sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Marina usa estratégia de 2010 para coletar assinaturas para sigla

folha de são paulo

Ex-senadora vai reativar 'Casas de Marina' para tentar viabilizar criação de seu partido
DE SÃO PAULODE BRASÍLIAA ex-senadora Marina Silva vai reeditar estratégia que usou na campanha à Presidência em 2010 para tentar acelerar a coleta das 500 mil assinaturas necessárias à fundação de seu novo partido, provisoriamente chamado de "Rede".
Ela vai revisitar o conceito que deu origem às "Casas de Marina", comitês domiciliares usados para divulgar sua candidatura presidencial e buscar voluntários que queiram fazer de seus lares e estabelecimentos centros de coleta de assinaturas de apoio ao novo partido.
As "casas pró-Rede" também servirão à campanha de marketing da nova legenda, coordenada pelo cineasta Fernando Meirelles.
Marina Silva e seus aliados correm contra o tempo para tirar a nova legenda do campo das ideias. A cúpula da nova sigla trabalha com a estimativa otimista de levantar as 500 mil assinaturas necessárias em até três meses.
Só com esse número de apoiamentos é possível dar início ao registro na Justiça Eleitoral. Para concorrer em 2014, Marina precisa finalizar essa burocracia até setembro.
"Esperamos uma adesão voluntária muito grande", disse o deputado Walter Feldman (SP), colaborador da Rede, hoje no PSDB. "A ideia é descentralizar ao máximo a coleta de assinaturas", completou Basileu Margarido, ligado à ex-senadora.
Haverá um comitê oficial de apoiamento em cada Estado. A Rede vai, ainda, reutilizar estratégia que serviu ao PSOL, em 2004, e instalar quiosques para coleta de assinaturas em universidades.
O carro-chefe da mobilização, no entanto, será a internet, que irá disponibilizar fichas de apoiamento on-line e cadastros para "multiplicadores"- pessoas dispostas a coletar, voluntariamente, dezenas de assinaturas.
A Rede promete uma pauta ética. Seu estatuto prevê que quem tiver exercido mandato parlamentar por mais de 16 anos não poderá ser candidato a novo cargo.
SUPLICY
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) negou ontem que esteja de saída de seu partido para se filiar à legenda que Marina pretende criar.
Da tribuna do Senado, Suplicy disse ter conversado com o presidente do PT, Rui Falcão, para confirmar que vai permanecer na sigla.
"Vejo meu ingresso no PT como uma decisão de vida. Ademais, eu também defendo a fidelidade partidária até o final de meu mandato."
Suplicy disse ter comunicado também o ex-presidente Lula e o prefeito Fernando Haddad (SP) de sua decisão.
Ele conversou com Marina por telefone na semana passada, quando disse ter recebido o convite para ir a uma reunião em que ela deve anunciar a criação da sigla.

    ANÁLISE
    Projeto da ex-senadora enfrentará obstáculos maiores do que em 2010
    FERNANDO RODRIGUESDE BRASÍLIAO projeto da ex-senadora Marina Silva de disputar a Presidência da República em 2014 contém obstáculos extras na comparação com o cenário que enfrentou em 2010.
    Naquele ano, ficou em terceiro na corrida ao Planalto, com cerca de 20% dos votos. Perdeu, mas foi a grande novidade da disputa. Galvanizou o apoio de brasileiros desencantados com políticos tradicionais.
    Na pesquisa Datafolha de dezembro último, Marina aparece com potencial de voto para presidente que sugere que ela manteve o seu patrimônio de dois anos atrás.
    São dados que devem ser analisados com ponderação. Quando não há campanha eleitoral aberta, é natural candidatos de outras disputas se beneficiarem da memória do eleitor, que, na dúvida, tende a declarar intenção de votar em quem já conhece.
    Mas nada garante que Marina será outra vez depositária do voto de protesto contra os políticos tradicionais. Afinal, ela já não será uma neófita em corridas presidenciais. Em 2010, a ex-senadora pelo PT do Acre era uma ex-ministra que havia saído do governo por não concordar com a política ambiental de Lula. Com o tempo, esse predicado pode não eletrizar eleitores como antes.
    Outra dificuldade é não ter um partido pronto. Ela teve o PV em 2010. Sigla modesta, mas que oferecia o básico: uma pequena bancada de deputados federais para garantir tempo de propaganda eleitoral na TV. Agora, será necessário convencer deputados a embarcarem no projeto.
    O novo partido decidiu que não receberá doações de empresas "sujas", como as fabricantes de bebidas alcoólicas. É uma grande jogada de marketing, mas como serão repostos os recursos que brotavam dessas fontes? Não se sabe. A doação de pequenas quantias de pessoas físicas ainda é uma meta e não uma certeza. Sem dinheiro não se faz campanha no Brasil.
    A todas essas dúvidas os aliados de Marina tendem a responder com uma palavra: internet. Pode dar certo, embora até agora a militância na web não tenha amadurecido. Neste mês, mais de 1,3 milhão de pessoas aderiu a uma petição digital contra Renan Calheiros (PMDB-AL), mas no momento em que a manifestação de rua foi convocada, só 200 apareceram.
    Por fim, adversários de Marina têm estudado a natureza de seus eleitores. Haverá contraofensiva. O voto dos evangélicos, por exemplo, será muito mais cortejado. Ou seja, o projeto da ex-senadora não terá caminho suave.

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