sábado, 6 de julho de 2013

Ruy Castro

folha de são paulo
Conceitos a discutir
RIO DE JANEIRO - Vinicius de Moraes estaria fazendo 100 anos, e todas as homenagens que lhe têm sido prestadas, na forma de descoberta de "inéditos" (material de imprensa nunca antes reunido em livro), leitura de seus poemas e apresentação de seu cancioneiro, serão poucas. Mas uma efeméride deveria ser também pretexto para discussão, e Vinicius deixou vários conceitos merecedores disso.
Um deles, sua afirmação de que o samba "nasceu lá na Bahia". É um verso do "Samba da Bênção", e que muitos tomam ao pé da letra. A frase é simpática, mas importantes estudiosos do samba, como Carlos Sandroni, Nei Lopes, Roberto M. Moura e outros, nunca a levaram a sério. A inseminação inicial pode ter acontecido na Bahia e, antes ainda, na África, mas sua gestação se deu no Rio, incluindo fusões com outros ritmos e com a música europeia, até o seu glorioso parto, no bairro carioca do Estácio, por volta de 1925.
Outro, sua classificação de São Paulo como o "túmulo do samba". Quando Vinicius disse aquilo, numa boate paulistana em 1956, "samba" ainda era um sinônimo de "música popular brasileira" --o que "MPB" se tornou depois. Não se referia ao gênero em si. Claro que, depois, ele se redimiu da frase.
E, ainda outro, uma certa nostalgia da Ipanema dos anos 1950, expressa na frase dita em 1974: "Ipanema era só felicidade". Significa que a Ipanema pós-1960 deixou de ser feliz? E como ficam os que moram lá até hoje e têm a sua felicidade particular? E o que os moradores originais de Ipanema --um areal quase virgem em 1920-- achariam da Ipanema de Vinicius?
Por fim, sua categórica afirmação, "As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental". Vinicius casou-se nove vezes e nem todas as suas mulheres eram bonitas. Mas, como o poeta as achava lindas, talvez o conceito continue valendo

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