domingo, 10 de fevereiro de 2013

País tem pressa para reerguer base antártica

folha de são paulo

Limpeza dos escombros da estação destruída por incêndio já dá lugar à montagem de módulos temporários
Presença brasileira no continente gelado é estratégica para decisão sobre futura exploração de riquezas naturais
GIULIANA MIRANDAENVIADA ESPECIAL À ANTÁRTIDAEm meio à neve e ao frio, um canteiro de obras funciona a todo vapor. Operários passam para lá e para cá conduzindo tratores, descarregando material e construindo estruturas em uma área que, há um ano, foi complemente destruída por um incêndio no meio da noite.
A reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz virou questão de honra para o governo brasileiro e para a Marinha. A limpeza da área afetada foi feita em tempo recorde e o projeto da nova estação será feito por meio de um concurso milionário.
Além de garantir a continuidade do trabalho científico realizado na região, a pressa tem um significado mais profundo: a exploração da Antártida é uma questão estratégica para o Brasil.
Apesar de a região conter grande quantidade de minerais raros e de alto valor comercial, além de petróleo, sua exploração comercial está embargada até 2048, quando a questão volta a ser debatida e decidida pelos países que fazem pesquisa científica no continente.
PLANOS
O projeto da nova base brasileira será escolhido por meio de um concurso, em parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil. O vencedor levará R$ 100 mil no ato e mais R$ 5,3 milhões na entrega do projeto executivo.
Não à toa, o concurso já está movimentando escritórios de arquitetura de todo o país e alguns do exterior.
"Felizmente, o governo federal não tem faltado com recursos", comemora o contra-almirante Marco Silva Rodrigues, secretário da Cirm (Comissão Interministerial dos Recursos do Mar).
Pouco após o incêndio, o governo federal destinou R$ 40 milhões, em caráter emergencial, para a remoção dos destroços e a preparação adequada do local.
E, antes que a nova estação fique pronta, o Brasil terá uma temporária, constituída por módulos pré-fabricados, comprados por R$ 14 milhões de uma empresa canadense especializada em instalações do tipo.
"É quase como 'plug and play'. Os módulos chegam já com tudo pronto, a mobília escolhida, os fios passados por dento das paredes. O mais trabalhoso é interligar tudo", explica Ricardo Soares Ferreira, engenheiro naval e um dos responsáveis por finalizar a instalação dos módulos e torná-los habitáveis.
A miniestação poderá receber cerca de 65 pessoas, mais ou menos a capacidade da antiga base brasileira.
Já para a base definitiva, a Marinha tem planos mais ambiciosos. A nova estação será maior que a anterior, além de ter instalações científicas mais modernas, incluindo dois laboratórios de biologia molecular.
O custo deve ficar em R$ 100 milhões, mas o martelo só será batido após o projeto executivo ficar pronto.

    'Com 10°C, todos já estão de camiseta'
    DA ENVIADA À ANTÁRTIDAConvencer alguém a participar de uma construção em um local gelado, isolado e onde o vento pode superar 170 km por hora pode parecer difícil. Mas não faltam interessados.
    Hoje, cerca de 200 pessoas trabalham para colocar a Estação Antártica Comandante Ferraz novamente em pé. Cento e vinte em terra e, os demais, em dois navios deslocados para a região para auxiliar nos trabalhos.
    "Por mim, poderia passar mais tempo aqui", diz o comandante Alessandro Domingos Gurski, que chegou ao continente gelado em setembro e só deve voltar para o Brasil no fim de novembro.
    Ele faz parte do grupo-base da estação, composto por 15 militares que são a ocupação fixa do complexo, do verão ao inverno.
    Gaúcho, Gurski diz que já se acostumou ao frio. "Com 10ºC, já está todo mundo de camiseta."
    Nem tão entusiasmada com o clima, a comandante Carla da Costa, engenheira naval, chegou à Antártida na última sexta.
    "Trabalhar aqui é um prêmio", diz ela, que vai ajudar a preparar os módulos emergenciais.

      FOCO
      Resgate de barco naufragado em 2012 entra na reta final
      DA ENVIADA À ANTÁRTIDAO barco brasileiro Mar sem Fim, que naufragou na Antártida em abril de 2012, foi finalmente retirado do fundo do mar e içado até a margem.
      Desde o incidente, havia o temor de que os 8.000 litros de combustível pudessem vazar e causar danos ambientais -o que não aconteceu, segundo a Marinha.
      O trabalho entra agora na reta final, que é o reboque do barco até a cidade chilena de Punta Arenas, onde será vendido como sucata.
      A travessia dos mais de mil quilômetros, no entanto, traz um grande desafio: cruzar as temidas águas da passagem de Drake, uma região de mar agitado na qual as ondas passam de dez metros de altura.
      Essa etapa depende das condições climáticas na região, que não andam favoráveis. Fortes ventos têm atrapalhado os planos de militares e cientistas, impedindo inclusive o pouso de aviões de carga brasileiros.
      A embarcação de 30 metros de comprimento pertence ao jornalista João Lara Mesquita, ex-diretor da Rádio Eldorado, do Grupo Estado.
      O acidente aconteceu quando Mesquita foi ao continente gelado gravar imagens para um documentário.
      Ainda no início da jornada o barco naufragou em frente à base chilena Eduardo Frei, a 50 km da estação brasileira destruída por um incêndio em fevereiro de 2012.
      Agora, Mesquita grava um documentário sobre o resgate da embarcação. O cinegrafista Alessandro Taques disse que houve uma grande cooperação para ajudar no resgate. "Os russos cederam um barco, a Marinha está dando um grande apoio."

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