sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Rumos do petróleo no Brasil


LUIZ GONZAGA BERTELLI
TENDÊNCIAS/DEBATES
Rumos do petróleo no Brasil
O governo insiste em manter os preços defasados para segurar a inflação, como nos anos 1980, prejudicando a Petrobras, que precisa de receita para o pré-sal
Os resultados do terceiro trimestre deste ano não foram bons para a nossa principal empresa do Estado. Houve lucro, de R$ 5,6 bilhões, mas abaixo das espectativas -e apregoa-se ser ele um ajuste contábil.
Alguns economistas atribuem os resultados insatisfatórios à desvalorização do real -a Petrobras possui dividas em moeda americana.
A insistência governamental na manutenção dos preços defasados dos derivados do petróleo, em relação aos internacionais, contribui para o agravamento da situação mencionada. Como nos anos 1980, o propósito é o controle da inflação.
Os mais recentes aumentos do diesel (10,6%) e da gasolina (8%) não compensaram as perdas, cada vez mais significativas, diante do consumo acelerado e exaustão da capacidade do refino.
As indispensáveis novas refinarias de petróleo, prometidas no governo Lula, não saíram, ainda, do papel e, desta forma, o crescimento do consumo deverá ser atendido por mais importações.
A rigor, tão só a refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, a ser instalada em parceria com a Venezuela, encontrar-se-ia em construção. Até os dias atuais, o governo de Hugo Chávez não contribuiu financeiramente com o empreendimento, que já está com um custo cinco vezes maior que o orçado inicialmente.
A produção do petróleo permanece em torno de 1,9 milhão de barris diários, abaixo, portanto, da evidenciada em outubro de 2010 (mais de 2 milhões de barris).
Exigirá o preocupante resultado a reflexão governamental, pois a Petrobras necessita gerar receita financeira suficiente para a exploração no subsolo marinho (pré-sal). Pelo plano de negócios da Petrobras, os investimentos na área do chegarão a US$ 69,6 bilhões.
Ao mesmo tempo que apostam na exploração do petróleo e gás natural, as gigantescas petroleiras adotam programas de incentivo às energias limpas e renováveis. A grande lição da comunidade europeia quanto à política energética americana é que não se dever favorecer apenas uma fonte de energia. Energias limpas e renováveis devem ser complementares às fósseis.
Nesses últimos 37 anos desde a criação do Pro-álcool, foram substituídos mais de 2,2 bilhões de barris de gasolina pelo etanol. As reservas de petróleo do Brasil são estimadas em 15 bilhões de barris.
Segundo o professor Plínio Nastari, da consultoria Datagro, o valor desta gasolina substituída pelo etanol, considerando os juros da dívida externa evitada, alcança US$ 266 bilhões, cerca de 70% das atuais reservas do país, de US$ 373 bilhões.
A população brasileira vai atingir até o final da década 200 milhões de pessoas, enquanto a mundial já alcançou 7 bilhões. A classe média brasileira é composta por mais de 100 milhões de pessoas. À medida que os povos aumentam, também crescem as suas necessidades do petróleo, energia, água e alimentação.
O etanol (álcool) da cana-de-açúcar tem contribuído significativamente para aliviar a situação. O crescimento da oferta tanto do etanol quanto do gás natural e do petróleo é uma necessidade imperativa do país.
No que se refere ao petróleo, a exploração do pré-sal em Santos já é efetiva, com os quatro poços do campo gigante pioneiro, atingindo 100 mil barris diários. Os atuais gargalos do pré-sal poderão ser superados com a interação e concessões à iniciativa privada, dando a esses projetos taxas de retorno e incentivos compatíveis à realidade internacional.
Ademais, a participação acionaria estrangeira na indústria do petróleo é garantia de efetiva transferência de moderna tecnologia e capitais.
Em decorrência, incentivar a concorrência, possibilitando o acesso à indústria de exploração do petróleo, poderá ser o decisivo estímulo a efetivação do petróleo do pré-sal.
A questão, no entanto, não é singela, diante da discriminação existente da participação do empresariado privado, nacional ou do exterior, no setor da infraestrutura pátria, não obstante o inquestionável sucesso das concessões à telefonia e rodovias paulistas.

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