sábado, 8 de junho de 2013

Monitoramento é "legal e limitado", afirma Obama

folha de são paulo
FOCO
Jornalista autor de denúncia diz que morar no Brasil ajudou
ISABEL FLECKDE SÃO PAULOFoi a partir do Rio de Janeiro que o jornalista e advogado americano Glenn Greenwald colheu a maior parte das informações, publicadas no "Guardian", que revelam um esquema de escutas e monitoramento de dados de internet pelo governo americano.
É lá que Greenwald, 46, vive e trabalha há oito anos. E, para ele, o fato de estar no Brasil foi um facilitador para conseguir obter os documentos e apurar a história que levou o presidente Barack Obama a ter de se explicar.
"As pessoas [fontes] pensam que estão mais protegidas, por conta da distância, e que eu estou menos vulnerável a ser alvo de ações policiais ou processos judiciais porque vivo no Brasil --que isso me dá uma proteção adicional", disse Greenwald, por telefone, àFolha ontem.
O próprio jornalista considera ser mais difícil para o governo dos EUA monitorar seus telefonemas e mensagens de e-mail por estar fora do país. "Não estar em Nova York e em Washington e não estar conectado socialmente às pessoas que cobrem política me permite ser mais independente."
Greenwald mora no Rio com seu companheiro, um brasileiro. O casal decidiu ficar no Brasil porque os EUA não reconhecem a união estável entre gays para solicitar residência permanente. À reportagem disse, em português, já ser "um carioca".
E, pelo envolvimento com o Brasil, uma das primeiras preocupações de Greenwald quando começou a vasculhar as informações repassadas a ele foi a vulnerabilidade dos internautas brasileiros.
"Logo pensei no caso do Brasil, porque todo mundo que eu conheço aqui usa Facebook e Skype", disse. Para ele, seria "ridículo" pensar que os usuários dos dois serviços no Brasil não foram monitorados pelo governo americano. "Provavelmente foram", arrisca.
Greenwald é advogado e chegou a trabalhar para um grande escritório em Nova York antes de abandonar a carreira. Em 2005, inaugurou um blog, onde sempre publicou matérias sobre segurança nacional e liberdade civil. Ele contribuiu por muitos anos para a revista digital "Salon" e hoje mantém uma coluna no britânico "Guardian".
O americano diz que obteve de um leitor o documento comprovando o monitoramento. "Ele disse que conhecia o meu trabalho e que esperava que eu fosse atrás da história de forma agressiva."
A divulgação das escutas ocorre no momento em que o soldado Bradley Manning é julgado nos EUA pelo suposto vazamento de documentos ao WikiLeaks, e Greenwald sabe que não está livre de processos. "Com um vazamento dessa magnitude, o governo vai tentar encontrar um responsável, mas já era esperado."
    Monitoramento é "legal e limitado", afirma Obama
    Defesa vem após denúncia de que dados na internet também eram acessados
    Segundo o presidente dos EUA, "não dá para ter 100% de segurança, 100% de privacidade e zero de inconveniência"
    RAUL JUSTE LORESDE WASHINGTONO presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu ontem os programas que têm espionado telefonemas e servidores de internet, dizendo que o monitoramento é "legal e limitado".
    "Não estamos ouvindo os telefonemas", disse. "Não dá para ter 100% de segurança, 100% de privacidade e zero de inconveniência". Ele reafirmou que congressistas e juízes conheciam o programa de monitoramento. "Nós temos que fazer certas escolhas como sociedade."
    E-mails, vídeos, fotos e bate-papos nos servidores de Google, Facebook, Apple, YouTube, Microsoft (Hotmail), Skype e Yahoo são acessados pelo governo há seis anos por um programa chamado Prism.
    A denúncia, feita pelos jornais "The Washington Post" e "The Guardian", vem após a revelação de que milhões de telefonemas da companhia telefônica americana Verizon eram monitorados pelo governo graças a uma lei de segurança nacional, usada no combate ao terrorismo.
    Enquanto a Verizon confirmou que entregou os dados em razão de uma ordem judicial, tanto Mark Zuckerberg, do Facebook, quanto Larry Page, presidente do Google, disseram que "jamais fizeram parte de um programa do governo americano de acesso aos servidores".
    POLÊMICA
    A escala da vigilância sobre a comunicação privada de milhões nos EUA e no exterior, criada pelo governo do republicano George W. Bush e mantida no de Obama, ampliou o debate sobre sacrifícios às liberdades individuais e à privacidade em nome do contraterrorismo.
    Cresce, também, a discussão sobre o abuso do governo em estender o monitoramento dos cidadãos indeterminadamente.
    Obama defendeu a atuação do governo horas antes de se encontrar com o novo presidente chinês, Xi Jinping, com quem trataria do tema de ciberespionagem.
    "Se a comunidade de inteligência quer de fato ouvir uma ligação, ela precisa recorrer a um juiz federal e pedir uma autorização", continuou Obama.
    "Se as pessoas não confiam não apenas no Poder Executivo, mas tampouco no Congresso ou nos juízes federai, nem que nós estamos respeitando a Constituição e a regra da lei, então teremos problemas aqui", afirmou.
    Ele defendeu, ainda, "confidencialidade" e debates "a portas fechadas" no Congresso americano.
    Obama também falou que a coleta de informação de gigantes da internet, como Google, Facebook e Apple, não se aplica a "cidadãos americanos ou pessoas que vivam nos Estados Unidos".
    REAÇÃO EUROPEIA
    A União Europeia reagiu à invasão de privacidade além das fronteiras americanas."Estamos naturalmente preocupados com possíveis consequências para a privacidade dos cidadãos europeus", disse a comissária europeia para Assuntos Internos, Cecilia Malmström, após reunião de ministros do Interior da UE em Luxemburgo.
      Empresas dizem que protegem seus usuários no Brasil
      DE SÃO PAULOAs empresas de internet que tiveram suas bases de dados interceptadas pelo programa do governo norte-americano não informaram se usuários do Brasil --um de seus principais mercados-- foram monitorados.
      Procuradas pela Folha, as companhias negaram que tenham disponibilizado ao governo dos Estados Unidos acesso direto a seus servidores ou redes.
      Em nota, o Facebook no Brasil afirmou que proteger a privacidade de seus usuários é prioridade e que só fornece informações na medida exigida pela lei.
      O mesmo posicionamento é adotado pelo Google, que informou que "não tem uma porta dos fundos' para o governo acessar dados particulares de usuários".
      A Microsoft, também por nota, informou que não participa de eventual programa de segurança nacional que reúne informações de usuários.
      "Não fornecemos ao governo acesso direto aos nossos servidores, sistemas ou rede", disse o Yahoo, por sua assessoria de imprensa.
      Procurada no Brasil, a Apple não se manifestou.
        Presidente pediu lista de alvos para ciberataques
        DE SÃO PAULODAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIASBarack Obama baixou uma diretiva ultrassecreta para que agentes de segurança e inteligência listassem potenciais alvos estrangeiros para ciberataques partindo dos EUA, segundo o jornal inglês "The Guardian".
        O jornal afirma ter obtido o documento de 18 páginas, intitulado Diretiva Política Presidencial 20, expedido em outubro do ano passado, mas nunca publicado.
        A diretiva pede que sejam identificados alvos "que possam oferecer resultados únicos e não convencionais para fazer avançar os objetivos nacionais dos EUA".
        O documento afirma que o governo irá "identificar potenciais alvos de importância nacional em que as Operações Cibernéticas de Efeito Ofensivo (Oceo) possam oferecer um equilíbrio favorável entre eficácia e risco, comparada a outros instrumentos do poderio nacional", segundo o jornal inglês.
        Também são considerados ciberataques do governo a alvos dentro dos EUA, mas tais operações, segundo a diretiva, não poderiam ser conduzidas sem a ordem do presidente, exceto em casos de emergência.
        Devido ao pedido de acesso a dados de clientes da operadora de telefonia Verizon, a administração Obama tem sido questionada sobre suas ações de espionagem e inteligência.
        As informações também vêm à tona dias depois de o "Washington Post" ter divulgado que o departamento de Defesa relatou ter tido seu sistema invadido por hackers chineses.
        Os hackers tiveram acesso a desenhos de armas avançadas de guerra, como o avião de combate F-35.
        A ciberespionagem é um dos temas que seriam abordados por Obama em seu encontro com o presidente chinês, Xi Jinping. Pequim nega que tenha qualquer ligação com os espiões.
        REINO UNIDO
        O "Guardian" ainda revelou documentos que mostram que o governo britânico vem coletando informações, secretamente, de provedores de acesso à internet, em parceria com a americana CIA.
        O programa Prism teria permitido que a agência britânica tivesse acesso a dados e vídeos de usuários das companhias fora do Reino Unido, datadas desde junho de 2010.
        A operação levanta questões éticas quanto ao acesso do governo a dados pessoas de milhares de usuários.
          Órgão no centro de escândalo é o mais misterioso dos EUA
          Não se sabe quantas pessoas a NSA emprega nem quem são os seus alvos
          Gestão Bush autorizou escuta de americanos sem aprovação judicial; sob Obama, cultura de sigilo intenso persiste
          EWEN MACASKILLJULIAN BORGERGLENN GREENWALDDO "GUARDIAN"A existência da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA só foi revelada mais de 20 anos após sua criação, em 1952; sua estrutura e suas atividades continuam em grande medida desconhecidas até hoje. Vem daí seu apelido irônico: No Such Agency ("não existe tal agência").
          De todos os serviços de inteligência dos EUA, a NSA, acusada de monitorar telefonemas e sites, é o mais oculto e se orgulha do menor número de vazamentos.
          Quantas pessoas emprega? Essa informação é confidencial. Quantos são seus alvos? A NSA diz a parlamentares dos EUA que não tem as ferramentas necessárias para fornecer números desse tipo.
          Quando Harry Truman criou a NSA, o objetivo era monitorar comunicações fora do país. A questão que intriga e indigna políticos e organizações de direitos civis desde que o Senado anunciou sua existência, em 1975, é até que ponto sua sede de dados já abarcou os americanos.
          À medida que a tecnologia evoluiu, cresceu a capacidade da agência de interceptar comunicações. Satélites interceptam ligações e e-mails e transmitem a informação a estações receptoras em terra.
          Segundo estimativas, cada uma dessas bases recebe por dia cerca de 1 bilhão de e-mails, telefonemas e outras formas de correspondência. E a agência tem até 20 bases.
          A espionagem doméstica explodiu após 11 de setembro de 2001, quando o presidente George W. Bush autorizou a NSA a submeter americanos a escuta eletrônica sem autorização judicial prévia.
          Em 2009, poucos meses depois da posse de Obama, o Departamento de Justiça reconheceu que a agência foi culpada de "excesso de coleta" de comunicações domésticas, mas alegou que esse excesso tinha sido acidental.
          A NSA cresce tremendamente a cada administração na Casa Branca. Estima-se que empregue hoje 100 mil profissionais, dos quais 30 mil são militares e o restante, prestadores de serviços.
          Sua sede é um edifício enorme de vidro fumê em Forte Meade, nos arborizados subúrbios de Washington, e ela possui complexos grandes na Geórgia e no Texas, além de bases no Japão, no Reino Unido e na Alemanha.
          À medida que o papel da NSA cresce como bola de neve, aumentam as discussões sobre suas operações. Após revelações do "New York Times", a gestão Bush disse que suspendeu a vigilância sem autorização judicial em janeiro de 2007 e retomou a prática de exigir autorizações.
          O programa maciço de vigilância continua sob Obama, dentro e fora dos EUA. E a cultura de sigilo intenso persiste. Os senadores Ron Wyden e Mark Udall procuram há anos saber quantos nos EUA já foram espionados pela NSA, sem resposta.

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