quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Netanyahu se reelege com vitória apertada

folha de são paulo

Partido recém-fundado por apresentador de TV centrista surpreende nas urnas e fica em 2º lugar, indicam projeções
Se os resultados forem confirmados, premiê terá a opção de formar governo sem influência da direita mais radical
MARCELO NINIODE JERUSALÉMConfirmando as previsões, o partido do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu foi o mais votado nas eleições de ontem e deve formar o novo governo de Israel, segundo pesquisas de boca de urna de três canais de TV.
A grande surpresa dessas projeções é um partido de centro recém-criado, comandado por uma celebridade da TV, que aparece como a segunda força política.
Fundado há menos de um ano pelo jornalista e apresentador Yair Lapid, o partido Yesh Atid (Há Futuro) teria entre 18 e 19 deputados, ficando com uma bancada só menor que o Likud-Beitenu, a aliança de Netanyahu, que teria entre 31 e 33.
Em tese, o triunfo de Lapid significa a opção de um governo mais moderado sob a liderança do premiê, sem a influência dominante dos partidos de extrema direita.
Também indica um Parlamento mais polarizado, com a redução da vantagem do bloco de direita, aliado natural de Netanyahu.
QUASE EMPATE
No atual Legislativo a direita tem 65 deputados contra 55 da centro-esquerda. As primeiras projeções da eleição de ontem mostram quase empate, com pequena diferença a favor da direita.
Em seu primeiro discurso após a divulgação das projeções que lhe davam vitória, ontem, Netanyahu disse que seu interesse é formar "o governo mais amplo possível", abrindo as portas para os partidos de centro.
Ao enumerar os princípios da coalizão, porém, o premiê mencionou em primeiro lugar a preocupação com temas de segurança, "incluindo a ameaça iraniana".
O surpreendente desempenho do Yesh Atid embaralha as cartas para a formação do próximo governo e torna difícil prever qual será sua direção nos principais temas.
As projeções sugerem que o premiê Netanyahu terá a possibilidade numérica de construir um gabinete só com partidos de direita.
Isso significaria uma posição mais dura em assuntos de segurança, como a negociação com os palestinos e a ameaça de ataque ao Irã.
Numa aliança de direita, um dos parceiros mais poderosos seria o partido ultranacionalista Bait Yehudi (Lar Judeu), do magnata do software Naftali Bennett, um veemente opositor de um Estado palestino.
Uma coalizão dominada pela direita não agrada a Netanyahu, segundo avaliação de analistas, porque se sustentaria em uma maioria frágil, além de proporcionar um aumento da pressão internacional contra Israel.
O desafio do premiê será conciliar a agenda de Yair Lapid, centrada em temas econômicos e no fim da isenção do serviço militar para judeus ultraortodoxos, com a de partidos religiosos.
Em sua campanha, Lapid prometeu que só entrará no governo caso ele se comprometa a avançar na negociação com os palestinos.
TEMAS DOMÉSTICOS
O possível êxito do Yesh Atid indica um movimento da opinião pública na direção de assuntos domésticos.
Lapid enfatiza temas socioeconômicos, como o encolhimento da classe média e os privilégios dos religiosos, deixando de lado os de segurança, geralmente centrais.
"As pessoas estão fartas de políticos profissionais, querem soluções para problemas do dia a dia", disse Danny Tsafrir, 45, que é dono de uma carpintaria na cidade de Modiin, entre Jerusalém e Tel Aviv, e eleitor de Lapid.


    ISSO É BINYAMIN NETANYAHU
    Nascimento
    21.out.1949, em Tel Aviv
    Cônjuge
    Casado com Sara Ben Artzi desde 1991; divorciado de Fleur Cates
    Educação
    Instituto de Tecnologia de Massachusetts
    Filiação
    Líder do partido de direita Likud
    Mandatos
    Foi premiê entre 1996 e 1999 e, em seguida, entre 2009 e 2013
    Legado
    Visto como linha-dura na negociação com palestinos, sem concessões; constante ameaça contra o Irã, devido ao programa nuclear persa

      FRASE
      "O papado estava enfim seguro financeiramente. Jamais voltaria a ser pobre"


      FRASE
      "Ele evocou a Constituição e a Declaração de Independência, mas o fez para legitimar sua agenda, partidária e ideológica"


      FRASES
      "O povo se ressente da interferência do que considera normas desnecessárias e se pergunta para que serve tudo isso"
      DAVID CAMERON
      premiê, sobre a União Europeia, em discurso que deve ser lido hoje
      "É um premiê fraco, conduzido pelo seu partido e não pelo interesse do país"
      ED MILIBAND
      líder da oposição trabalhista

      ANÁLISE
      Região em transformação vai testar o novo governo
      DANIEL DOUEKESPECIAL PARA A FOLHAEm outubro de 2012, a dissolução da coalizão governamental e a convocação de eleições antecipadas em Israel pareciam ter sido planejadas pelo primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, como estratégia para a consolidação de seu projeto de poder.
      Na época, Netanyahu desfrutava de índices elevadíssimos de aprovação e uniu seu partido ao do ultranacionalista Avigdor Lieberman.
      O tiro, porém, saiu pela culatra. Ao apostar na "direitização" do país, ele parece ter dado fôlego a forças mais radicais que, agora, ameaçam sua hegemonia. Partidos de centro e esquerda, por sua vez, saem revigorados.
      Caberia perguntar em que medida isso afeta a relação de Israel com os palestinos e com o Irã. No que se refere ao conflito com os palestinos, Netanyahu sustenta a tese de que, no momento, Israel não tem interlocutor, e o congelamento dos acordos de paz é responsabilidade palestina.
      Já em relação ao Irã, o premiê defende a intensificação das campanhas por sanções econômicas, sem descartar uma ação militar para frear seu programa nuclear.
      Se esses princípios serão seguidos, só saberemos após a formação da nova coalizão. Isso porque, no sistema parlamentarista e multipartidário israelense, as eleições são apenas o primeiro passo para a constituição do governo.
      Se, por um lado, os arranjos necessários para acomodação dos interesses dos diferentes partidos irão definir de forma mais clara os rumos da política israelense, por outro, a campanha eleitoral deixa pouca esperança de avanço nas negociações de paz.
      Céticos no que se refere a uma possibilidade de solução, partidos cotados para integrar o próximo governo parecem mais comprometidos em administrar conflitos do que em resolvê-los.
      Porém, num Oriente Médio em rápida transformação e diante de um cenário em que pressões externas pelo reconhecimento da Palestina tendem a crescer, a habilidade do novo governo em lidar com eles será posta à prova.

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