quarta-feira, 22 de maio de 2013

Eduardo Almeida Reis - Cortar e pentear‏

Em rigor, jamais remeteria meu texto para o jornal se o penteasse dias, horas, semanas 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas:
22/05/2013 



Fiquei fascinado com a história do cabeleireiro de brasileiras ricas, que corta as melenas de cada cliente em sete minutos e cobra R$ 430 pelo serviço. Usa navalha pequena de lâminas, que vai substituindo, e trabalha com duas ajudantes. Em três horas, faz 25 cabelos, ou R$ 10.750. Entre aluguel de espaço no salão e régios salários para as duas ajudantes, digamos que fature R$ 8 mil, limpos, por dia. São R$ 208 mil por mês de 26 dias, trabalhando somente três horas por dia: faturamento razoável.

Mas a nossa conversa de hoje é sobre o verbo pentear, no sentido de tornar mais apurado, melhor, mais correto um texto. É trabalho que muito me diverte e tem como principal característica o infinito: cada vez que penteio um texto faço diversas modificações. Em rigor, jamais remeteria meu texto para o jornal se o penteasse dias, horas, semanas. Mas vivo disso, remeto e fico triste quando leio o resultado impresso. Ainda me lembro das matérias do imenso Guimarães Rosa, que chegavam datilografas à redação, no Rio, com centenas de rabiscos e correções. O melhor linotipista do jornal fazia a primeira prova e deixava o chumbo em pé. Prova que era enviada para o Itamaraty, prédio relativamente próximo. Não havia motoboys; só taxiboys ou bussboys. No mesmo dia ou no dia seguinte voltava a prova de paquê, revista pelo Rosa, com centenas de correções, supressões, emendas, aditamentos. Composta pelo mesmo linotipista, nova prova de granel era enviada ao Itamaraty para voltar cheia de cortes, emendas, modificações. O processo duraria meses, não fosse a ordem do diretor de redação, que assisti mais de uma vez: “Solta assim mesmo!”. Manhã seguinte lá estava o texto estampado no jornal.


Viúvas
Cristina Elisabet Fernández de Kirchner, de 60 anos, mãe de Florencia Kirchner e de Máximo Kirchner, preside a Argentina e é viuda do ex-presidente Néstor Carlos Kirchner. Viuda, sabe o leitor, se dice de la persona a quien se le ha muerto su cónyuge y no se ha vuelto a casarse. Enquanto mulher, mesmo sem ser presidente, Cristina Elisabet seria apetecível, apesar dos beiços burilados pela cirurgia plástica à imagem e semelhança labial dos primatas do gênero Pan, da família dos pongídeos, que, sabemos todos, reúne as duas espécies de chimpanzés. Mas é a tal coisa: no escurinho, a protuberância labial pode ter hora e vez. E o cargo ocupado pela ilustre viuda é afrodisíaco para os machos da espécie Homo sapiens. Vai daí que o jornalista Franco Lidner vem de lançar o livro Los Amores de Cristina, listando jovens galãs argentinos que se teriam envolvido amorosamente com a viuda de Néstor. Da lista constam, entre outros, os senhores Amado Boudou, Axel Kicillov e Jorge Capitanich.

Fico feliz de constatar a circulação do Estado de Minas, o grande jornal dos mineiros, na República Argentina, porque escrevi em Tiro e Queda sobre o palpitante assunto, aventando a hipótese provável de a viuda relacionar-se com um dos três cavalheiros citados por Lidner, o economista Boudou. Jovem boquirroto, que já foi ministro da economia, andou dizendo “A partir de agora, muchachos, considerem-me o novo Kirchner”, além de comentários ultrajantes como “Que feia é Cristina sem maquiagem” e “Se pinta como uma porta”. Realmente, é voz corrente em Buenos Aires que a viuda gasta mais que uma hora na maquilagem diária e as fotos coloridas, quando nítidas, mostram grossa camada de produtos cosméticos revestindo a pele do seu rosto. Se era para o rapaz considerar-se o novo Kirchner, em vez da viuda Cristina deveria ter namorado la otra viuda de Néstor, Miriam Quiroga, que foi sua secretária e amante durante 11 anos e, aos 50, ainda é argentina da melhor palatabilidade. Depois da morte do deus do lar, a senhora dos lábios pongídeos demitiu Miriam, tadinha, que deve estar no Bolsa-Família de lá.


O mundo é uma bola

22 de maio de 334 a.C. – na Batalha de Granico, o Exército de Alexandre, o Grande, da Macedônia, ao custo de 400 mortos, derrota Dario III, da Pérsia, que deve ter perdido 6 mil combatentes. Em 1377, o papa Gregório XI lança cinco bulas pontifícias para denunciar a doutrina do teólogo inglês John Wycliffe. Também chamado Wyclif (1328-1384), John foi professor da Universidade de Oxford, teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas religiosas que sacudiram a Europa nos séculos 15 e 16. Trabalhou na primeira tradução da Bíblia para o inglês, que ficou conhecida como a “Bíblia de Wycliffe”. Em 1875, a Noruega introduz o sistema métrico decimal, fato que não teria a menor importância se o philosopho não estivesse, hoje, sem assunto, tanto assim que andou falando até da “Bíblia de Wycliffe”. Em 1930, primeira apresentação de um programa de televisão em um teatro da cidade de Schenectady, estado de Nova York. Schenectady é a nona maior cidade daquele estado e seu nome idiota significa, na língua nativa mohawk, “do lado dos pinheiros” ou “próximo dos pinheiros”. Hoje é o Dia do Abraço e o Dia do Apicultor, com direito a um abraço para o Serafim, apicultor em Juiz de Fora.


Ruminanças
“Vós que escreveis, escolhei um assunto correspondente a vossas forças” (Horácio, 65-8 a.C.). 

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