sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Programas de treinamento para ajudar a combater demência na velhice


Programas de treinamento da mente desenvolvem reservas cognitivas para ajudar a combater demência na velhice

William Porter
  • Daniel Skovronsky via The New York Times


    Imagens de um cérebro saudável, acima, e de um paciente com Alzheimer, abaixo, com placas em vermelho Imagens de um cérebro saudável, acima, e de um paciente com Alzheimer, abaixo, com placas em vermelho




Fala-se muito do desejo de viver vidas mais longas, mas a longevidade tem suas desvantagens. A principal entre elas é o simples fato de que à medida que envelhecemos – particularmente no crescente grupo entrando na faixa dos 70 anos e além – a acuidade mental começa a cair, mesmo que apenas de modo gradual.


E à medida que as décadas se somam, aumentam os riscos da pessoa enfrentar alguma forma de demência, seja o mal de Alzheimer ou a qualidade mais nebulosa de não ser mais tão perspicaz quanto antes.


Mas há estudos indicando que exercício mental, basicamente uma malhação para o cérebro, pode ajudar o corpo a resistir aos efeitos da demência, ao desenvolver uma reserva de função cerebral útil. Resumindo, se você puder aumentar sua capacidade cognitiva em 20%, você terá mais para sacar caso a demência se estabeleça.


É semelhante ao levantamento de peso e outros exercícios de suporte de carga para desenvolvimento de massa óssea: até mesmo se ocorrer uma osteoporose, você estaria em melhor forma do que se não tivesse feito nada.
"A ideia é que quanto mais você tiver ao entrar no processo de envelhecimento –como memória e capacidade cognitiva– mesmo se você tiver uma predisposição genética para a demência, ela demorará mais para se estabelecer", diz Christina Sevilla, que dirige os centros Learning Rx em Denver e Centennial com seu marido, Michael.


Christina tem experiência em terapia ocupacional que lida com questões cognitivas. A formação de Michael é em desenvolvimento de software, mais recentemente em inteligência artificial.


O Learning Rx é um grupo de centros de "treinamento do cérebro", franquias com aproximadamente 80 unidades por todo o mundo.
As sessões, geralmente realizadas três a quatro vezes por semana, são conduzidas por um treinador. Mais de 100 exercícios estão disponíveis, e cada exercício pode ser ajustado por meio de dezenas de modificações, incluindo a velocidade com que o exercício é conduzido. O casal Sevilla enfatiza que a criação dessa "reserva cognitiva" tem que ocorrer antecipadamente, antes do início da demência. É uma espécie de medicina preventiva que começa quando a pessoa está na faixa dos 40 e 50 anos. "Nós não alegamos curar um problema médico", diz Christina. "Mas enquanto você estiver engajado ativamente na vida, as melhorias se manterão."


Shane Sullivan passou pelo programa. O morador de Boulder de 47 anos diz que tinha problemas de memória e processamento. "Nós testamos antes e depois, e houve uma melhora significativa", diz Sullivan."Então nós testamos um ano depois, e a mudança ainda era significativa. É algo empolgante para mim."


Os estudos parecem corroborar isso. Um artigo na edição de setembro de 2010 da revista "Nature" notava que o "treinamento do cérebro" pode aumentar a reserva cognitiva, que permite que o cérebro realize tarefas mesmo se as rotas entre as células cerebrais estiverem danificadas. Um estudo envolvendo 29 mil pessoas revelou que aquelas com maiores reservas cognitivas apresentavam risco 46% menor de desenvolvimento de demência do que aquelas com reservas menores.
O programa Learning Rx não é barato. Ele custa a partir de US$ 3.900 e a avaliação cognitiva inicial custa US$ 249. Não são usados computadores nas sessões. O treinamento é individual, envolvendo apenas o estudante e o treinador, usando coisas simples como planilhas e cartões.


Em uma tarde recente, a treinadora do Learning Rx, Gina Milano, realizou uma bateria rápida de exercícios de demonstração para um visitante. O primeiro: uma lista de oito palavras associadas a uma cor, mas com cada palavra impressa em outra cor. Sua tarefa era passar pela lista e dizer a cor em que a palavra estava impressa. Soa fácil, mas é semelhante a dar tapinha na cabeça ao mesmo tempo esfregar a barriga. Para complicar a tarefa, no meio do exercício Milano diz uma letra; ao final do exercício, você precisa dizer duas palavras que começam com a letra. Outro exercício envolve dispor cartas em três carreiras. Cada fileira apresenta uma mistura de numerais de um único dígito e espaços em branco. Milano mostra a carta para você por um segundo, então a esconde. Seu trabalho é recitar o que viu – por exemplo: Espaço, 4, 5. 7, espaço, espaço. 3, espaço, 9. Ela então aumenta a dificuldade ao pedir que você recite os números, mas acrescentando "6" a cada um. Tudo isso, e você precisa responder na batida de um metrônomo. Foi difícil.
Sullivan lembra de ter ficado exausto após suas primeiras sessões. "Ao término das sessões de 75 minutos, eu saia e ficava sentando no carro por algum tempo, antes de voltar para casa", ele diz. "Era quase como se precisasse descansar. Eles sabem como forçar você."


Tradutor: George El Khouri Andolfato 

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