quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Congelar embriões aumenta chances de gestação‏

Técnica usada na fertilização in vitro faz com que taxa de sucesso do procedimento chegue a 50%. Com amostras frescas da fecundação feita em laboratório, índice cai para 38% 

Estado de Minas: 23/01/2013 
Brasília – Como em diferentes áreas da ciência, sempre há interesse em otimizar com segurança os tratamentos de reprodução assistida. Diante de resultados variáveis da estimulação ovariana controlada, os cientistas buscam técnicas que aumentem as chances de gravidez. Pensando nisso, um grupo de médicos da Clínica Origen, de Belo Horizonte, e de cientistas da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, conseguiram comprovar que a fertilização in vitro realizada com embriões congelados apresenta sucesso de gravidez de 50%. Com exemplares frescos, a taxa é menor, de cerca de 38%.
 Médico especialista em reprodução humana e um dos autores do estudo, Matheus Roque conta que, para realizar a pesquisa, foi feita a revisão de estudos que comparam resultados entre tratamentos de fertilização in vitro (FIV) com embriões frescos (quando são transferidos para o útero da paciente no mesmo ciclo e mesmo mês da estimulação ovariana) e de embriões congelados (que foram eletivamente criopreservados).
O estudo analisou 633 ciclos de FIV, sendo que 316 pacientes receberam a transferência de embriões frescos, e 317 os congelados. Participaram do estudo mulheres com boa resposta ao estímulo ovariano e idade média de 35 anos.
O endométrio, membrana que reveste a parede uterina, tem papel nesse processo. Em ciclos naturais, as mulheres apresentam taxas hormonais normais e produzem apenas um óvulo. Quando realizada a estimulação ovariana para a FIV, a quantidade de óvulos é maior (cinco, 10 e até 15), assim como os hormônios. “Esses níveis podem prejudicar o endométrio, piorar a receptividade dos embriões e diminuir as chances de gravidez”, esclarece Roque.
O pesquisador acredita que o sucesso com a técnica de congelamento embrionário se dá porque a qualidade dos embriões é semelhante à dos frescos, mas eles são transferidos em um momento em que os níveis hormonais da paciente já baixaram e estão muito mais próximos dos que ocorrem durante uma gestação natural.
Revolucionária Desenvolvida no início da década de 1990, a técnica mais moderna de FIV revolucionou o tratamento para casais cuja causa de infertilidade é um fator seminal severo ou algum problema do óvulo, de acordo com Marco Melo, especialista em reprodução humana assistida da Clínica Vilara. Estima-se que mais de 5 milhões de crianças nasceram por meio dessa técnica em todo o mundo, segundo levantamento divulgado em julho, durante o Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, em Istambul, na Turquia. Anualmente, em torno de 350 mil crianças são concebidas por meio da FIV – o número equivale a 0,3% dos 130 milhões de nascidos.
Para Adelino Amaral Silva, especialista em reprodução da clínica Genesis, em Brasília, embora os resultados da pesquisa mineira sejam animadores, é preciso fazer algumas ponderações. Ainda são desconhecidos no Brasil, por exemplo, serviços que congelem embriões para transferi-los posteriormente. Por enquanto, a criopreservação é realizada apenas em casos de risco de hiperestímulo ovariano, que pode causar hemorragias com risco de morte para a paciente. “Estudos de meta-análise precisam ser avaliados com o devido cuidado. Várias técnicas que se mostravam promissoras, com o tempo e o aumento de trabalhos e casos, caíram em desuso”, destaca.

Mais saudáveis
Depois de analisar 37 mil gestações realizadas por fertilização in vitro, pesquisadores da Universidade de Aberdeen, na Escócia, constataram que óvulos congelados garantem melhor saúde para a mãe e para a criança. Segundo eles, o procedimento de criopreservação diminui as chances de hemorragias e partos prematuros, além de reduzir o risco de morte nas primeiras semanas após o nascimento. A base para a constatação é de que a estimulação ovariana aumenta a capacidade do útero de aceitar o embrião. 

Estoque em evolução
O número de embriões congelados no Brasil só aumenta. Excetuando-se os descartados, os usados e os enviados à produção científica, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estima que o acumulado chegue a 60 mil. Só em 2011, segundo o último relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões, produzido pela Anvisa, os bancos brasileiros tinham um estoque de 26.283 embriões congelados aptos à utilização em técnicas de reprodução assistida. Nesse período, a agência estima que 1.322 foram usados em pesquisas com células-tronco; 33.800 em fertilizações; e 1.203 descartados pelas clínicas de reprodução humana assistida. O relatório reuniu dados de 77 bancos de tecidos e células – a estimativa é de que existam 120 no país. 

Influência no nascimento 
O tempo entre a fertilização in vitro (FIV) dos embriões e a transferência para o útero da mãe pode influenciar no tamanho dos filhos, segundo um estudo feito na Universidade de Helsinki, na Finlândia. Se o período durar entre cinco e seis dias, é maior a possibilidade de nascimento de crianças com um dos fatores da prematuridade.
A equipe analisou 1.079 bebês não gêmeos que nasceram depois que as mães foram submetidas à FIV. Normalmente, os embriões são transferidos em até três dias depois do procedimento. De uma forma geral, 10% dos bebês nascem pequenos para a idade gestacional, 10% são grandes e 80% têm peso normal.
Dos embriões cultivados por até três dias, cerca de 10% eram pequenos para a idade gestacional e 10% grandes. Entre os que foram transferidos depois, as taxas mudaram para 3% e 19%, respectivamente. Os cientistas acreditam que deve haver diferença entre o desenvolvimento embrionário no laboratório e no útero.
Recém-nascidos prematuros podem ter maiores complicações nos primeiros dias de vida, como comprometimentos respiratórios e neurológicos. Por outro lado, os bebês muito grandes tendem a ser mais pesados na infância e na vida adulta.

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