quinta-feira, 4 de julho de 2013

Médicos vão às ruas contra estrangeiros

folha de são paulo
Houve protestos em São Paulo, Rio, Fortaleza, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Goiânia, entre outras cidades
Na capital paulista, manifestação se encontrou com outras, fechando a avenida Paulista nos 2 sentidos
DE SÃO PAULODE BRASÍLIADE SALVADORDe um lado, o branco dos jalecos de médicos. De outro, o vermelho das bandeiras do movimento sem-teto e de partidos de esquerda.
Ambos os grupos protestaram ontem na av. Paulista, na região central, e acabaram se encontrando. No total, segundo a PM, foram 5.000 pessoas nos dois atos, que fecharam a via nos dois sentidos.
Em meio às duas manifestações, outras três surgiram. Uma era de surdos que pediam escolas bilíngues para deficientes. Outra de comerciantes da Feira da Madrugada, no Brás, hoje em reforma.
A terceira, de trabalhadores também da saúde, como psicólogos e fisioterapeutas, foi contra o Ato Médico.
Assim como na Paulista, médicos e alunos de medicina também protestaram em várias cidades do país contra a vinda de médicos estrangeiros para atuar no SUS sem teste para validar seus diplomas.
Eles defendem também melhor remuneração no setor público e realização de uma carreira médica estatal.
Houve atos simultâneos em São Paulo, Rio, Fortaleza, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Goiânia, entre outras cidades. Não houve registro de violência. Segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina), havia previsão de protestos em todos os Estados.
Em Brasília, cerca de 200 médicos protestaram em frente ao Ministério da Saúde. O presidente do conselho, Roberto D'Ávila, afirmou que o movimento "atingiu o objetivo". A entidade não apresentou, no entanto, um balanço total de manifestantes.
"Atingiu o objetivo, que era ir para a rua dizer que defendemos melhores condições de trabalho, mais investimentos na saúde e a sanção do projeto do Ato Médico."
O Ministério da Saúde, que defende a vinda de médicos, diz que a medida é emergencial e que, se eles fizessem a prova de validação do diploma, poderiam atuar onde quisessem --e não só em áreas em que há carência de médicos.
Segundo a pasta, esses médicos passarão por treinamento de três semanas antes de iniciar o trabalho.
MOVIMENTOS SOCIAIS
O outra ato na Paulista, chamado "Da Copa eu abro mão", foi organizada pelo movimento de trabalhadores sem teto com apoio do Movimento Passe Livre e partidos como PSOL e PSTU, entre outras entidades.
O grupo quer estatização do transporte publico, desmilitarização da polícia, jornada para 40 horas semanais "sem redução de salário" e investimento maior em saúde e educação.
    CARREIRA
    Medicina tem maior salário, aponta Ipea
    Estudo do Instituto de Política Econômica Aplicada, ligado ao governo, indica R$ 6.940 de média salarial, a maior entre 48 profissões. "Se você pode dizer que falta algum profissional, é médico", disse Marcelo Neri, presidente do Ipea e interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
      ANÁLISE
      Manifestantes 'de branco' na avenida Paulista têm reivindicações antagônicas
      CLÁUDIA COLLUCCIDE SÃO PAULODe branco, os manifestantes pareciam defender uma causa única. Mas dois protestos distintos, com reivindicações antagônicas, dividiram ontem a mesma av. Paulista.
      De um lado, os médicos repudiavam o projeto do governo federal de trazer médicos do exterior sem a necessidade de revalidar o diploma.
      Do outro, enfermeiros, fisioterapeutas, psicológicos e outros profissionais da saúde protestavam contra a aprovação pelo Senado do Ato Médico, que estabelece uma série de procedimentos que são privativos do médico.
      Na cumbuca da importação dos estrangeiros, as outras categorias não metem a colher.
      Para o médicos, o plano representa risco aos doentes pobres, que serão tratados por profissionais de formação duvidosa, já que não precisarão comprovar a capacitação por meio do exame em vigor.
      A presidente Dilma Rousseff já disse não cederá à pressão. Argumenta que, pelas regras atuais, os estrangeiros aprovados no exame podem trabalhar em todo o país, e não só no SUS e em lugares determinados (periferias e interior), como quer o governo.
      O Ato Médico, bandeira óbvia das associação médicas, desagradou a todas as categorias não-médicas. Para o Cofen (Conselho Federal de Enfermagem), atos praticados cotidianamente pela enfermagem no SUS passarão a ser proibidos, ficando somente nas mãos dos médicos.
      O diagnóstico de doenças como hanseníase, malária, DSTs, tuberculose e a prescrição de remédios para tratá-las são alguns exemplos.
      O CFP (Conselho Federal de Psicologia) também vê prejuízos. Entende que o Ato Médico impede que psicólogos identifiquem sintomas de doenças como depressão.
      As duas questões dependem de aprovação de Dilma. Sobre a importação de médicos, a população está dividida, mostrou pesquisa Datafolha. Quanto ao Ato Médico, parece que ninguém entendeu nada ainda.
      Nessa confusão, está difícil separar o que é corporativismo do que é ameaça real à saúde da pessoas.

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