sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Editoriais FolhaSP - Charge

folha de são paulo
Pragmatismo paraguaio
Com um olho em seu eleitorado e outro nos países vizinhos, Horacio Cartes, 57, do tradicional Partido Colorado, adotou ontem um discurso pragmático ao tomar posse na Presidência do Paraguai.
Embora sem mencionar o Mercosul, declarou sua expectativa de "fortalecimento dos organismos subregionais, regionais e mundiais" e, diante das presidentes do Brasil e da Argentina, afirmou: "Participamos e participaremos destes organismos para consolidar a democracia, fomentar a integração, a cooperação e a vigência dos direitos humanos".
Omitir a palavra "Mercosul" em contexto tão evidente foi um gesto deliberado de Cartes. Trata-se de mostrar brio ao público interno, ainda sensibilizado pela manobra que suspendeu o Paraguai do bloco, há pouco mais de um ano.
Faz parte do mesmo teatro a recusa paraguaia de retornar ao Mercosul enquanto a liderança do grupo couber à Venezuela --o país, não é demais lembrar, ingressou no bloco à revelia de Assunção.
Não devem passar daí, contudo, as mágoas de Cartes. De acordo com o Centro de Análise e Difusão da Economia Paraguaia, cerca de 30% do PIB do país depende das relações com o Mercosul.
Nenhum país poderia dar-se o luxo de abrir mão desse proveitoso comércio internacional --muito menos o Paraguai, onde metade da população é pobre.
Cartes, megaempresário que não desfruta do mesmo apelo popular do ex-presidente Fernando Lugo --afastado do cargo por um impeachment no ano passado--, sabe que precisa aproveitar as "frutíferas relações com os países vizinhos".
O Brasil, de sua parte, fez dois gestos de reconciliação, com a presença de Dilma Rousseff na posse e o anúncio de que voltará em breve a ter embaixador em Assunção --retirado, numa decisão imprópria, em reação à saída de Lugo.
O Brasil também se beneficia das intenções pragmáticas de Cartes. Afora os cerca de 350 mil brasileiros que vivem e trabalham no Paraguai, as complexas relações fronteiriças entre os países e o imbróglio acerca do preço da energia de Itaipu constituem boas razões para manter laços estreitos.
Como se não fossem motivos suficientes, o passado obscuro de Cartes, sobre quem pairam fortes suspeitas de envolvimento em contrabando de cigarros e em lavagem de dinheiro, também recomenda que a condução do país vizinho seja acompanhada de perto.
    EDITORIAIS
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    Controle mambembe
    Represamento artificial da inflação por meio de populismo tarifário da gestão Dilma desarranja diversos setores da economia
    Problemas enfrentados pela Petrobras e a reiterada reivindicação de reajuste dos combustíveis derivados do petróleo ressaltam os desarranjos causados por controles artificiais de preços.
    Outro sinal de que reajustes vêm sendo reprimidos transparece na inflação média dos preços e tarifas de mercados regulados pelo governo, os "preços monitorados", substancialmente menor que a inflação geral desde o início deste ano.
    Nos últimos 12 meses, o aumento nessa categoria foi de apenas 1,3%-- a menor alta desde o lançamento do Plano Real. Preços livres subiram 7,9% no mesmo período.
    Decerto a baixa inflação dos preços monitorados a partir de fevereiro deve-se em grande parte à queda do valor médio da energia. No entanto, mesmo essa redução de custos, a princípio bem-vinda, deveu-se a uma intervenção desastrada do governo nas concessões vincendas de usinas hidrelétricas.
    Ao fim do episódio, o governo terá de bancar a conta da redução tarifária, provavelmente com emissão de dívida, mais um remendo na política econômica.
    O represamento artificial da inflação por meio de populismo tarifário faz água em vários lugares.
    A redução das tarifas de eletricidade redundará em deficit ou dívida. A pedido do governo federal, São Paulo e Rio de Janeiro adiaram os reajustes do transporte público para junho. Acuado pelos protestos daquele mês, o mesmo governo federal pressionou pela revogação de tais aumentos.
    O quase tabelamento do preço da gasolina prejudica o caixa, a capacidade de investimento e o crédito da Petrobras. A petroleira já mal sabia como dar conta de suas novas responsabilidades de grande investidora do pré-sal.
    Manietada pelo governo, a empresa sofre descrédito no mercado e reivindica outra vez reajustes que revigorem sua saúde financeira. Se não bastassem tais problemas, o preço artificialmente baixo da gasolina prejudica o setor de etanol, além de contribuir para congestionar ruas e poluir o ar.
    Mesmo a ideia de exigir "modicidade tarifária" além da conta nas concessões de rodovias e ferrovias, entre outros projetos de infraestrutura, prejudica e atrasa os leilões que devem repassar tais serviços e obras à iniciativa privada.
    Incapaz de investir por falta de recursos e competência, às voltas com um crescimento medíocre, o governo ainda põe obstáculos no caminho da retomada.
    Anos de má gestão macroeconômica contribuíram sobremaneira para o recurso entre desinformado e desesperado aos remendos dos controles de preços.
    As rachaduras dessa represa mambembe aparecem agora ao mesmo tempo. Os vazamentos fazem ainda mais estragos na credibilidade do governo e no desempenho econômico do país.

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