sexta-feira, 10 de maio de 2013

Governo de SP exclui menor de idade da 'bolsa anticrack'

folha de são paulo

Estado diz que não há clínicas especializadas no atendimento de adolescentes
Programa pode atender 3.000 pessoas com a ajuda de R$ 1.350 para o tratamento do dependente químico
AFONSO BENITESDE SÃO PAULOMenores de 18 anos de idade dependentes químicos não serão beneficiados pela "bolsa anticrack", de R$ 1.350, criada oficialmente ontem pelo governo paulista.
Conforme estudo da Universidade Federal de São Paulo, 38% dos usuários de cocaína do Estado são adolescentes. Nesse grupo estão os que usam crack, merla e óxi.
Segundo o coordenador do projeto batizado de Cartão Recomeço, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, a exclusão dos adolescentes do programa se deve à inexistência de entidades voltadas ao atendimento de dependentes químicos nessa faixa etária.
O tratamento de um jovem é diferente do de um adulto.
"Não dá para misturar os grupos porque um adulto já tem noção do que ele perdeu da vida. O jovem, nem sempre. Você precisa motivá-lo de outra forma", disse a pesquisadora Clarice Madruga.
Laranjeira diz que uma das missões do governo será incentivar municípios a criarem espaços para o atendimento de jovens. Para ele, uma alternativa é instituir moradias assistidas, que são casas com profissionais que tratam até dez adolescentes por vez.
Em uma comunidade terapêutica, são tratados ao mesmo tempo cerca de 60 dependentes químicos. As entidades que se conveniarem com o governo receberão a "bolsa anticrack" por até seis meses.
Para o psiquiatra Thiago Fidalgo, o governo está indo no caminho errado. Segundo ele, o ideal seria investir principalmente em campanhas educativas voltadas para jovens e no fortalecimento do atendimento ambulatorial, onde o paciente é tratado sem a obrigação de ser internado.
INCÓGNITA
A uma semana de lançar o edital para contratar 300 entidades, o governo ainda não sabe quantas delas existem no Estado. Conforme a gestão Geraldo Alckmin (PSDB), hoje, 132 têm convênio com o governo. A expectativa é que parte delas se junte a outras, ainda desconhecidas, para atender 3.000 pessoas.
O promotor Arthur Pinto Filho, da área de saúde pública, diz que dificilmente existam 300 comunidades reconhecidas pelos conselhos de medicina ou psicologia e pela Vigilância Sanitária.
Pelo projeto, 11 cidades de referência serão beneficiadas. A capital foi excluída do programa porque atualmente há 270 vagas em 13 entidades que firmaram convênios com o governo e a prefeitura.
As vagas na capital paulista são para dependentes que vão ao Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas), no Bom Retiro, região central.

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