sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Após sugerir prévias, Serra retoma negociação com PPS

folha de são paulo
Tucano interrompe agenda interna e volta a discutir mudança de partido
FHC diz concordar com ex-governador e afirma que deve haver disputa no PSDB caso haja mais de um pré-candidato
DE SÃO PAULO
Um dia depois de defender a realização de prévias no PSDB caso o partido tenha mais de um pré-candidato à Presidência em 2014, o ex-governador de São Paulo José Serra se reuniu com líderes do PPS para tratar de sua possível migração para a sigla.
Serra almoçou com parlamentares do partido no apartamento do deputado Arnaldo Jardim, dirigente do PPS. Segundo Jardim, a sigla não deu um ultimato ao ex-governador, mas ressaltou o desejo de que ele faça a migração.
"Ele não nos deu nenhuma pista adicional do que vai fazer, e a conversa não teve caráter decisório, mas não há dúvidas de que o Serra está em atividade", disse Jardim.
Sem espaço no PSDB, Serra estuda deixar o partido para se candidatar pela terceira vez ao Planalto. Ele, no entanto, tem dado sinais dúbios sobre qual caminho adotará para conseguir incluir seu nome na urna presidencial.
Passou a defender publicamente a realização de prévias na sigla caso haja mais de um nome para a disputa, ao mesmo tempo em que intensificou contatos com dirigentes do PPS e de outras siglas, indicando a costura de uma "terceira via" na oposição.
Ontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse concordar com Serra sobre as prévias. "Se um setor do partido quiser o Serra, se o Serra quiser ser [candidato] e havendo outros... Sempre fui favorável à democracia."
FHC ressaltou, no entanto, que hoje o senador mineiro Aécio Neves, nome favorito dos tucanos para a disputa, teria apoio da "imensa maioria do partido" em eventual confronto contra o paulista.
AGENDA
Numa sinalização de que quer chacoalhar o ambiente político, Serra passou a falar de seus compromissos --até junho, optava pela reclusão.
Em seis dias, esteve em três cidades --fora as conversas em São Paulo. Anteontem, visitou Curitiba, onde almoçou com o governador Beto Richa (PSDB), e depois desembarcou em Brasília. Na semana passada, esteve em Salvador, com o prefeito ACM Neto (DEM), seu aliado na eleição presidencial de 2010.
Em todos os eventos, falou com a imprensa. Ontem, assistiu a um debate de lançamento de um livro de FHC. Na saída, desconversou sobre o encontro com líderes do PPS. Disse não haver "nenhuma novidade" e que a conversa foi uma "troca de ideias" sobre "política brasileira".
Aliados do ex-governador apostam que, apesar da intensa movimentação, Serra não deve antecipar sua decisão de permanecer ou sair do PSDB --ele tem até o início de outubro para isso se quiser se candidatar por outra sigla.

ANÁLISE
Tucano age para constranger Aécio e afastar Kassab do PT
FÁBIO ZAMBELIEDITOR-ADJUNTO DE "PODER"A frenética movimentação de José Serra para se apresentar como candidato à Presidência em 2014, dentro ou fora do PSDB, tem duas consequências imediatas: dissemina interrogações sobre o cacife do rival não declarado Aécio Neves e embaralha a montagem de alianças dos principais postulantes ao Planalto.
Mais que fustigar o senador, a quem serristas atribuem pouco ou nenhum empenho em 2010, quando era ele o presidenciável tucano, o ex-governador paulista passou a acreditar mesmo que a queda de popularidade de Dilma Rousseff e as demandas das manifestações de rua o recolocam no páreo.
Ao cumprir agenda típica de campanha no Sul e no Nordeste, o tucano diz a auxiliares --e reitera em pronunciamentos públicos e artigos-- que os protestos evidenciam o que chama de "vácuo de governança nacional".
Alimenta ainda a ideia de que a oposição não disporia de instrumental imediato para produzir plataforma convincente e nome robusto para enfrentar o PT nas urnas.
Nesse cenário, o questionamento direto à performance gerencial de Dilma tornaria irreversível a reedição do embate de três anos atrás. Ou seja, ele, Serra, seria a opção mais viável no campo oposicionista para, no mínimo, defender os 43 milhões de votos que obteve na ocasião.
Confrontado com os obstáculos que enfrentaria numa nova eleição --sobretudo a rejeição, mais que o dobro de sua intenção de voto no último Datafolha--, Serra faz outro cálculo: estando ele no PSDB ou em outra sigla, como o PPS, a pulverização de candidaturas lhe daria condições até de chegar a eventual segundo turno.
Assim, só restaria uma atitude a esta altura, 14 meses antes do pleito: seduzir potenciais aliados, construir condições para a disputa e avaliar os riscos da empreitada.
Quem conhece de perto a trajetória do tucano sabe que ele não costuma hesitar ante missões ditas impossíveis. Tem sido assim desde 1988, quando topou às pressas candidatura de improvável sucesso para a prefeitura paulistana herdando a vaga reservada a Franco Montoro.
No tucanato, o ex-governador joga com a dúvida que alas do empresariado e do meio intelectual nutrem sobre o desempenho de Aécio fora de seu esteio mineiro.
Para além de sua legenda, retarda, por ora, o ímpeto governista do aliado Gilberto Kassab e seu PSD, que vinha se convertendo em força auxiliar do consórcio PT-PMDB no projeto reeleitoral de Dilma.
Pelo menos nos próximos 40 dias, prazo no qual decidirá se trocará de partido, Serra tentará ser protagonista de um jogo no qual parecia estar precocemente escanteado.

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