sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Moisés Naím

folha de são paulo

Viva as sanções!
Ainda não está claro se as medidas tomadas até agora são suficientes para evitar um conflito com o Irã
Nas relações internacionais, as sanções gozam de má fama merecida. Os países mais poderosos costumam usá-las para forçar mudanças de políticas -ou até de líderes- em outros países. Quase nunca o conseguem.
Criticar o uso de sanções internacionais, declarar que são injustas e inúteis e denunciá-las como vício colonialista é o mais fácil. Mas e se houvesse um novo tipo de sanções mais eficazes, mais focadas e de impacto sobre os dirigentes do país cuja conduta se quer mudar?
No Irã, não seria preferível deixar que as sanções obrigassem o governo a restringir seu programa nuclear a finalidades pacíficas, em vez de deslanchar uma guerra com consequências nefastas? Claro que sim.
A boa notícia é que avanços têm sido feitos para criar esse tipo de sanção. A má notícia é que não está claro que sejam suficientes para evitar um conflito armado com o Irã.
As sanções impostas ao Irã são as mais economicamente devastadoras da história. Sua eficácia se deve em parte ao uso de medidas financeiras sem precedentes. Mas também ao fato de que nunca antes tantos países participaram tão ativamente da imposição de sanções.
Essas medidas abrangem desde o embargo da exportação de petróleo até a exclusão dos bancos iranianos do Swift, o sistema que permite as transferências de recursos entre bancos, assim como toda espécie de obstáculos ao transporte de cargas e passageiros, às importações e exportações e aos investimentos.
O impacto vem sendo enorme. De acordo com a revista "Iran Economics", a renda per capita vai cair quase um terço em 2013.
Tudo isso será o bastante para levar o governo iraniano à mesa de negociações? Por enquanto, parece que não. "Não sou diplomata -sou um revolucionário que fala franca e diretamente... a nação iraniana não vai negociar sob pressão", acaba de declarar o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. E acrescentou: "As negociações diretas não resolvem nenhum problema".
Restam quatro possibilidades, então. A primeira é que o líder supremo não esteja plenamente a par dos danos que as sanções estão causando a seu país e as duras consequências que encerram para seu povo. A segunda é que ele tenha conhecimento disso e não se importe.
A terceira é que as sanções ainda não tenham alcançado seu impacto pleno e que em breve Khamenei não possa mais ignorá-las. A quarta possibilidade, a mais horrível, é que o líder supremo tenha se convencido de que a guerra convém.
Um bombardeio de suas instalações nucleares por parte de Israel ou dos EUA mobilizaria a população em apoio ao governo e valeria a este enorme solidariedade no mundo islâmico. Para conseguir isso, a única coisa que o líder supremo precisa fazer é seguir adiante com seu programa nuclear e aproximar-se cada vez mais da fabricação de bombas atômicas. Tomara que as sanções funcionem.

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