domingo, 28 de julho de 2013

Mitos das redes sociais;Bebê real - Editorias FolhaSP

folha de são paulo
Mitos das redes sociais
Essas plataformas têm valor comunicativo e profissional que não as isenta de debate crítico acerca de seus aspectos mais controversos
Ninguém duvida da imensa utilidade das redes sociais como ferramenta profissional e recreativa. Organizam um gigantesco contingente de usuários conforme suas afinidades e facilitam toda forma de comunicação interpessoal. Tornam a vida mais prática.
Mais controvertidas são suas dimensões política e midiática.
À primeira vista um enorme fórum de livre debate, as redes são formadas por células que mais reiteram as próprias certezas e hábitos do que os submetem a discussão. Esta, quando ocorre, adquire tons de estéril guerrilha verbal.
Às vezes se formam consensos formidáveis e legítima mobilização, como visto em junho passado, mas que tendem a ser passageiros, além de superficiais. Talvez pela natureza fluida do veículo em que se expressam, falta-lhes organicidade e duração.
Tampouco cabe dúvida de que o jornalismo amador ou militante, impulsionado pela internet, ajuda a suplementar o sistema de informação como um todo. Nem por isso está isento de críticas.
Embora faça a apologia da veracidade, essa forma de jornalismo se mostra ainda mais sujeita a falhas do que as já frequentes no jornalismo profissional. Informações se divulgam sem comprovação, quase sempre embaladas nas estridentes convicções, autênticas mas parciais, de seu emitente.
Os usuários sabem disso, e seu comportamento sugere que as redes são antes uma ampla câmara de ressonância da própria mídia.
Levantamento publicado pela Folha mostrou que mais de 80% do conteúdo informativo tramitado pelo Twitter, por exemplo, relativo às jornadas de junho passado, era produzido pelo jornalismo profissional da imprensa e da TV.
Para os conglomerados empresariais que exploram as redes, política ou jornalismo são facetas secundárias do negócio.
Daí a desfaçatez com que "posts" noticiosos são censurados, como ocorreu duas vezes, somente na semana passada, com inserções desta Folha no Facebook. Daí a docilidade dessas empresas --todas norte-americanas-- em face das exigências paranoides de seu governo à custa da privacidade dos usuários mundo afora.
É honesto reconhecer um aspecto corporativo nestas críticas, pois as redes sociais e os buscadores de notícias se beneficiam comercialmente da audiência gerada por produtos jornalísticos que não criaram nem custearam.
Este é apenas um dos problemas a serem enfrentados pela legislação relativa ao Marco Civil da Internet, que a Câmara dos Deputados deve votar em agosto.
Admitir esse aspecto de interesse próprio, porém, não impede este jornal de contribuir para a crítica que as redes sociais, com todo o seu valor comunicativo e utilitário, merecem.

EDITORIAIS
editoriais@uol.com.br
Bebê real
Depois de muito desgaste nas últimas décadas, os fados voltam a sorrir para a família real britânica.
Ainda se comemoravam os 60 anos da coroação de Elizabeth 2ª quando o nascimento de seu bisneto George Alexander Louis, filho do duque e da duquesa de Cambridge, permitiu que às pompas do jubileu se sucedesse nova fase, agora de derretimentos e fofuras.
A beleza e a discrição de Kate Middleton, ao lado do encabulado mas simpático William, fez com que o Reino Unido reencontrasse o encantamento desaparecido desde que o casamento de Charles e Diana, nos anos 1980, dava seus primeiros sinais de crise.
Passados o abatimento e o prejuízo com a morte de Lady Di, a monarquia tornou-se mais hábil na tarefa de administrar tanta exposição e cultivar imagem mais favorável --o que inclui, por vezes, jogar o peso real contra a imprensa.
Mais que em outro caso de culto às celebridades, a família Windsor tem o tempo a seu favor. O pequeno príncipe de Cambridge é o terceiro na linha de sucessão --e é razoável supor que não venha a assumir o trono nos próximos 50 anos.
A perspectiva de tal continuidade contrasta com um planeta que conhece ritmos acelerados de mudança. Em que, para lembrar a célebre frase de Marx e Engels (que, aliás, citavam Shakespeare), "tudo o que é sólido se dissolve no ar".
Nos tempos de Marx, nada pareceria tão antiquado como um regime monárquico. Ainda hoje a tendência para a igualdade social e para a dessacralização não desmente as expectativas, tantas vezes frustradas, dos revolucionários de 150 anos atrás.
Todavia, a necessidade dos britânicos de manter alguma tradição e identidade nacional mostra-se tão forte quanto o desejo de ter à disposição a crônica de esparrelas vividas pelos mais privilegiados.
Com uma função afetiva que oscila entre a de símbolo patriótico e a de mascote doméstico, a família real atende às pressões contraditórias de um mundo em que fronteiras econômicas se dissolvem e barreiras de classe, raça ou nacionalidade permanecem.
As origens familiares de Kate Middleton decerto se encaixam nesse contexto. Filha de um empresário da internet, conta vários trabalhadores braçais entre seus antepassados não muito distantes.
George, filho da plebeia com o príncipe, completa uma fábula que continua sendo contada só para inglês --e o mundo-- ver.

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário