domingo, 10 de fevereiro de 2013

Trajetória de Tom Jobim é revista com olhar afetivo

folha de são paulo

Documentário tem depoimentos da irmã e das mulheres do músico carioca
Em segundo filme sobre o compositor, Nelson Pereira dos Santos mistura narrativa com imagens de natureza
LUCAS NOBILEDE SÃO PAULOUm olhar afetivo sobre as criações de Tom Jobim (1927-1994). Esta foi a opção escolhida pelo diretor Nelson Pereira dos Santos, 84, para "A Luz do Tom", seu segundo filme sobre o compositor.
No primeiro, "A Música Segundo Tom Jobim" (2012), visto por mais de 70 mil pessoas no cinema, ele havia feito um grande compêndio audiovisual de interpretações de Jobim, um mega clipe.
Neste, com roteiro escrito por ele e pela cantora Miúcha (que gravou com Jobim), o cineasta optou pela narrativa.
A história é contada por três mulheres importantes na vida do músico. Começa com a irmã Helena e depois segue com Thereza Hermanny e Ana Lontra Jobim, primeira e última companheiras do pianista, respectivamente.
No filme, os depoimentos são intercalados por cenas de natureza, da qual Jobim era notório defensor. As imagens foram captadas no Jardim Botânico, no Rio, no jardim do Brejal, na região serrana do Estado, e em Florianópolis.
"A opção por Florianópolis foi para encontrar uma paisagem litorânea sem prédios, que lembrasse a dos tempos da juventude do Tom", diz Nelson.
"Agora, deixa descansar um pouco o Jobim. Ainda falta uma ficção sobre ele, alguém poderia fazer", diz o diretor, que foi apresentado ao músico nos anos 1970 pelo cineasta Cacá Diegues.
O "descanso" dado a Jobim tem justificativa. No momento, Nelson começa a trabalhar em um longa de ficção sobre D. Pedro 2º, ainda em fase de captação de recursos.

    CRÍTICA / DOCUMENTÁRIO
    Filme contempla suavidade e harmonia típicas de Jobim
    DO CRÍTICO DA FOLHAEm "A Luz do Tom" é como se a câmera não mostrasse a paisagem, mas procurasse tocá-la suavemente. É a maneira que Nelson Pereira dos Santos encontrou para estar em acordo com a música, a personalidade e as paixões de Antonio Carlos Jobim.
    Na verdade, a paixão primeira, parece ser pelo Rio. Trata-se de um Rio bem específico: não a cidade e seus problemas, mas a natureza: mar, árvores... E o voo do urubu.
    No filme, a natureza e as mulheres compõem a biografia, ou antes: a sequência de sentimentos e ideias que acompanharam Jobim.
    Somos aqui chamados a conviver não propriamente com o compositor, mas com aquele que desafia sua segunda mulher, Ana, a fotografar o voo de um urubu. Boa parte da maneira como Jobim via o mundo está nesse desafio: dessa ave em que costumamos enxergar apenas o mau agouro, o que Jobim retinha era a beleza elegante e suave do voo.
    Como a suavidade era a marca de Jobim, esse também é o tom das narradoras. Quem leva quem? É de suas palavras que passamos às músicas? Ou é das imagens que passamos às palavras? A imagem não acompanha a música, assim como as mulheres não acompanham o homem: tudo tende à contemplação e à harmonia.
    Que essa harmonia seja uma construção, não importa: essa é a fatia de mundo que tomou para si, que amou e sobre a qual construiu também sua existência. Aqui o grande mestre do cinema foi fiel ao gênio de Jobim: nunca estamos a 40 graus. Um encontro admirável.

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