato em si (projeto e execução), mas também pela burocracia, especialmente das licenças ambientais.
E, por último, o governo e o Congresso estão trabalhando vigorosamente em uma medida provisória que busca equacionar o problema dos portos, com boa chance de obter avanços notáveis. Aliás, nos últimos dias as filas até melhoraram com essa perspectiva.
Esperamos que, em três ou quatro anos, as filas intermináveis sejam coisa do passado. E todos os brasileiros possam se beneficiar do aumento das exportações e, com orgulho, dizer: "Meu porto, minha vida"...

    Um comentário:

    1. Como professora de uma rede pública falida, não sem dinheiro, mas má administrada, sempre vi no ALEXANDRE SCHNEIDER uma vontade política verdadeira, gostaria que ele alcançasse outras esfera políticas para colocar em prática suas ideias e seus ideais de educação.

      ResponderExcluir