quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Editoriais FolhaSP

FOLHA DE SÃO PAULO

Cacique Lula
Depois de presidir reunião com secretários de Haddad, o ex-presidente segue na trilha do personalismo e anuncia ofensiva na esfera federal
Nas palavras do ex-ministro Paulo Vannuchi, atual membro da diretoria do Instituto Lula, o ex-presidente, a partir do próximo mês, irá "jogar toda a sua energia" no esforço de consolidar as alianças entre as forças que apoiam o governo Dilma Rousseff. A tarefa do líder petista seria identificar conflitos e procurar superá-los.
Lula não precisará de muito esfoço para cumprir a primeira parte da missão. Os conflitos já são, na maior parte, conhecidos. Os aliados, em especial os peemedebistas, queixam-se da rivalidade do PT e do tratamento dispensado pela presidente Dilma a suas demandas fisiológicas. O Planalto se mostraria mais rude e menos sensível do que desejariam.
Além disso, causam preocupação as ambições do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à Presidência da República. A candidatura do líder do PSB já em 2014 sem dúvida enfraqueceria a campanha pela reeleição de Dilma.
Para consolidar essas fraturas, a famosa lábia do ex-presidente não será suficiente. Ele terá de oferecer cargos, vantagens e até acenar com a longínqua possibilidade de apoiar um candidato não petista na disputa de 2018.
Nesse contexto, não é demais lembrar que Lula não ocupa cargo no governo. Embora nada o proíba de participar de articulações e defender teses e propostas, seria mais adequado que agisse com discrição e desse preferência aos caminhos institucionais, como o debate em âmbito partidário.
Em se tratando de PT, porém, não existe âmbito partidário. Ou, se existe, é integralmente preenchido pela figura de Lula. "Le parti c'est moi" (o partido sou eu) poderia ser seu lema, na pior tradição personalista da política brasileira. Na contramão da mudança de hábitos que o petismo outrora defendia, o ex-presidente comporta-se como um perfeito cacique.
O êxito na eleição da presidente Dilma e, a seguir, do prefeito Fernando Haddad, em São Paulo, parece ter reacendido em Lula a fagulha da onipotência. O revés no julgamento do mensalão, por sua vez, parece ter impulsionado a decisão de sugerir a todos que ainda está no controle.
Foi o que fez recentemente, numa cena constrangedora, ao presidir uma reunião de Haddad com secretários. Sem pudor em tratar seu "poste" como "poste", assumiu o comando da mesa, apontou diretrizes e deu orientações ao afilhado e seus colaboradores.
Vai-se assistindo ao mesmo na esfera federal, onde agora se anuncia nova investida. Em ambas as circunstâncias, a interferência cria ruídos indesejáveis e apequena a figura dos governantes. A quem cabe a última palavra? Quem o primeiro escalão deve prestigiar em caso de divergências?
A pergunta pareceria absurda em qualquer democracia séria, mas é cabível nesse enredo em que o ex-presidente mostra-se tentado a continuar governando sem ter sido eleito. É um desserviço que Lula presta ao permitir que essas interrogações fiquem no ar.

    Museu do vazio
    Inaugurada há um ano, a nova sede do MAC (Museu de Arte Contemporânea) da USP, no antigo prédio do Detran no parque Ibirapuera, permanece mais vazia do que a tristemente célebre 28ª Bienal de São Paulo, em 2008.
    Naquela época, a crise financeira da Fundação Bienal obrigou seu curador a deixar inteiramente deserto todo um andar do pavilhão projetado por Oscar Niemeyer, pois não havia obras para preenchê-lo.
    Agora, variados entraves administrativos impedem que os oito andares do MAC possam receber o rico acervo do museu. São quase 10 mil obras, entre trabalhos de Picasso, Matisse, Miró, Kandinsky, Modigliani, Calder, Braque, De Chirico, Henry Moore, Tarsila, Di Cavalcanti, Volpi e muitos outros.
    Hoje, só o térreo está aberto ao público. Os demais pisos não podem ser usados porque a Secretaria da Cultura do Estado ainda não conseguiu adquirir o sistema de segurança do prédio. Assim, não há como transferir o acervo.
    Além disso, faltam serviços como estacionamento, restaurante e loja. Com apenas 18 obras expostas e tantos problemas, é natural que o MAC tenha recebido somente 21 mil visitantes em 2012 -um décimo do público do vizinho MAM.
    O edifício do MAC não estará pronto em seu 50º aniversário, no próximo dia 8 de abril. É pena, porque a instituição finalmente encontrou um espaço adequado para reunir sua coleção numa localização apropriada.
    Com efeito, a sede do MAC no campus da USP não vinha cumprindo a contento sua função cultural. Lá, a maior parte de sua coleção não saía da reserva técnica.
    O problema nasceu com o próprio museu, criado em 1963 para abrigar a doação do acervo do antigo MAM (1.236 obras) e a coleção de Francisco Matarazzo Sobrinho (438 obras). Como observa o diretor do MAC, Tadeu Chiarelli, a universidade "adaptou-se como pôde a esse patrimônio", mas sem nunca ter criado um espaço digno dele.
    A situação só mudou na gestão do secretário estadual da Cultura, João Sayad. Em 2007, ele ofereceu o prédio para que a USP ali instalasse o museu. Desde então já se passaram cinco anos. Não faz sentido deixar que esse acervo artístico fique escondido por mais tempo.

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